Destino Internacional

Mashpi Lodge: um hotel de selva conservando o Chocó Andino, no Equador

Mashpi Lodge
Mashpi Lodge | Foto: Ana Duék - Viajar Verde
Escrito por Ana Duék

A menos de 3 horas de carro de Quito, no Equador, está um paraíso ainda pouco conhecido tomado pela floresta nublada. Localizado na região do Chocó Andino, um dos biomas mais biodiversos do mundo, mas também extremamente ameaçado, esconde-se o charmoso Mashpi Lodge. Cercado por uma reserva de 2.500 hectares totalmente destinada à conservação, o hotel se acostumou a receber hóspedes verdadeiramente apaixonados pela natureza.

Ali, graças às pesquisas científicas realizadas na Reserva Mashpi, novas espécies e dinâmicas da natureza vêm sendo descobertas. Em 2022, a equipe de biólogos residentes, em parceria com universidades, catalogou uma nova espécie de rã-de-vidro (Centrolenidae), que ganhou o nome em homenagem ao local. A Hyalinobatrachium mashpi, ou Rã de Cristal Mashpi se juntou a outras espécies reveladas nos anos anteriores: a Rã Torrentícola de Mashpi (Hyloscirtus mashpi), a Magnolia mashpi e a orquídea Lepanthes mashpica para compor a infindável lista de espécies que encantam não só os pesquisadores, mas também os visitantes.

Reserva Mashpi

A Reserva Mashpi ajuda a preservar 2.500 hectares do Chocó Andino | Foto: Ana Duék – Viajar Verde

Depois de algumas aventuras pela floresta, é impossível ir embora do Mashpi Lodge sem se deparar com algumas das mais coloridas espécies de pássaros e borboletas, incríveis orquídeas ou curiosos mamíferos, como iraras e cutias. Em volta do hotel vivem cerca de 300 espécies de mariposas e borboletas, 400 espécies de aves, além de tairas, cotias, quatis, bugios, tamanduás, pumas, jaguatiricas e diversas espécies de flores e árvores, incluindo rãs e orquídeas que só existem por lá.

O Mashpi Lodge foi uma das deliciosas surpresas da minha viagem ao Equador, porque não estava na programação inicial. Afinal, mal sabia eu que, a poucos quilômetros da cidade histórica de Quito, era possível encontrar um lugar de natureza tão grandiosa. Mas o Equador nos reserva mesmo essas surpresas quando a gente menos espera!

Reserva Mashpi

Araçari-de-dorso-encarnado ou tucaninho-da-rabadilha-vermelha é uma espécie de tucano encontrada nas florestas andinas do Equador | Foto: Ana Duék – Viajar Verde

O que é o Chocó Andino Equatoriano e por que você precisa conhecê-lo?

A Reserva da Biosfera do Chocó Andino de Pichincha é a sétima Reserva da Biosfera do Equador. Ocupa uma área de 287 mil hectares no oeste e noroeste da província de Pichincha (da qual Quito é a capital), estendendo-se pelas paróquias de LLoa, Nono, Pomasqui, San Antonio de Pichincha, Calacalí, San José de Minas, Nanegalito, Nanegal, Gualea, Covenant e Mindo. Estima-se que o Chocó Andino abrigue mais de 18 mil pessoas, 700 espécies de aves, 140 espécies de anfíbios, 100 espécies de mamíferos e 40 de répteis.

O Chocó Equatoriano faz parte do hotspot de biodiversidade Tumbes-Chocó-Magdalena, também conhecido como Chocó biogeográfico, que se estende pela costa do Pacífico por 1.500 km, do sul do Panamá ao norte do Peru, e é um testemunho da impressionante diversidade de vida no noroeste da América do Sul.

Mashpi Lodge

Reserva Mashpi vista do alto | Foto: Ana Duék – Viajar Verde

Assim como diversos outros biomas no mundo, o Chocó Equatoriano vem enfrentando sérias ameaças pela expansão agrícola, caça, madeireiras e desmatamento. De acordo com a Fundación Jocotoco, desde 1938 o Equador perdeu mais de 98% de seus bosques nativos da região biogeográfica do Chocó (que inclui o Chocó Andino e as florestas costeiras).

Em 2023, 68% da população da província de Pichincha votou em um referendo pelo fim da mineração na Reserva da Biosfera, que convive com 12 concessões para a prática. A votação foi pela proibição foi mais significativa do que na Amazônia equatoriana, onde 59% dos eleitores votaram para encerrar a exploração de petróleo.

O turismo vem se tornando uma alternativa cada vez mais importante de conservação para a região e de renda para os moradores locais. Além de hotéis e atrativos, podemos encontrar no Chocó Andino projetos de turismo comunitário, como o da comunidade Yunguilla.

Irara (ou taira) no Mashpi Lodge | Foto: Ana Duék – Viajar Verde

O que é a floresta nublada do Equador?

Uma floresta sempre verde, visitada quase que diariamente pela chuva, onde a névoa penetra pela copa das árvores, alcançando o chão. Para uma carioca acostumada com o clima húmido e a Mata Atlântica, adentrar a floresta nublada foi uma grande surpresa. Era como estar em uma versão de sonhos da nossa floresta tropical. Ali, a humidade perene de 90% o ano todo, supera até mesmo a Amazônia.

As florestas nubladas do Equador são florestas tropicais localizadas nos Andes e, portanto, em regiões de altitude elevada e clima mais frio. Elas recebem precipitações significativas o ano todo e desenvolvem um bioclima único que oferece um ambiente verdejante ideal para várias espécies de plantas e animais, incluindo uma abundância de epífitas, orquídeas e bromélias, além de animais como pumas, ursos de óculos, pássaros exóticos e répteis.

Floresta nublada

Floresta nublada | Foto: Ana Duék – Viajar Verde

A história por trás do Mashpi Lodge

Foi para ajudar a proteger essa região tão rica que nasceu o Mashpi Lodge. Mashpi vem da palavra Kichwa “Mashi”, que significa amigo, e da palavra em Yumbo “pi”, que simboliza água. Antes de ser um hotel de luxo, Mashpi é uma reserva privada que começou com uma área de 600 hectares e hoje já abrange 2.500 ha. Todas as iniciativas e práticas do hotel estão voltadas para a conservação da floresta, pesquisas científicas e o apoio e integração com as comunidades locais.

Hyalinobatrachium mashpi Lucas Bustamante

O incrível Sapo de Vidro Mashpi | Foto: Lucas Bustamante

A ideia de aliar turismo responsável e a conservação dos últimos remanescentes do Chocó Andino foi do empresário, ambientalista e ex-prefeito de Quito, Roque Sevilla. Desde 2001, quando adquiriu a área de uma madeireira, Roque tinha o objetivo de criar corredores biológicos junto com outras reservas e promover a regeneração da região. Antes mesmo de começar a construção do lodge, um biólogo foi contratado para fazer o mapeamento da Reserva Mashpi e dar início às pesquisas. Mal sabiam eles que tantas novas descobertas seriam feitas por ali!

Mashpi Lodge

Mashpi Lodge | Foto: Ana Duék – Viajar Verde

Para reduzir ao máximo os impactos ambientais, a moderna estrutura do Mashpi Lodge foi instalada em um espaço que já havia sido desmatado pela madeireira. Ainda assim, a área construída do hotel é pequena, priorizando sempre a integração responsável com a floresta e materiais e técnicas de construção sustentáveis que neutralizam temperaturas quentes e frias. Enormes janelões de vidro, do chão ao teto, garantem não apenas paisagens incríveis, mas a sensação de estarmos em contato com a natureza até mesmo na hora de dormir.

Restaurante do Mashpi Lodge

Restaurante do Mashpi Lodge | Foto: Ana Duék – Viajar Verde

As 24 espaçosas suítes com vista para a floresta ficam distribuídas em três andares. No mesmo prédio ficam o Spa, a lojinha com itens indispensáveis e o incrível restaurante, que combina técnicas modernas e culinária internacional com uma homenagem à rica herança gastronômica do Equador inspirada na costa e nos Andes. Prepare-se para comer muito bem! A poucos metros dali encontramos o Saway Centro de Bem-Estar e um espaço de yoga também cercados pela natureza.

Mashpi Lodge

Quarto com vista para a floresta | Foto: Ana Duék – Viajar Verde

Aventuras pela floresta nublada

Ao chegar no Mashpi Lodge somos recebidos pelo nosso guia local, que vai nos acompanhar nas atividades pelos próximos dias. Ele nos conta o que podemos fazer por lá e, juntos, decidimos a programação dos próximos dias. Meu guia, Arsenio, era morador da região e um apaixonado pelas aves e pela natureza. Durante o dia e a noite, os hóspedes podem se aventurar pelo bosque nublado em trilhas, observações de aves, bicicleta aérea, teleférico, cachoeiras, visitas ao Life Center, caminhadas noturnas e até mesmo conversas com o biólogo responsável pelas pesquisas no Mashpi Lab. São mais de 15 opções de atividades e expedições para todos os níveis de preparo físico.

Foto: Ana Duék – Viajar Verde

A grande estrela do Mashpi é um teleférico de 2 km que sobrevoa a floresta nublada e leva o nome carinhoso de Libélula. As gôndolas abertas percorrem lenta e silenciosamente a reserva, em um percurso de 40 min (ida e volta), levando no máximo 4 hóspedes e um guia. É a oportunidade de avistar aves que voam mais alto e se sentir também como uma, contemplando a floresta do alto. A Libélula é a única atividade que não está incluída nas diárias all-inclusive e deve ser paga à parte. Mas é um passeio imperdível para todos que lidam bem com a altura.

Life Center Mashpi

Borboletas no Life Center | Foto: Ana Duék – Viajar Verde

Pássaros no Mashpi

Pássaros no Mashpi | Foto: Ana Duék – Viajar Verde

A reserva tem diversas trilhas que possibilitam incríveis caminhadas, de 30 minutos a 4 horas. Algumas delas levam a cachoeiras. Outras podem ser combinadas com outras atividades. Dependendo da caminhada e do clima, o guia orienta para utilizarmos as galochas e capas de chuva que são emprestados pelo próprio hotel. Como as chuvas vêm e vão várias vezes durante o dia, esses dois itens são indispensáveis.

Bicicleta aérea

Bicicleta aérea | Foto: Ana Duék – Viajar Verde

O Mashpi conta também com uma bicicleta aérea, que tem um percurso mais curto do que a Libélula e é recomendada para pessoas mais ativas, já que exige algum esforço para as pedaladas. Ao lado da bicicleta está a torre de observação, com 26 metros de altura. No Life Center há também um espaço ideal para observação de aves e um borboletário. Cerca de 200 espécies de borboletas já foram identificadas na Reserva Mashpi e 21 dessas espécies já foram reproduzidas no Centro de Vida. Lá eu descobri que as borboletas vivem pouquíssimos meses (entre 2 e 3) 🙁

Meu grande encantamento ficou com o Jardim dos Beija-flores, onde podemos observar cerca de 15 espécies de beija-flores. Eles ficam livres pela reserva e chegam por ali para se alimentar. É uma oportunidade realmente única de estar pertinho deles e ver espécies tão diversas e coloridas. Além disso, passeiam por ali tucanos, saíras, esquilos, tairas e outros animais. Já foram identificadas cerca de 400 espécies de aves na Reserva Mashpi, das quais 36 são endêmicas (encontradas apenas ali). Portanto, qualquer atividade ou caminhada é momento para se deparar com aves incríveis e muito coloridas.

Jardim dos beija-flores do Mashpi Lodge

Jardim dos beija-flores do Mashpi Lodge | Foto: Ana Duék – Viajar Verde

Ciência cidadã: turismo, ciência e preservação caminhando juntos

Hospedar-se no Mashpi é um convite para nos tornarmos cidadãos cientistas enquanto apoiamos a conservação da floresta. Afinal, que melhor maneira de nos envolvermos na conservação do que participando ativamente do seu aprendizado e descobertas? A ideia da ciência cidadã incentiva a participação da população e do cidadão comum em pesquisas científicas e vem sendo conciliada com o turismo como uma forma de gerar conscientização e maior engajamento.

Mashpi Lab

No Mashpi Lab as crianças (e adultos) podem aprender mais sobre a reserva | Foto: Mashpi Lodge

Todo o conhecimento produzido dentro da reserva, muitas vezes em parceria com universidades e instituições nacionais e internacionais, é também compartilhado com as comunidades locais, com os hóspedes e com o mundo, com o objetivo de destacar a importância da conservação da região do Chocó Andino. Ao longo dos anos, as pesquisas já levaram à descrição de nove novas espécies.

Mateo Roldan, diretor de pesquisas e ciência do Mashpi Lodge, contou que o projeto em andamento no momento era a criação de um perfume a partir da endêmica Magnolia Mashpi, descoberta em 2016, que também vai apoiar a sua preservação. A pesquisa está sendo feita em parceria com a empresa de fragrâncias MANE e o The Red List Project (TRLP).

Mashpi Lodge

Mashpi Lodge | Foto: Michael Kleinberg

Conheça as práticas de sustentabilidade do Mashpi Lodge

– Técnicas de arquitetura e design sustentáveis foram utilizadas em todas as construções para garantir o mínimo impacto na floresta. Elas garantem um equilíbrio das temperaturas quentes e frias para evitar o uso de ar-condicionado e calefação.

– A estrutura principal foi construída em Quito para evitar danos às árvores.

– O hotel opera com sua própria usina de energia hidrelétrica e utiliza água reciclada de um riacho local. A hidroeletricidade é isenta de resíduos e silenciosa.

– Todas as luzes são de LED para reduzir o consumo de energia e de cor amarela para reduzir a atratividade de insetos à noite.

– Todos os produtos de limpeza são biodegradáveis e amigos do ambiente.

– Os hóspedes são incentivados a minimizar o uso de energia elétrica e utilizar amenities naturais.

– O hotel investe em uma parceria cada vez mais alinhada com as comunidades locais. Além de mais de 80% dos colaboradores serem da região, as comunidades são os principais fornecedores de alimentos e insumos utilizados no Mashpi.

– O restaurante trabalha principalmente com produtos da região.

Viajei a convite do Mashpi Lodge

 

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Sobre o Autor

Ana Duék

Jornalista de viagens com Mestrado em Gestão de Turismo e Hospitalidade pela Middlesex University (Londres). Desde 2015 defendendo um turismo mais consciente. Acredito que as viagens podem gerar mais impactos positivos para viajantes e para os destinos que nos recebem. Vamos descobrir como?