Viajante Natural

Turismo para preservação dos mangues

preservação dos mangues
Trilha pelo manguezal na Península de Maraú é roteiro da Pousada Lagoa do Cassange | Foto: Viajar Verde
Escrito por Renata Ferreira

Quando você pensa em manguezal, o que lhe vem à cabeça? Talvez os caranguejos, a lama, o rio e o ritmo musical recifense, o mangue beat. No entanto, esse ecossistema é muito mais do que isso! Ele é rico e fundamental para a manutenção da vida e da economia regional. Contudo, tem sofrido décadas de degradação pelas mãos humanas. Para reverter isso, podemos usar ferramentas como o turismo voltado para a preservação dos manguezais, e você, viajante, pode ser um impulsionador dessas boas práticas.

O que são os manguezais

Um bioma típico das regiões costeiras sub-tropicais e tropicais, o manguezal é encontrado na transição entre a água e a terra firme. A densidade do seu solo revela o seu segredo: este é um dos biomas mais produtivos do mundo e concentra uma abundância de matéria orgânica. Mas não é apenas isso. Hoje já se sabe que os manguezais são grandes responsáveis por sequestrar e estocar carbono em sua biomassa e solo, com capacidade de retenção de CO2 no solo maior do que de grandes florestas tropicais, como a Amazônia.

Apesar de ser um bioma pouco compreendido, por ser lamacento e eventualmente apresentar um cheiro que alguns consideram forte, os manguezais são muito importantes ambiental e socialmente. Algumas das suas principais funções são:

  • Conservação de espécies – os manguezais são verdadeiros berçários para os animais locais, mas também para aqueles que fazem migração para iniciar a vida de seus filhotes ali.
  • Proteção da costa – através da vegetação, os mangues ajudam a prevenir a corrosão do solo e diminuem o impacto de entrada da água, podendo minimizar, inclusive, o impacto de tsunamis.
  • Preservação da fauna – em manguezais conservados podemos encontrar poucas espécies de animais, porém em grande número. Entre elas estão o sururu, o marisco, caranguejos de várias espécies e tamanhos, peixes, aves como gaivotas, garças, gaviões e flamingos, lagartos, cobras e macacos.
  • Mantenimento de comunidades tradicionais – muitas comunidades tradicionais litorâneas vivem direta ou indiretamente dos mangues, especialmente pela pesca, agricultura familiar e turismo.
preservação dos mangues

Manguezal na Ilha do Cardoso, SP – Foto: Viajar Verde

Manguezais e comunidades em risco

Atualmente, assim como outros biomas, os manguezais estão em risco, e um dos fatores que contribuem para isso é o turismo. Esse bioma tem sido depredado especialmente pelo avanço da criação de camarões (carcinicultura) e outras espécies aquáticas (aquicultura), a monocultura de arroz e a cana-de-açúcar, exploração de madeiras, indústria pesqueira – que aumenta da pressão pesqueira sobre os estuários e os manguezais, ameaçando espécies de extinção – o avanço da urbanização, industrialização, atrações turísticas e, por fim, a mudança do clima.

O turismo também tem a sua responsabilidade aqui, podendo ser um grande depredador dos manguezais, direta ou indiretamente, quando é feito de forma irresponsável. Desde as construções de empreendimentos turísticos em áreas de mangue, construções de estradas para facilitar o acesso, a poluição vinda com o turismo em locais que não estão preparados para fazer a gestão de resíduos, ou até mesmo o aumento de pesca para atender à demanda de restaurantes e hotéis.

Os impactos negativos neste ecossistema são profundamente prejudiciais na busca pela mitigação da mudança climática, já que manguezais concentram grande retenção de CO2. Sua exploração massiva também afeta as formas de vida ao seu redor, já que este é um bioma biodiverso e fornecedor de alimento, tanto para diferentes espécies de peixes e outros animais marinhos que vivem ali, como para comunidades locais, que dependem da geração de renda através da pesca e do extrativismo.

preservação dos mangues

Foto: Viajar Verde

Turismo pela preservação dos mangues

Apesar do turismo ser um dos principais fatores que colocam em risco os manguezais, isso acontece apenas quando ele é feito de forma irresponsável, onde os empreendimentos turísticos não respeitam os limites da natureza, agindo de forma predatória. O turismo em massa e irresponsável pode causar pressão nos manguezais pela quantidade de pessoas, construções irregulares, pesca sem manejo, etc.

Por outro lado, o Turismo Responsável pode ter um resultado completamente oposto do convencional, com impacto positivo. Isso porque essa prática atua trabalhando juntamente com o bioma, entendo seu funcionamento, respeitando os seus limites e preservando a região.

Um dos exemplos de turismo que trabalha em colaboração com os manguezais é o Quilombo do Mandira, no litoral sul de São Paulo, na cidade de Cananéia. Este quilombo tem uma relação próxima ao manguezal, já que eles vivem especialmente do extrativismo e do turismo de base comunitária, com foco na pedagogia ambiental. O Quilombo do Mandira fica na primeira Reserva Extrativista Federal do Estado de São Paulo, com 1.175 hectares de manguezal, onde é feito o manejo sustentável das ostras.

Quilombo do Mandira

Foto: Quilombo do Mandira

Sidnei Coutinho, mais conhecido como Nei Mandira, quilombola e monitor ambiental, conta que o turismo consciente sensibiliza as pessoas da importância de preservar o ecossistema do manguezal e não somente extrair os recursos que existem ali sem conhecer a dinâmica do bioma.

Contudo, a prática extrativista em Mandira nem sempre foi consciente. Antigamente, por dependerem de atravessadores que compravam as ostras por um preço irrisório, os extrativistas precisavam capturar em excesso, sem respeitar a época de repovoamento, o que ameaçou a principal fonte de economia deles. Essa realidade mostra como é possível, através da educação e conscientização, trazer mudanças positivas para regiões que hoje sofrem com sua depredação.

Quilombo do Mandira

Foto: Quilombo do Mandira

Atualmente, além de fazer o manejo correto das ostras, o Quilombo do Mandira também recebe turistas em seu restaurante e para fazer passeios educativos e de observação nos manguezais. Parte desse passeio pode ser feito por uma trilha curta, visando gerar o mínimo de impacto possível. Porém, a atração principal fica nos canais que margeiam os manguezais, onde o viajante pode aprender sobre o bioma e se aventurar em descobrir as espécies da fauna que habita ali. O Quilombo do Mandira mostra como Turismo Responsável pode ser um grande aliado na preservação dos mangues e de outros ecossistemas!

Outra iniciativa de turismo responsável nos mangues acontece na paradisíaca Península de Maraú, na Bahia. Através da experiência de Turismo Socioeducativo oferecida pela Pousada Lagoa do Cassange, os viajantes são convidados a conhecer o manguezal da Área de Proteção Ambiental da Baía de Camamu, a terceira maior baía do nosso país e a mais preservada.

Este é um passeio fora da rota tradicional, que geralmente encontrarmos nos guias “O que fazer na Península de Maraú“, perfeito para viajantes que buscam uma viagem autêntica. Seu diferencial, além de conhecer este grande manguezal, está em conectar os viajantes com a comunidade local. Os “guias” aqui são as crianças da Escola Maramar, que compartilham seus saberes e explicam qual é a importância desse ecossistema para a natureza e para a comunidade local do Saleiro.

Viu como o turismo pode ser um grande parceiro pela preservação dos manguezais? Incentive iniciativas como essas em sua viagem e conheça um Brasil tradicional, natural e sustentável.


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Sobre o Autor

Renata Ferreira

Graduada em psicologia e pós-graduada em Negócios da Moda, direcionou suas formações para a sustentabilidade. Após conhecer algumas iniciativas no Brasil e na ânsia de descobrir novas, colocou o pé na estrada. Através de viagens e experiências sustentáveis, facilita o caminho da transformação pessoal necessária para uma vida mais integrada.