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Comportamentos de influenciadores digitais estão sabotando o turismo

influenciadores digitais
Lago tóxico na Sibéria virou sensação entre influenciadores digitais por causa da cor turquesa
Escrito por Ana Duék

Você já parou para pensar quantas vezes uma foto no Instagram ou Facebook fez você ter vontade de visitar um lugar? E será que aquele destino é assim mesmo lindo e paradísiaco como mostra a imagem?

A busca pela foto perfeita e um milhão de curtidas vem mudando completamente o comportamento das viagens, dos turistas e dos influenciadores digitais pelo mundo. Não se trata mais de mostrar a realidade de um destino, mas de atrair atenção para ele. Mesmo que usar um vestido longo vermelho para uma foto ao final de uma trilha de 6 horas não faça sentido nenhum no dia a dia de um viajante, ele está curtindo e achando lindo.

De acordo com uma pesquisa realizada pela Schofields Insurance em 2017, 40% dos Millenials do Reino Unido (jovens entre 18 e 33 anos) escolhem seus destinos de férias de acordo com a Instagramabilidade do lugar. Não é de se surpreender que 48% dos brasileiros da geração Z já tenham decidido uma viagem com base no que viram nas redes sociais ou em posts de influenciadores digitais e 51% das mulheres desta geração utilizem o Instagram como fonte de inspiração para suas escolhas de viagem, de acordo com um estudo recente do Booking.com.

Desde sempre, a mídia teve importância essencial em ajudar a traçar o futuro de um destino turístico. Agora, mais do que nunca, os influenciadores digitais estão envolvidos nesta responsabilidade. Um simples post é capaz de lotar um destino com pessoas que sequer sabem que lugar é aquele ou como se comportar ali. Refletir sobre o impacto que aquela foto ou post pode causar não é só mais pensar em quantos likes ela vai receber. É imaginar se as pessoas estarão seguras ao tentar reproduzir sua foto. Se faz algum sentido apresentar aquele lugar às pessoas e se ele está preparado para recebê-las. Se seus seguidores têm as informações relevantes para chegar naquele destino e a melhor maneira de se comportar por lá, sem causar impactos negativos.

Com o objetivo de criar fotos impressionantes, multiplicar seguidores e às vezes só por falta de reflexão, muitos blogueiros e instagrammers pelo mundo vêm reproduzindo um comportamento que não é nada saudável nem para os viajantes, nem para os destinos que os recebem. Os resultados têm sido desde a superlotação em lugares que não estavam preparados para tantos visitantes ou a frustração dos turistas até acidentes fatais por causa de selfies.

O risco de vida por mil likes

A busca por seguidores e curtidas ficou tão obsessiva que o perigo, a segurança e o risco de vida deixaram de ser questões para influenciadores e viajantes. Já não importa mais se aquele lugar tem alguma história ou atrativo interessante. O que vale é tirar a foto mais perigosa e absurda e mostrar que você é capaz de superar limites.

Um estudo de 2018 revelou que entre outubro de 2011 e novembro de 2017 aconteceram no mundo 259 mortes de pessoas tirando selfies. A Wikipedia lista alguns desses acidentes. A maioria aconteceu na Índia, Rússia, Estados Unidos e Paquistão, mas havia oito casos registrados no Brasil. Em 2019 já foram ao menos mais três. Na famosa Janela do Céu, no Parque Estadual do Ibitipoca, Minas Gerais, a administração do parque resolveu colocar uma corda e um guarda de prontidão depois que uma jovem despencou de 35 metros, em 2016, quando era fotografada. Por sorte sobreviveu. Mas nem em todos os lugares é possível controlar o comportamento das pessoas o tempo todo. É essencial que essa consciência parta de nós também.

A modelo russa Angela Nikolau é uma das influenciadoras que faz sucesso no Instagram com fotos extremas:

 

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O desrespeito a locais de tragédias

Em 2019, com o estouro da série Chernobyl no Netflix, o número de visitantes no antigo local da tragédia, na Ucrânia, aumentou em 40%. O que chamou a atenção, porém, foi o comportamento desrespeitoso de muitas pessoas, tirando fotos semi-nuas ou debochadas em um local que representa uma catástrofe com mortes.

 

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Antes disso, muitas pessoas já questionavam o comportamento de visitantes, por exemplo, em antigos campos de concentração ou memoriais de Holocausto. O excesso de selfies e comportamento inadequado nesses lugares levou à criação do reflexivo documentário Austerlitz, do ucraniano Sergei Loznitsa.

Os lugares que não existem

Recentemente, duas revelações de lugares “falsificados” pelas fotos do Instagram geraram polêmica nas redes. A repórter da revista Fortune, Polina Marinova, mostrou com um post no Twitter que as famosas fotos do Portão do Céu, no templo Lempuyang, em Bali, nada mais são do que montagens! Além de uma fila enorme para se tirar a foto em um lugar onde não parece haver ninguém, a água sob os portões não existe – é na verdade um pedaço de vidro fazendo efeito de reflexo no celular.

A quilômetros dali, na Sibéria, influenciadores digitais descobriram um lindo lago turquesa, digno de lindas fotos no Instagram, que ficou conhecido como as Maldivas de Novosibirsk. Mas nenhum deles teve a dignidade de avisar a seus seguidores que o lago é tóxico! Com a proliferação de selfies no local, a companhia de energia russa que administra a usina local pediu às pessoas que não chegassem perto da água. Mas o alerta instigou ainda mais as pessoas a visitarem o lugar.

 

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O turismo voluntário que não ajuda ninguém

Cresce cada vez mais no mundo a proposta do turismo voluntário, ou volunturismo, onde as pessoas viajam para fazer atividades voluntárias em santuários de animais, orfanatos, associações e comunidades em diversos lugares do mundo. As fotos com crianças felizes viraram um dos grandes motivadores dessas atividades.

influenciadores digitaisO que muita gente não faz ideia é que o volunturismo ligado aos orfanatos virou uma verdadeira indústria de exploração com o único objetivo de ganhar dinheiro. Além, é claro, das lindas fotos que o viajante tira e das empresas que ganham dinheiro com essas viagens, as crianças e comunidades locais não estão se beneficiando em nada com essas atividades. Muitas vezes estão fortalecendo a criação de orfanatos quando muitas dessas crianças têm famílias para onde ir. O mesmo vale para os animais e seus falsos “santuários”.

Confira um pouquinho do vídeo em que falo sobre isso:

Os maus tratos aos animais silvestres

Essa prática já virou costume e ninguém questiona. Todos querem repetir as lindas fotos que os influenciadores digitais e viajantes fazem com os botos e bichos preguiça na Amazônia, com golfinhos no Caribe, com elefantes na Tailândia e por aí vai. Ninguém pensa se pode ser perigoso se o animal tiver uma reação instintiva (afinal, são animais!) e muito menos se ele está confinado indevidamente ou sofrendo maus tratos somente para virar uma atração para fotos.

A Proteção Animal Mundial denunciou recentemente diversos maus tratos por que passam os animais para serem fotografados na Amazônia. Os bichos-preguiça encontrados nos pontos turísticos passam de mãos em mãos com frequência e muitos ficam amarrados em árvores, situação que causa grande estresse a eles. Quando uma cobra é requisitada para selfies, é preciso apertar a região logo abaixo da cabeça dela para controlá-la. Isso sem falar nos botos que enfrentam dezenas de turistas em cima deles.

 

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Uma publicação compartilhada por Roberta Borsari (@robertaborsari_sup) em

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Sobre o Autor

Ana Duék

Jornalista de viagens com Mestrado em Gestão de Turismo e Hospitalidade pela Middlesex University (Londres). Desde 2015 defendendo um turismo mais consciente. Acredito que as viagens podem gerar mais impactos positivos para viajantes e para os destinos que nos recebem. Vamos descobrir como?