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Turismo sustentável em Chiloé, no Chile: como ser um viajante responsável

Foto: Ana Duék | Viajar Verde
Escrito por Ana Duék

O arquipélago de Chiloé, localizado na Região de Los Lagos, no sul do Chile, é um destino muito especial que ainda preserva cultura e tradições herdadas dos povos originários. O fato de ser uma ilha (conectada com o continente apenas por barco ou avião) facilitou que Chiloé conseguisse manter sua cultura e natureza únicas, mas também traz desafios. Como toda ilha, o isolamento dificulta a locomoção, encarece insumos, compromete a gestão do lixo e atrasa a chegada de alguns recursos.

Nada que comprometa o incrível potencial turístico e a beleza da região e nem o turismo sustentável em Chiloé. Mas são características que merecem um olhar mais atento e cuidadoso do viajante responsável na hora da visita.

Alimentos, por exemplo, não deveriam ser uma questão na Ilha Grande de Chiloé, já que ela tem um solo fértil e é grande produtora de batatas e mariscos. Chiloé é reconhecida como Patrimônio Agrícola Mundial pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) e tem desenvolvido, cada vez mais, a agricultura familiar e sustentável. No entanto, um recente estudo da Asociación de Consumidores y Usuarios de Chiloé (Chiloé Activo AdC) identificou que o custo da cesta básica no arquipélago é 18% mais caro que a média nacional. Isto não significa necessariamente que a alimentação é mais cara para o turista, mas sim que precisamos ter consciência, evitar desperdícios e valorizar os alimentos produzidos localmente.

Outra questão importante é que, apesar de ter grandes áreas naturais protegidas, Chiloé também passa pela problemática do desmatamento. A redução dos bosques nativos já reflete diretamente em mudanças climáticas e na oferta de água doce. A madeira, além de seu valor comercial, é importantíssima para os chilotas – 94% dos lares de Castro, por exemplo, utiliza lenha como principal fonte de energia (principalmente para calefação). Além disso, a extração do musgo conhecido como “pompón”, vendido comercialmente para a utilização como adubo, piso orgânico e isolante térmico, está reduzindo criticamente a disponibilidade de água doce em Chiloé, já que os pompones são grandes reservatórios de água. Vale à pena assistir ao documentário “Oro Chilote”, que fala justamente sobre isso:

Outra questão que o viajante não enxerga (e é problema mundial) é o lixo. Mensalmente, o arquipélago transporta cerca de 11 mil toneladas de lixo por 720 quilômetros até o aterro sanitário na cidade de Lós Angeles, na região de Biobío. Em maio deste ano (2022), uma greve de caminhoneiros desencadeou em um alerta, principalmente na cidade de Ancud. Chiloé precisa reduzir sua produção de lixo.

Mas não se assuste! Todas essas notícias não são para você desistir da sua viagem, muito pelo contrário. Seria importante se pudéssemos saber de todas as questões e problemáticas dos destinos que visitamos para sermos visitantes melhores para aquela comunidade. Chiloé continua sendo um lugar encantador e merece a sua visita!

A boa notícia é que, como viajantes responsáveis, podemos evitar mais impactos negativos e, possivelmente, gerar impactos positivos para este destino de sonhos. Aqui vão algumas dicas para praticarmos o turismo sustentável em Chiloé. (Se você tiver mais sugestões, não deixe de escrever nos comentários! 😉)

1. Escolha o slow travel e hospede-se por mais tempo

Chiloé tem mais de 9 mil km² de área. É considerada uma província, que está dividida em dez comunas. Do ecoturismo às experiências gastronômicas e religiosas, há muito o que se fazer por lá e dois dias não são suficientes para viver a essência do destino. Nas cidades turísticas próximas, como Puerto Montt e Puerto Varas, é comum encontrarmos a oferta de tours bate-e-volta de um dia a Chiloé. Conversei com uma viajante que fez o passeio e ela me garantiu: “não vale à pena”. Programe-se para ficar no mínimo 4 dias em Chiloé!

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Parque Tantauco, no sul da Ilha Grande de Chiloé | Foto: Sernatur Los Lagos

2. Não fique apenas na capital, Castro

Explore os parques, pueblos e a região do Pacífico. Cada lugar oferece uma experiência diferente e você ainda estará distribuindo seu dinheiro e apoiando o desenvolvimento sustentável de outros destinos.

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Dalcahue, Chiloé | Foto: Ana Duék, Viajar Verde

3. Escolha hospedagens e operadores de turismo sustentáveis

Chiloé tem uma boa oferta de hotéis e operadores que se preocupam e investem em iniciativas de preservação do meio ambiente e apoio e inclusão da comunidade local. Muitas hospedagens são fáceis de identificar, pois levam o Selo S da Sernatur Chile, que certifica estabelecimentos que atendem a requisitos internacionais na sustentabilidade ambiental, econômica e sociocultural. É o caso de hotéis como o Hotel Parque Quilquico e o Ocio, em Castro, e o Hotel Balai, em Ancud. Mas há outros hotéis preocupados com a sustentabilidade, como o Refugio Pullao e o Tierra Chiloé. Entre os operadores, recomendo a Chiloé Natural, a Siempre Verde Turismo e a Turismo Pehuen.

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Hotel Parque Quilquico | Foto: Ana Duék

4. Faça Turismo Rural e apoie famílias locais

O Turismo Rural, desenvolvido pelos próprios moradores de Chiloé, é uma das atividades que mais têm se fortalecido no arquipélago. Com sua extensa área verde e uma cultura tradicional tão interessante, Chiloé é o destino ideal para este tipo de turismo. Duzentos serviços de hospedagem, alimentação e lazer, espalhados pelas dez comunas, estão cadastrados na Sernatur Los Lagos e 69 fazem parte do programa Indap Turismo Rural. Ao escolher essas acomodações, restaurantes e atividades você está apoiando o desenvolvimento das comunidades locais e a preservação de sua cultura, e ainda tem a oportunidade de viver experiencias únicas.

Foto: Instituto de Desarrollo Agropecuario

5. Consuma em restaurantes e produtores com certificação SIPAM Chiloé

Assim como o programa de Turismo Rural, o selo SIPAM tem o objetivo de proteger e valorizar produtos e serviços com identidade cultural de origem camponesa no arquipélago. O SIPAM (Sistemas Importantes do Patrimônio Agrícola Mundial) é um programa da FAO – Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, que reconhece e protege locais que conservam diversidade de alimentos, saberes e práticas característicos. Os produtores certificados trabalham exclusivamente com técnicas agroecológicas, que garantem a preservação da identidade cultural e da biodiversidade agrícola local.

6. Compre artesanatos locais

O artesanato de Chiloé é muito característico e diversificado e se destaca principalmente pelos artigos de lã, as cestarias e os trabalhos em madeira. Mas, assim como em qualquer lugar do mundo, Chiloé também já foi descoberto pelos produtos chineses e de outros locais. Portanto, todo cuidado é pouco quando for comprar suas lembranças! A Feira Artesanal de Dalcahue (a 30 minutos de carro de Castro) tem como premissa trabalhar apenas com produtos locais. Já na Feria Artesanal y Mercado Campesino Lillo, na capital chilota, é possível encontrar de tudo um pouco. Alguns agroturismos (restaurantes e hospedagens) também vendem seus próprios artesanatos in loco.

Feira artesanal de Dalcahue

Artesanatos na Feira de Dalcahue | Foto: Ana Duék, Viajar Verde

7. Visite as áreas naturais e informe-se sobre a biodiversidade local

Não foi à toa que Charles Darwin se encantou com o arquipélago! A fauna e flora de Chiloé são incrivelmente diversas e merecem nossa atenção já que, por estar separado do continente e ter características climáticas muito específicas, Chiloé tem muitas espécies nativas e endêmicas que dificilmente encontramos em outro lugar. É o caso do zorro chilote (raposa de Darwin), do pudu (menor cervídeo do mundo), do hullín (Lontra provocax), da rã de Darwin e do marsupial monito del monte. O Parque Nacional Chiloé, o Parque Tepuhueico e o Parque Tantauco são as três reservas de flora e fauna mais importantes da Ilha Grande de Chiloé. Neles podem ser encontradas espécies arbóreas endêmicas como o arrayán, o roble, o coigüe e o avellano, ou avelã chilena. (*os nomes não foram traduzidos porque não encontrei correspondências em português)

turismo sustentável em Chiloé

8. Dirija devagar e com cuidado para não atropelar animais silvestres

Infelizmente, o atropelamento de animais também é uma realidade em Chiloé. Quem mais sofre com isso são os pudus. De acordo com a ONG Chiloé Silvestre, 70% dos pudus que chegam em resgate para recuperação sofreram ataques de cães e 25%, atropelamentos. Todo cuidado é pouco ao dirigir tanto pelas estradas quanto nas pequenas ruas, já que os animais estão por toda parte.

pudu Chiloé Silvestre

Pudu resgatado | Foto: ONG Chiloé Silvestre

9. Reduza seu lixo

O lixo é uma questão mundial e precisamos cuidar de evitá-lo ao máximo em qualquer lugar. Mas, como já comentei acima, Chiloé tem desafios ainda maiores com a sua destinação. O programa Chiloé Reduce, conduzido pelo Ministério do Meio Ambiente, desenvolve iniciativas para fornecer equipamentos de gestão de resíduos aos municípios, instalação de centrais de compostagem e conscientização e engajamento da população. Portanto, façamos a nossa parte também! Não esqueça de levar sua garrafinha de água retornável, recusar sacolas plásticas, canudos e outros descartáveis e não usar amenities de hotéis que estejam em pequenas embalagens de plástico. Vamos praticar o turismo sustentável em Chiloé! 😉

Chiloé Reduce

Foto: Chiloé Reduce

 

Viajei a convite da Sernatur Los Lagos

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Sobre o Autor

Ana Duék

Jornalista de viagens com Mestrado em Gestão de Turismo e Hospitalidade pela Middlesex University (Londres). Desde 2015 defendendo um turismo mais consciente. Acredito que as viagens podem gerar mais impactos positivos para viajantes e para os destinos que nos recebem. Vamos descobrir como?