Uma atividade de nome estranho, que mistura ativismo, conscientização ambiental, coleta de lixo, proteção aos oceanos e prática de esportes, vem ganhando cada vez mais adeptos nos últimos anos. É o Plogging, que envolve catar o lixo do caminho enquanto você pratica alguma atividade física, como caminhada, jogging ou trekking. Em tempos em que os plásticos são umas das maiores ameaças para os oceanos no mundo todo, e considerando a importância dos oceanos para a nossa sobrevivência, o plogging pode se juntar aos mutirões de limpeza de praia como uma alternativa para amenizar os efeitos da poluição nos mares. Nada, claro, que substitua a mudança de comportamento de cada um de nós.
As atividades humanas estão ameaçando a saúde dos nossos oceanos. Cerca de 25 milhões de toneladas de lixo (8 milhões delas são plásticos) vão parar nos oceanos anualmente, destruindo ecossistemas marinhos, matando e contaminando animais e a nós mesmos, e deixando nossas praias impróprias para banho. Quando descartamos uma garrafinha de água, ela tem 80% de chances de terminar no mar, porque nossa gestão de resíduos sólidos simplesmente não dá conta do lixo que produzimos. Precisamos ter em mente que o lixo que geramos no pico da montanha também chega no mar! O Brasil é o 4º maior produtor de lixo do mundo, segundo o WWF. Então imagine o estrago por aqui!
Mas o que é Plogging, afinal?
Plogging é uma atividade que nasceu na Suécia, em 2016. Combina corrida com coleta de lixo. E, por isso, ganhou o nome de plog, que significa lixo em sueco + ging, de jogging. A proposta foi se expandindo para outros países e ganhando novas versões, com pessoas coletando lixo também durante as caminhadas em praias e trilhas. No caiaque e na canoa havaiana também vale! A ideia é ser uma maneira divertida de fazer exercício e, ao mesmo tempo, interceptar o lixo e resíduos de plástico antes que cheguem nos ralos, rios e oceanos. Cá entre nós, sabemos que, muito antes disso, os ecoturistas já tinham esse costume!
No Brasil, alguns grupos já se organizaram para fazer a prática em conjunto. É o caso do Plogging Recreio, no Rio de Janeiro, e do Plogging Porto Seguro, na Bahia. Quem sabe você se junta a algum grupo ou organiza o seu?
Mas proponho também que você faça plogging enquanto estiver viajando! Quantas vezes não fazemos trilhas, caminhamos tranquilamente por praias, andamos de caiaque, ou até damos uma corridinha durante nossas viagens para não perder o pique? Se você está em um destino que ama, que tal ajudar a protegê-lo? Ok, aquele lixo não é seu, mas, infelizmente, ele foi parar no seu mundo. Lanço aqui o desafio para os viajantes responsáveis! Me contem lá nos comentários o que vocês já têm feito por aí! 😜
Para fazer a atividade é importante levar um saco (se puder não ser de plástico seria ideal!) e tomar alguns cuidados, claro. Segurança é prioridade. Antes da pandemia, fiz plogging em algumas praias, como em Angra dos Reis e em Ipanema, no Rio. Da última vez que fui fazer, na Praia do Cassange, na Península de Maraú, já estávamos em pandemia e o cuidado foi redobrado. Claro que estamos em um momento atípico, então deixo esse alerta para, quem não se sentir confortável, esperar esse caos passar.
Mutirões de limpeza de praia normalmente registram bitucas de cigarro como os líderes do lixo nas praias e realmente foi o que mais encontrei em Angra dos Reis. Mas já em Maraú, quase nenhuma bituca e muito saco plástico, embalagem plástica, copinho, garrafinha, saco de biscoito e todas as variantes do plástico 😥
Em 2019, o Conselho Consultivo de Jovens do Dia Mundial do Oceano lançou o manual “Plog for The Ocean“, que tem ótimas sugestões para quem quer organizar mutirões ou eventos, mas algumas delas podem funcionar também para nós viajantes. Fiz uma coletânea e juntei com minhas próprias experiências e compartilho abaixo ideias para você fazer seu plogging com segurança e consciência.
Dicas para um plogging seguro e responsável:
1. Tenha consciência do seu trajeto e da quantidade de lixo que conseguirá realmente carregar. Não precisa dar uma de super-herói. Se for percorrer longas distâncias, recolha o que é possível.
2. Escolha trajetos seguros. Nada de fazer plogging na beira da estrada ou em regiões perigosas.
3. Considere que, além do exercício que você faz normalmente, precisará abaixar e levantar o tempo todo para coletar o lixo. Avalie se suas costas e joelhos estão preparados.
4. Leve um saco, de preferência resistente, e ainda melhor se tiver uma alternativa sustentável. Nunca coloque o lixo dentro do seu bolso, mochila ou outro objeto pessoal.
5. Luvas são sempre uma garantia a mais de segurança. E, durante a pandemia, avalie a necessidade de máscara se estiver próximo a outras pessoas. Álcool gel também pode ser usado, mas com cuidado com o sol e para não ir parar no mar.
6. Não esqueça a sua garrafinha de água retornável, claro! E proteja-se do sol.
7. Não recolha, em situação nenhuma, itens perigosos ou que representem risco potencial para a saúde, como seringas, vidros quebrados, fraldas, preservativos ou equipamentos de higiene pessoal, como máscaras ou luvas.
8. Não se preocupe em retirar algas, folhas e outras coisas da natureza. Aliás, cuidado para não tirar ninguém do seu habitat natural! Nada de levar conchas de lembrança ou fazer fotos com estrelas do mar. Se o lixo estiver ali por muito tempo, ele às vezes pode servir de refúgio para animais, especialmente animais marinhos. Esteja atento a isso.
9. Se você encontrar algum animal marinho ou silvestre em sofrimento no caminho, procure contactar a autoridade competente para avisá-la. Não tente removê-lo.
10. Esteja atento (a) à sua postura. Dê preferência sempre a dobrar os joelhos e agachar. Evite inclinar as costas, porque, em algum momento, você vai acabar sacrificando ela.
11. Se você tiver a oportunidade de separar o lixo na volta, é o ideal e o planeta agradece!
12. Tire fotos do seu lixo e compartilhe no aplicativo Litterati, que faz um mapeamento colaborativo do lixo no mundo.
13. Registre suas fotos e compartilhe nas redes sociais! Vamos difundir essa prática!
+ Mais: