Viajante Responsável

Tendências do turismo sustentável para 2021

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Foto: Viajar Verde
Escrito por Ana Duék

Sou resistente a listas de tendências. Principalmente no turismo. Acho que elas sempre trazem uma visão simplista e idealizada de um universo muito complexo. Outras vezes também tentam importar tendências internacionais que, no fundo, não se aplicam aqui no Brasil. Ainda assim, fiz as minhas apostas, vendo como o turismo responsável estava caminhando em 2018 e em 2020. É claro que em 2020 eu passei longe! 😅 Neste ano, resisti ainda mais em fazer uma lista, desmotivada depois de tanto ouvir que o turismo sustentável é o caminho para a retomada das viagens pós-pandemia, mas vendo muitas pessoas caminhando no sentido oposto.

Pensei melhor e decidi incluir então nas minhas apostas de tendências do turismo sustentável para 2021 um pouco dessas incoerências e questionamentos. Para além de apontar caminhos e respostas, trago aqui hipóteses e reflexões. Muitas mídias já fizeram suas sugestões para as tendências de viagens em geral. O que levanto aqui são as ideias relacionadas à sustentabilidade. Fiquem à vontade para compartilhar suas opiniões nos comentários!

Já sabemos que as viagens seguem por alguns caminhos óbvios e necessários enquanto o vírus estiver entre nós: distanciamento, protocolos sanitários, máscaras, viagens locais, mais natureza. Outros são especulações. Uma pesquisa recém-divulgada pela Booking.com revelou que 7 em cada 10 brasileiros querem viajar de maneira mais sustentável no futuro, colocando nossos viajantes em segundo lugar como os mais conscientes entre os 28 países onde a pesquisa foi feita (ficamos atrás somente da Colômbia). Infelizmente, sabemos que respostas em uma pesquisa de intenção não necessariamente correspondem à realidade das ações, mas nos dão alguma esperança de que estamos minimamente interessados em fazer viagens melhores para o planeta.

Enquanto na Europa e nos Estados Unidos as tendências do turismo sustentável avançam para viagens regenerativas e a luta contra as mudanças climáticas, por aqui acredito que estamos voltando a repensar nossa relação com a natureza, com o outro, com nossas raízes e culturas. Mais do que nunca, o fortalecimento do turismo interno tem ajudado nesse processo. Que seja um recomeço para viagens mais positivas pela frente!

Tendências do turismo sustentável para 2021

1. Mais segurança, mais lixo

De acordo com o relatório 10 Principais Tendências Globais de Consumo 2021, da Euromonitor International, “os consumidores ficarão mais atentos às questões sociais e ambientais, recompensando as empresas que investirem seus lucros em ações positivas no pós-pandemia”. No entanto, enfrentamos uma grande questão quando a segurança e proteção contra a Covid-19 representam um aumento significativo do lixo que produzimos, principalmente com embalagens plásticas, luvas e máscaras descartáveis. De acordo com a Ocean Conservancy, 130 bilhões de máscaras e 65 bilhões de luvas são descartadas por mês no mundo. Infelizmente, o pensamento ainda é “segurança primeiro sustentabilidade depois”, faltando a visão de que os impactos que estamos gerando com o lixo marinho, por exemplo, vão refletir na nossa saúde e sobrevivência também. Se por um lado as medidas de higienização e segurança estão cada vez maiores, ainda falta visão estratégica das empresas e destinos de que existem soluções para aliar os cuidados da pandemia com sustentabilidade. Por isso, é bem provável que, nesse aspecto, tenhamos um grande retrocesso.

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Foto: Brian Yurasits

2. Greenwashing

Esse termo inglês, que traz a ideia de um “banho verde”, nada mais é do que uma estratégia de marketing para se vender algum produto ou serviço como ecológico ou sustentável, quando na verdade ele não é. Vimos muito disso por aqui quando surgiram os primeiros “eco-resorts” e quando começamos a ouvir falar sobre sustentabilidade, na década de 1980. O greenwashing no turismo nunca deixou de existir, mas parecia ter dado uma boa reduzida, com os viajantes ficando cada vez mais conscientes. Infelizmente, nesse mundo de excesso de informações controversas e fake news, ele parece estar voltando com força e encontrando espaço fértil entre negacionistas de desmatamentos e questões climáticas. E aí, apesar de muitos concordarem que o turismo responsável é o caminho necessário para seguirmos, existe ainda uma grande falta de consenso e entendimento sobre o que realmente ele significa. Mais do que nunca temos ouvido falar que o turismo sustentável é a tendência, enquanto viajantes, hotéis, companhias aéreas e destinos não conseguem se comprometer com o mínimo de atitudes responsáveis.

3. Ecoturismo e soft adventures

Por outro lado, com o aumento da busca por atividades e destinos de natureza e com o movimento de turistas mais conscientes e engajados, o ecoturismo está crescendo e ganhando novos adeptos. Viajantes que normalmente escolhiam centros urbanos, estão optando por experiências na natureza, em lugares que já se consolidaram no gosto do viajante brasileiro, como a Chapada dos Veadeiros, Jalapão e a Chapada Diamantina. Enquanto os ecoturistas tradicionais estão descobrindo novos parques e cantinhos pelo país. Está sendo o momento também de descobrirem aventuras leves (as soft adventures), como trilhas, snorkeling e stand-up paddle, que se apresentam como sugestões para explorar os destinos. A empresa Ybytu – viaje de bicicleta, por exemplo, identificou o interesse de novos praticantes pelo cicloturismo e lançou dois roteiros para iniciantes dentro do estado de São Paulo. Esperamos que estes novos entrantes desbravadores da natureza também se apaixonem e ajudem a cuidar dela!

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Ybytu – roteiro pelo Circuito das Frutas, em São Paulo | Foto: Ybytu

4. Voluntariado em ecovilas

O turismo voluntário, que já vem crescendo e se consolidado há algum tempo, também parece estar ganhando força com a oportunidade de o viajante se isolar na natureza. A oferta de voluntariados em eco-pousadas, comunidades e ecovilas tem crescido em plataformas como o Worldpackers. Além de não pagar pela acomodação, e eventualmente ter alguma alimentação incluída, o voluntário participa de programas que incluem aprendizados de permacultura, bioconstrução e até mesmo vivências terapêuticas e espirituais.

Bioconstrução

Bioconstrução no Sítio Saramandala, em Sarapuí | Foto: Sítio Saramandala

5. Afroturismo

O afroturismo era uma tendência em crescimento, mas despontou em 2020 a partir dos movimentos do Black Lives Matter e seus desdobramentos no Brasil. Passamos a ouvir e olhar mais para a história negra no nosso país e isso inclui aprender sobre ela quando viajamos. Muitos empreendedores que já trabalhavam com afroturismo e destinos que têm uma história negra pouco contada começaram a ganhar mais espaço e reconhecimento. Da nossa parte, precisamos continuar encorajando esse movimento e lembrando que o afroturismo pode fazer parte de qualquer viagem nossa! Procure conhecer a história negra do destino que você vai visitar.

Pelourinho

Pelourinho: marco da história negra em Salvador, normalmente apresentado pelo olhar branco | Foto: Viajar Verde

6. Experiências de impacto online

As viagens online surgiram meio tímidas em 2020, mas estão se multiplicando neste ano com novas plataformas e agências investindo na modalidade. O Airbnb já tinha lançado a ideia das experiências virtuais, mas a pandemia veio para consolidar a proposta. O domínio de novas tecnologias e a criatividade dos profissionais têm ajudado a tornar essas viagens cada vez mais reais. Plataformas como a Diáspora.Black e Muxima, que nasceram voltadas para as experiências presenciais, abriram espaço para as vivências online. Agências de viagem como a Braziliando e a Conectando Territórios também estão oferecendo tours virtuais. E novas plataformas, como a Bando Experiências Guiadas estão surgindo, em uma tendência que parece ter vindo para ficar.

7. Slow travel

O slow travel é uma maneira de viajar que propõe um ritmo desacelerado e maior conexão com o destino, as pessoas e a cultura local. Acredita em uma retomada da essência do porquê realmente viajamos e na geração de impactos positivos para quem viaja e para quem recebe. Sempre houve adeptos e não adeptos do slow travel, mas ele nunca chegou a ser grande tendência diante do enorme volume do turismo de massa. Nesse momento, com as dificuldades de deslocamento, a necessidade de isolamento, o benefício do home-office e as reflexões individuais que viemos fazendo, formou-se o cenário perfeito para o slow travel. Muitas pessoas e famílias têm alugado casas ou se retirado por mais tempo na natureza, mesclando trabalho e diversão. É uma oportunidade de conhecer o destino com calma e quase como um local.

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Sobre o Autor

Ana Duék

Jornalista de viagens com Mestrado em Gestão de Turismo e Hospitalidade pela Middlesex University (Londres). Desde 2015 defendendo um turismo mais consciente. Acredito que as viagens podem gerar mais impactos positivos para viajantes e para os destinos que nos recebem. Vamos descobrir como?