O Turismo de Base Comunitária, também chamado de TBC, é um estilo de viagem único, que valoriza as culturas tradicionais. As comunidades são o centro da experiência e proporcionam um ambiente de trocas e aprendizados com o viajante. Mas antes de embarcar nessa jornada cultural, veja tudo o que você precisa saber sobre o Turismo de Base Comunitária.
O que é Turismo de Base Comunitária
Na América Latina, as primeiras incursões turísticas em comunidades foram datadas na década de 80. O Turismo de Base Comunitária foi então se desenvolvendo para suprir algumas necessidades dos destinos, das comunidades locais e dos viajantes, como gerar renda alternativa para comunidades isoladas, apoiar a conservação dos biomas que são atrativos desses destinos, formar resistência e valorização da cultura de comunidades tradicionais e ofertar experiências únicas e de imersão cultural aos turistas.
Segundo Mariana Madureira, turismóloga, empreendedora social, co-fundadora e diretora na Raízes Desenvolvimento Sustentável, o TBC humaniza o turismo marcado por uma simples relação comercial. Ao abrir a comunidade para receber o turista nasce a possibilidade de se desenvolver uma troca afetiva e cultural que o turismo convencional normalmente não oferece.
Portanto, um destino que oferece o TBC como atrativo tem a presença de Comunidades Tradicionais, que são aquelas que mantêm os costumes e conhecimentos antigos, passados de geração e geração, e se distinguem das culturas de massa.
Conforme o Manual Caiçara de Ecoturismo de Base Comunitária, para ser considerado comunidade tradicional, o grupo deve ter em sua base o desenvolvimento sustentável, com ações como a preservação do meio ambiente, garantir os direitos da população local, valorizar o patrimônio cultural e os valores locais e estimular o desenvolvimento social e econômico das comunidades. Entre as cerca de 28 comunidades tradicionais reconhecidas no Brasil estão os caiçaras, extrativistas, indígenas, quilombolas, ribeirinhos e outros mais.
Apesar de algumas semelhanças, as experiências nas viagens de TBC podem variar significantemente, tanto em tipos diferentes de comunidades, como no caso dos caiçaras e quilombolas, quanto em comunidades com origens similares. Por exemplo, uma comunidade caiçara pode se organizar diferentemente de outra devido às influências que recebe da região que habita.
- Contato com a natureza.
- Saberes sobre diferentes plantas e seus usos.
- Experimentar a culinária local.
- Aprender sobre a organização social de comunidades.
- Descobrir a música e danças tradicionais.
- Apreciar a arte e artesanatos.
- Vivenciar rituais de cura.
Estes são apenas alguns dos aspectos mais comuns, mas cada roteiro pode proporcionar vivências diferentes conforme o que cada comunidade pode ofertar: você pode ir para uma comunidade para fazer um ritual de cura, para fazer trilhas e conhecer mais sobre sobrevivência na mata, ou ainda fazer uma visita para conhecer o dia a dia e a cultura local.
É importante que, antes de escolher o roteiro, você entenda se ele está consoante o que você busca. Porém, lembre-se sempre de deixar margem para experienciar coisas novas, de mente e coração abertos, afinal, a magia do TBC está em estar disposto a experimentar o que a comunidade pode oferecer.
Porque fazer uma viagem de Turismo de Base Comunitária
O Turismo de Base Comunitária é uma ótima opção para viajantes em busca de uma experiência autêntica, responsável e ecológica. Essa é uma maneira de ampliar a nossa visão sobre o mundo e as formas de habitá-lo, aprendendo com as comunidades tradicionais como podemos coexistir de uma forma sustentável e respeitando o diferente.
Segundo Solange Barbosa, especialista em Turismo Étnico e Cultural com base Comunitária, as comunidades rurais, tradicionais, caiçaras e indígenas foram ao longo dos tempos as maiores responsáveis pela preservação ambiental através de seus conhecimentos e práticas ancestrais. Ao receber os turistas estas comunidades dividem saberes e comunicam as responsabilidades para a continuidade dos cuidados com o planeta.
Portanto, apoiar o TBC é uma forma de fortalecermos aquelas pessoas que estão protegendo e até regenerando a Terra. Mas, para além de praticar um turismo responsável, fazer viagens de Base Comunitária traz experiências realmente únicas!
As opções desse tipo de viagem estão muito conectadas com o vivenciar e mergulhar no aspecto cultural. Você pode passar dias compartilhando com comunidades, dormindo em suas casas, comendo da mesma comida e ouvindo suas histórias. Pode ter a experiência de aprender a fazer arte no barro ou um artesanato de palha. Talvez você saia para pescar de forma artesanal e conheça os segredos do rio ou do mar, para depois preparar um peixe na fogueira para comer com farinha de mandioca feita na comunidade, enquanto houve as músicas tradicionais de ciranda.
Essas são experiências que certamente vão te trazer mais do que fotos, mas sim memórias e aprendizados inesquecíveis!
Cuidados no TBC: como ser um viajante consciente
Por mais que essa seja uma prática incrível de turismo, o TBC pode trazer também impactos negativos, como:
- exploração e desrespeito com a cultura e a comunidade;
- introdução de uma cultura baseada no consumo, podendo afetar a cultura tradicional e até mesmo o dia a dia na comunidade;
- mudanças extremas na cultura somente visando servir aos turistas;
- aumento de lixo no local com a vinda dos turistas;
- sobrecarga em sistemas de água e de esgoto;
- risco de transmissão de doenças.
Aqui estão algumas dicas que Mariana Madureira nos deu sobre como ser um viajante consciente em destinos de Turismo de Base Comunitária:
- O visitante deve procurar saber sobre a comunidade antes de visitar, entender onde está indo e quais são os costumes dali.
- Ter uma postura respeitosa e atenta. Muitas pessoas não se dão conta de que quando você visita uma comunidade, ali é a casa de alguém, é um ambiente privado. Então precisamos ter respeito e pedir autorização para entrar nos espaços.
- Não fotografar as pessoas sem sua permissão.
- Fazer o roteiro com uma operadora autorizada e responsável ou com uma liderança local é um bom caminho para não ser invasivo.
Nessa lista também podemos adicionar o cuidado com os resíduos que você está levando: não deixe nada na comunidade, que muitas vezes não tem como descartar corretamente. Evite também levar presentes que podem ser problemáticos para a comunidade, como tecnologias que elas não podem usar, ou comidas industrializadas que vêm com embalagens de plástico.
Como fazer uma viagem de Turismo de Base Comunitária no Brasil
Cada vez mais comunidades e empresas estão se articulando para ofertarem Turismo de Base Comunitária no Brasil. Porém, é importante que o viajante fique atento e escolha roteiros responsáveis, que realmente estão valorizando as comunidades e que são desenvolvidos e gerenciados por elas. Algumas opções interessantes são:
- O roteiro Do Barro à Arte, no Vale do Jequitinhonha, da Vivejar.
- As experiências de etnoturismo na Reserva Pataxó Porto do Boi, em Caraíva, Bahia.
- Os roteiros com a comunidade indígena Baré, na Amazônia, da Braziliando.
- A Rota da Liberdade, focada em experiências em quilombos e afroturismo.
- Rede Batuc, com turismo comunitário na Bahia.
- Rede Tucum, a Rede Cearense de Turismo Comunitário.
- Turismo Comunitário na Baía de Castelhanos, em Ilhabela, SP.
Independente da experiência que você escolher, tenha em conta que é primordial que o TBC seja um projeto desenvolvido totalmente ou em parceria com a comunidade local, que deve ter voz ativa em todos os processos. Infelizmente, algumas experiências são criadas sem a participação dos moradores, por empresas ou pessoas que chegam de fora com uma fórmula pronta onde a população deve se adaptar ao que eles desejam, descaracterizando o TBC e trazendo problemas a médio e longo prazo para o destino, como a exploração de pessoas, animais e natureza.
Praticar o TBC pode te trazer momentos únicos e viagens ímpares, mas lembre que o apoio a esses grupos não se limita em visitá-las: acompanhar as pautas de interesse social e comunitário, valorizar essas culturas e se despir de preconceitos é essencial se queremos incentivar e fortalecer a existência das comunidades tradicionais.