Tenho lido e escutado muitas especulações sobre como será o “turismo pós-Covid” e, principalmente, sobre como as pessoas vão sair desse momento mais conscientes e solidárias. Desde o princípio, essas “certezas” me incomodaram e me calei. Afinal, nem sabemos ainda o que, como e quando será o “pós-Covid”. Finalmente, comecei a ouvir palavras que me pareceram mais sensatas, ou ao menos mais próximas dos meus sentimentos, e tudo passou a fazer mais sentido. Uma delas foi “autorresponsabilidade”.
Infelizmente, não conseguimos ainda afirmar exatamente o que virá “depois”. E, creio eu, não podemos esperar que o mundo e as pessoas se transformem da noite para o dia. Não quero aqui ser pessimista, nem realista. Mais do que nunca, precisamos de otimismo! Mas também precisamos de cuidado para não nos desapontarmos. Estamos vivendo um luto. Tive certeza disso hoje ao ler o depoimento de um amigo brasileiro que está na Índia, acompanhando pessoas morrerem não pelo Coronavírus, mas de sede, fome, cansaço, ao caminharem centenas de quilômetros, para saírem das grandes cidades e voltar para suas antigas casas para o isolamento social. Também tive meu próprio luto hoje ao ler o texto brilhante “Os nomes dos números”, de Tayná Saes, do Sutilezas Atômicas.
Então sentamos e esperamos? Não! Podemos usar esse momento para nos conscientizarmos e, por que não?, multiplicarmos nossos aprendizados para os outros. Não posso acreditar que, conscientes de como nossa interação completamente errada com a natureza facilitou a disseminação do Coronavírus, as pessoas passarão a cuidar melhor de suas atitudes e do planeta; não posso prever que, vendo os níveis de poluição reduzirem no mundo e os animais voltarem a ocupar seus espaços, as pessoas vão entender que as mudanças climáticas podem matar tanto quanto esse vírus; não posso ter certeza de que, vivendo agora com o que é “essencial”, as pessoas vão dispensar para sempre o que não é.
O que podemos fazer, daqui para a frente, é assumir nossa autorresponsabilidade e escrevo isso para que eu mesma me convença. Ouvi hoje de uma enfermeira sobre como temos a grande mania de buscarmos culpados. Sejam os chineses, o presidente ou a pessoa que nos infectou. Ainda vemos muita gente no processo de negação, mas, por outro lado, muitos de nós estamos aprendendo sobre a parte que nos cabe e usando nossas redes e influências para conscientizar o outro.
Entendo que sairemos dessa em uma situação bem diferente da que entramos, mas cabe a cada um de nós fazer desse “novo normal” o melhor possível. E aí entra também a responsabilidade do turismo. Não podemos afirmar, como tenho visto, que o turismo sustentável e o ecoturismo serão tendências no próximo momento, se nós mesmos não multiplicarmos essas tendências. Mesmo não tendo certeza do que virá, é a hora certa de empresas, destinos e organizações educarem e conscientizarem os viajantes que estão isolados e buscando informações por aí. O Turismo Sustentável, a partir de agora, poderá ser ressignificado, com a segurança vindo como prioridade, mas a solidariedade e a preservação do meio ambiente certamente virão junto.
Não sentemos para esperar o que virá depois. Aproveitemos o agora para nos questionarmos e provocarmos o outro sobre como nosso excesso de voos representa 2% das emissões mundiais de dióxido de carbono; sobre como nossas escolhas de hospedagem, destinos e operadoras podem ser benéficas ou negativas para a comunidade que nos recebe; sobre como nossa alimentação pode ser sinônimo de desmatamento ou de transmissão de doenças; sobre como nossas atitudes na natureza podem ser restauradoras ou trazer perigo para nós e destruição para os animais e para o planeta. E, a partir de nossas ações, acreditar sim que vamos transformar o mundo para melhor! 💚
Aproveito para deixar algumas dicas de como poderemos viajar de forma mais responsável, em breve:
9 maneiras de economizar viajando como um turista responsável
Guia: como viajar sem plástico
6 dicas para reduzir sua pegada ecológica como viajante
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