Muito além das belas praias e incríveis paisagens, o litoral norte de São Paulo e a Costa Verde do Rio de Janeiro são territórios de povos e comunidades tradicionais quilombolas, indígenas e caiçaras que há muitos anos ali se estabeleceram. Nas cidades de Angra dos Reis, Paraty e Ubatuba, 17 destas comunidades estão reunidas na rede de Turismo de Base Comunitária do Fórum de Comunidades Tradicionais (FCT), que ganhou o nome de Nhandereko (“o nosso jeito de ser” na língua guarani).
Cada uma das comunidades oferece roteiros e experiências diferentes para receber turistas, apresentando seus territórios e suas tradições caiçaras, indígenas e quilombolas. Os visitantes têm contato com a gastronomia tradicional; os costumes, as danças, cantos e artesanatos; as vivências comunitárias com a pesca, canoa, religiosidade. Experimentam ainda a integração com a Mata Atlântica, em cachoeiras, praias, ilhas e fauna exuberantes. O turismo virou não só uma oportunidade para as comunidades fortalecerem seus laços culturais, mas também para gerarem emprego e renda localmente. Reunidas, através da Rede Nhandereko, elas vêm compartilhando experiências e capacitação e fortalecendo sua comercialização.
“Somos uma rede de empreendimentos turísticos ligados ao Fórum de Comunidades Tradicionais e protagonistas de uma forma de turismo sustentável, que não interfira em nossos modos de vida, com o objetivo de gerar renda, mantendo a cultura e a tradição, passando os conhecimentos para nossas novas gerações e proporcionando conhecimento relacionado ao nosso modo de vida aos visitantes”, explica Ariane, do quilombo do Campinho.
As primeiras iniciativas de turismo comunitário na região acontecem desde 2003, mas, a partir de 2016, as comunidades começaram a se articular com mais frequência por meio do Fórum de Comunidades Tradicionais – FCT. Em 2017 surgiu a ideia de criar uma central única de comercialização de produtos e serviços em turismo de base comunitária da Rede Nhandereko, como estratégia para ampliar sua capacidade comercial e de comunicação, e um site contendo o portfólio online, dos produtos e serviços oferecidos por três comunidades (Trindade, São Gonçalo e Campinho), que deve ficar pronto no mês de março de 2018.
“O TBC é uma possibilidade de resistência no território, faz com que a comunidade possa se olhar”, pontua Maria Guadalupe da comunidade caiçara de Trindade (RJ). A iniciativa, reúne diversas comunidades, empreendimentos coletivos, individuais e familiares e consolida de maneira intensa no território um turismo protagonizado pelos comunitários da região como uma ferramenta de luta em defesa de seus direitos.
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Em 2015, o FCT lançou um mapa de bolso com atrativos e contatos de 17 comunidades que atuavam com turismo na região. Atualmente, participam dos debates da Rede Nhandereko as comunidades de:
Paraty: Quilombo do Campinho, Comunidades Caiçaras de Trindade, São Gonçalo, Pouso, Sono, Praia Grande da Cajaíba, Aldeia Guarany Mbya de Paraty Mirim.
Ubatuba: Aldeia Guarany Mbya de Boa Vista, Quilombo da Fazenda e a comunidade Caiçara de Ubatumirim.
Angra: Quilombo de Santa Rita do Bracui e a Aldeia Guarany Mbya de Sapukay.
A aldeia Guarany Mbya de Boa Vista, em Ubatuba, oferece roteiros estruturados e também é possível fazer visitas às terras indígenas de Paraty Mirim, em Paraty, e Sapukay, em Angra. Na maioria das comunidades, com exceção das aldeias, é possível se hospedar e fazer refeições, incluídas ou não nos pacotes.
Alguns roteiros oferecem comida típica. Entre eles estão o restaurante do Quilombo, na comunidade do Campinho, que acumula vários prêmios e participa do polo gastronômico de Paraty; o Restaurante da Bete, na Ilha do Pelado, comunidade de São Gonçalo; e o restaurante do Bieca, em Trindade, que oferece o Azul Marinho, prato típico caiçara.
No Quilombo do Campinho, ao longo do verão, acontece o Batuque na Cozinha, com apresentação de rap, samba, jongo entre outras manifestações culturais quilombolas.
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