Viajante Responsável

Turismo Sustentável e Regenerativo: existe diferença?

turismo sustentável e regenerativo
Foto: Viajar Verde
Escrito por Ana Duék

Como se não bastassem as confusões e desinformações que cercam com o termo turismo sustentável, agora temos um novo conceito para lidar – o turismo regenerativo. E antes que você pense “lá vem mais uma palavrinha da moda que significa o mesmo de sempre”, eu faço aqui minha defesa: turismo sustentável e regenerativo não são a mesma coisa e nem um, o desdobramento do outro. Vou tentar aqui explicar por quê.

Eu já tinha feito uma matéria similar buscando diferenciar o turismo sustentável do responsável. Meu objetivo não é ficar presa a conceitos porque sei que, quando a coisa parece complexa, a gente não parte para a ação. E, mais do que nunca, precisamos de atitudes! Mas acho importante, sim, entendermos as diferenças e como essas visões podem se complementar para termos efetivamente um turismo de impactos positivos.

Nos meus textos venho adotando quase sempre o termo ‘turismo sustentável’ entendendo que ele é, no momento, mais compreensível para todos. Mas, quando penso em turismo sustentável, procuro integrar aprendizados que os diversos conceitos foram trazendo com o tempo. Convido você a fazer esse exercício também!

Tenho visto na mídia definições muito simplistas sobre o turismo regenerativo e outras até confusas. Alguns dizem ser um desdobramento do turismo sustentável ou a mesma coisa. Outros, que é sobre deixar melhor o lugar que visitamos. E há quem já entenda um dos principais argumentos do turismo regenerativo: não basta mais sustentar, precisamos regenerar o que já destruímos. “A afirmação constantemente repetida de que o turismo regenerativo nada mais é do que uma experiência em que o visitante deixa o local melhor do que o encontrou não tem ajudado. É uma coisa maravilhosa, mas não podemos simplificar tanto. Não podemos colocar toda a responsabilidade no viajante (…)”, escreve a especialista em turismo regenerativo, Sonia Teruel, nesse ótimo artigo que destaca as diferenças entre turismo sustentável e regenerativo, explicando como a sustentabilidade pode se integrar aos princípios da regeneração.

A ideia de regeneração já existe desde meados do século passado, embora só recentemente tenha se tornado mais conhecida. Em 1992, a pesquisadora e especialista Anna Pollock já destacava a urgência de mudarmos completamente nossa mentalidade em relação ao turismo, buscando uma visão mais integradora e holística que permitisse que as viagens desempenhassem um papel na cura dos relacionamentos entre as pessoas e entre elas e os destinos:

“No turismo, isso exige um novo modelo, um novo paradigma de turismo que atenda ao homem como um todo: física, emocional, intelectual e espiritualmente. Um novo modelo que mede o crescimento em termos qualitativos em vez de quantitativos. Uma visão mais profunda e inspiradora que vê o turismo inserido em uma matriz, uma teia intrincada de relacionamentos interconectados (…) que vê o turismo como um sistema orgânico – um organismo vivo”. (*1)

Por aí já dá para notar como ele se diferencia do turismo sustentável, certo? A visão holística, ecológica, biocêntrica, e que entende o turismo como um sistema vivo, seria o primeiro passo para agirmos de forma regenerativa. Parece filosófico, mas não é. Afinal, temos falado tanto sobre viagens transformadoras, impactos positivos e “um novo turismo”, que entendo que estamos abertos a mudanças. O que pode ser esse novo turismo senão uma desconstrução de tudo o que fazíamos até agora? Vamos refletir?

turismo sustentável e regenerativo

A turismóloga e guia Amanda Liara no Legado das Águas, SP | Foto: Viajar Verde

A turismóloga holística, fundadora da EkoWays Caminhos Regenerativos, Amanda Liara, lembra que a ideia de sustentabilidade foi construída em um momento em que acreditávamos que sustentar o modelo de consumo era possível: “Nós temos hoje o consumo referente a 1,9 planetas, que inviabiliza a sustentação desse modelo”. Amanda entende que o turismo sustentável traz uma perspectiva de mundo reducionista. “A regeneração não é apenas para reparar os danos, mas um novo paradigma que segue os princípios dos sistemas vivos para alcançar objetivos além da sustentabilidade. Precisamos ter como objetivo culturas regenerativas, onde exista a visão holística, que funcionem colaborativamente e coloquem a natureza no centro. Esta é uma nova forma de fazer, sentir e querer o turismo, com a consciência de operarmos dentro dos limites planetários“.

O The Good Tourism Blog traz também uma matéria onde especialistas abordam seus entendimentos sobre as diferenças entre turismo sustentável e turismo regenerativo. A pesquisadora Loretta Bellato resume como encontrou nove distinções entre ambos na sua última pesquisa acadêmica (*2). Entre eles estão a visão do turismo como uma indústria (sustentável) versus o entendimento do turismo como um sistema vivo (regenerativo). Além disso, o turismo sustentável busca reduzir os danos causados pelo turismo, enquanto o turismo regenerativo promove ganhos para todas as partes envolvidas, incluindo a natureza, anfitriões, visitantes e a comunidade local. Ela lembra também que o turismo sustentável busca o crescimento econômico contínuo e trabalha com um sistema “hierárquico”. Já o regenerativo trabalha com a co-criação e prioriza a igualdade e a inclusão para que o desenvolvimento social, ecológico, espiritual e cultural se harmonizem naturalmente com a economia.

“Apesar dessas distinções, é importante notar que a sustentabilidade é considerada um processo de regeneração essencial e interdependente. O trabalho da sustentabilidade, como a conservação e a restauração, é mantido por meio do desenvolvimento da capacidade regenerativa. Em outras palavras, incorporar medidas de sustentabilidade faz parte do desenvolvimento de lugares e comunidades regenerativas”, explica Loretta.

*1 Shifting Gears: Building a New Tourism for a New Century, Anna Pollock (escrito em 1992. Publicação de 1995).
*2 Regenerative tourism: a conceptual framework leveraging theory and practice, Loretta Bellato, Niki Frantzeskaki &Christian A. Nygaard (Março, 2022)

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Sobre o Autor

Ana Duék

Jornalista de viagens com Mestrado em Gestão de Turismo e Hospitalidade pela Middlesex University (Londres). Desde 2015 defendendo um turismo mais consciente. Acredito que as viagens podem gerar mais impactos positivos para viajantes e para os destinos que nos recebem. Vamos descobrir como?