Após quase dois anos de pandemia, muitas dúvidas ainda prevalecem sobre o rumo das viagens no mundo todo e quais são as tendências do turismo para 2022. Diante de muitas especulações, algumas concretizadas e outras não, uma coisa é certa: estamos ávidos por viajar. E, ainda que, com vários cuidados e restrições, muitos de nós já estamos fazendo isso. De acordo com o relatório da Amadeus Rebuild Travel Survey, que entrevistou quase 10 mil pessoas na França, Alemanha, Índia, Rússia, Singapura, Espanha, Emirados Árabes, Reino Unido e Estados Unidos, 75% dos viajantes estão ansiosos para viajar e esperam fazê-lo em 2022. A metade deles, inclusive, está pronta para viajar a negócios.
Outras pesquisas confirmam as intenções de viagem dos turistas. A grande questão é se o mundo está preparado para retornar ao que era antes da pandemia. Muitos especialistas acreditam que não, e que o turismo só pode prosperar se seguir o caminho da sustentabilidade. Cada vez mais, temos visto empresas, governos e viajantes trazendo à tona a necessidade de um turismo mais responsável. O Relatório Booking.com de Viagens Sustentáveis 2021 revelou que 78% dos viajantes brasileiros acreditam que a pandemia os incentivou a viajar de maneira mais sustentável no futuro. Mas será que eles têm acesso a todas as informações e possibilidades para fazer isso acontecer?
Ações concretas de grandes empresas da indústria do turismo (e até mesmo de outros setores) comprovam que sim, o Turismo Sustentável é mais que tendência, uma realidade. É o que os pequenos negócios e empresários já convertidos sempre esperaram: a adesão dos grandes players do mercado ao turismo responsável. Mas, enquanto a sustentabilidade não se torna natural e convencional em toda a cadeia turística, não podemos afirmar que, de fato, o turismo se transformou.
Todos os anos, trago as minhas apostas para tendências do turismo sustentável, deixando claro que são apenas olhares antenados para os caminhos que as viagens conscientes vêm seguindo. Considero pesquisas, relatórios, opiniões de outros profissionais e também as minhas vivências para chegar à lista abaixo. Não incluí alguns movimentos mais óbvios que já estão acontecendo, como a busca crescente pelo ecoturismo, as viagens em família e pelo turismo regional e nacional, para dar espaço a outras tendências do turismo sustentável e reflexões que acho necessárias.
Confira oito tendências do turismo sustentável para 2022:
1. Ações climáticas no turismo
Não há dúvidas de que a emergência climática tem pautado discussões e mobilizações no mundo todo. Embora cada destino conviva com suas próprias questões, as mudanças climáticas são um problema global e urgente. Muitas iniciativas do turismo responsável resultam na redução das emissões de carbono, mas ações climáticas no turismo diretamente focadas na neutralização do carbono são muito necessárias. Em novembro de 2021, durante a COP26, realizada em Glasgow, na Escócia, centenas de organizações, empresas e governos assinaram a Glasgow Declaration on Climate Action in Tourism, se comprometendo em agir imediatamente para cortar as emissões globais do turismo em pelo menos metade durante a próxima década e alcançar emissões zero o mais rápido possível, antes de 2050. Antes disso, o coletivo Tourism Declares a Climate Emergency já vinha alertando para a necessidade de uma mobilização climática no turismo. A aviação, responsável por quase metade das emissões mundiais do turismo, já vem se mobilizando, com companhias como a KLM lançando relevantes estratégias de sustentabilidade. Cada vez mais, o setor precisará prestar contas à sociedade e ao planeta sobre o que está fazendo para reverter as mudanças climáticas.
2. Turismo Regenerativo
Também não é novidade pensar que apenas sustentar o que temos hoje para as futuras gerações (princípio do Turismo Sustentável) não é mais suficiente, diante do tanto que já destruímos. Aos poucos, a ideia do Turismo Regenerativo vem se disseminando, propondo uma transformação total na maneira como olhamos nossa relação com nós mesmos, com o outro e com o planeta. Iniciativas como a The RegenLAB for Travel, The Global Regenerative Tourism Initiative e a Ekoways, têm sido responsáveis por essa propagação, por meio de informações, cursos e consultorias. Muitos hotéis e destinos já vinham caminhando no sentido da regeneração, com iniciativas de agroecologia, rewilding e reflorestamento de áreas devastadas em geral, e a empresa Regenerative Travel lançou, em 2021, os Regenerative Travel Awards (Prêmio de Turismo Regenerativo).
3. Diversidade, equidade e inclusão
Desde 2020, o movimento pela diversidade, equidade e inclusão no turismo ganhou muita força, com destaque para o impulsionamento do Afroturismo no Brasil. Antes tarde do que nunca, muitas empresas e organizações do turismo estão começando a implementar estratégias de DEI, fazendo primeiro o trabalho “dentro de casa” para então agir externamente. Mas ainda é muito pouco. E precisamos tomar cuidado para não cairmos nos discursos preconceituosos de sempre, como “não há profissionais capacitados para isso”. Iniciativas importantes como o canal Negros & Pretos: Afro Hotelaria e Afro Turismo vêm discutindo a necessidade de empresas mais diversas e inclusivas, e o coletivo Travel Unity lançou seus Padrões DEI para viagens e turismo. Ainda temos um longo caminho para as viagens serem de fato inclusivas em todos os sentidos e, antes de mais nada, precisamos entender que não existe turismo sustentável sem diversidade, equidade e inclusão.
4. Conexão com comunidades locais
Há algum tempo os viajantes vêm descobrindo que, para além das paisagens incríveis e locais “Instagramáveis”, as trocas com as culturas e comunidades locais tornam a experiência da viagem muito mais especial e transformadora. Além disso, conforme prega o Turismo Responsável, considerar o impacto que geramos nos destinos deve estar em primeiro lugar. O Relatório Booking.com Previsões de Viagem 2022 revelou que 58% dos entrevistados pensam ser importante que suas viagens gerem benefícios para a comunidade local e 29% garantiram que vão procurar entender melhor como seus gastos com turismo podem afetar ou melhorar as comunidades locais. Em tempos de pandemia, os cuidados com os destinos e comunidades que visitamos precisam ser ainda maiores. As intenções são as melhores. Precisamos acompanhar se, efetivamente, nós viajantes, estamos dispostos a abrir mão de privilégios e desejos para priorizar o cuidado com os destinos e ainda se somos capazes de entender o que realmente é positivo para quem nos recebe, a partir do ponto de vista deles e não do nosso.
5. Tecnologia aliada ao Turismo Sustentável
Além de a tecnologia estar sendo uma grande aliada na prevenção do COVID, com um mundo com menos contato físico, grandes empresas vêm anunciando também seu apoio a um turismo mais responsável. É o caso da Booking.com, que anunciou, no fim do ano passado, o selo ‘Viagem Sustentável’, que reconhece hotéis e propriedades que implementaram um conjunto de práticas sustentáveis e que cumprem requisitos mínimos de impacto para o destino onde estão. O objetivo é viabilizar informações mais transparentes para os viajantes. Segundo o Relatório Booking.com de Viagens Sustentáveis 2021, apesar de 76% dos entrevistados se comprometerem a procurar acomodações que tenham práticas de sustentabilidade, 49% deles acreditam que ainda não há opções suficientes de viagens sustentáveis disponíveis e 41% dizem que não sabem como encontrar viagens mais responsáveis.
Já a gigante Google, se comprometeu, desde setembro de 2021, a rotular os hotéis como “Eco-certificados” nos resultados de pesquisa globais, com um ícone em forma de folha ao lado do nome do hotel. Ao clicar no link “Sobre”, as práticas de sustentabilidade do hotel são especificamente detalhadas. O novo recurso considera 29 programas de certificação internacionais para estabelecer a credibilidade ecológica dos hotéis.
6. Slow Travel e trabalho remoto
Se uma coisa funcionou bem durante a pandemia foi a aliança entre viagens mais extensas e a oportunidade do trabalho remoto. Essas viagens ganharam nomes diversos, como workcations, flexcations e bleisure, e muitos hotéis e destinos se adaptaram com pacotes e oportunidades para receber estes viajantes-trabalhadores que buscam fazer viagens mais imersivas. No relatório Trending in Travel – Emerging consumer trends in Travel & Tourism in 2021 and beyond, o World Travel & Tourism Council destaca como mais de 52% dos viajantes globais atuais têm preferência por estadias mais longas, com aproximadamente um em cada quatro (26%) optando por mais de 10 noites (*informações da pesquisa Global Data, 2021, ‘Longer trips look set to boom post-COVID-19).
7. Viagens pet friendly
Adotar animais como companhia também parece ter sido uma importante tendência da pandemia. De acordo com a American Society for the Prevention of Cruelty to Animals (ASPCA), cerca de 23 milhões de casas nos Estados Unidos receberam pets desde o início da era COVID. O mesmo movimento foi visto nos mercados europeu e asiático. O relatório The 2022 Traveler: Emerging Trends and the Redefined Traveler, produzido pela rede de hotéis Hilton, informa que o termo “pet friendly” foi o terceiro mais buscado nos sites da rede, no mundo todo. O documento mostra ainda que 7 entre cada 10 donos de pets, das gerações Z e Millenial, afirmam que estão mais propensos a viajar se os cães e gatos forem bem aceitos. O resort Le Canton, localizado na região serrana do Rio de Janeiro, que já era pet friendly desde 2016, investiu em 2021 em novos atrativos para receber os animais. Entre eles está o Pet Park, uma área exclusiva para pets e seus donos brincarem e conviverem.
8. Hábitos mais saudáveis e viagens de bem-estar
Saúde e bem-estar, claro, passaram a ser prioridades neste momento. Além das prevenções sobre a saúde física (ou relativa ao corpo), temos lidado intensamente com as questões ligadas à saúde mental. Retiros de yoga, banhos de floresta e lugares onde é possível relaxar a mente e se conectar com a natureza têm sido cada vez mais procurados. Em uma pesquisa com consumidores em 48 países em 2020, a Wellness Tourism Association descobriu que 78% deles já incluíam atividades de bem-estar quando viajavam, enquanto, em 2021, 45% dos viajantes a lazer nos EUA disseram que buscavam relaxamento em sua próxima viagem (*informações do relatório Trending in Travel – Emerging consumer trends in Travel & Tourism in 2021 and beyond, do World Travel & Tourism Council).
Você fez alguma viagem dedicada ao seu bem-estar nos últimos tempos? Conta aqui nos comentários para nós! 😍
+ Mais: