Em todas as nossas ações diárias estamos emitindo carbono na atmosfera e contribuindo para as mudanças climáticas e todas as suas consequências: aquecimento global, incêndios florestais, tempestades, secas, aumento do nível do mar, perda da biodiversidade e tantas outras. Mas as viagens, principalmente o transporte de avião, são talvez uma das maiores responsáveis pelo alto volume dessas emissões. Por isso, no mundo todo, o setor de turismo vem discutindo, há algum tempo, soluções para reduzir e compensar a pegada de carbono em todas as suas áreas – da hospedagem, à aviação.
Aqui no Brasil, porém, ainda estamos muito longe de entender o turismo como importante atividade responsável e também diretamente impactada pelas mudanças climáticas. Vivemos, é claro, questões sanitárias e sociais gravíssimas que, normalmente, entram como prioridade quando o assunto é sustentabilidade e geração de impactos positivos. Mas é essencial que a gente entenda que tudo está conectado e que o agravamento da crise climática nos leva diretamente ao aprofundamento das crises sociais.
Já vimos aqui no Viajar Verde como o turismo é responsável por cerca de 8% das emissões mundiais de gases de efeito estufa. De acordo com a organização Sustainable Travel International, as emissões do turismo podem vir de voos, outros transportes, hospedagens, desperdício de alimentos, geração de lixo, importações de itens diversos e destruição de reservas de carbono, entre outros. “Um voo de ida de São Francisco para Paris pode produzir pouco mais de 1,25 toneladas métricas de emissões de carbono por passageiro. Isso é mais de um quarto da quantidade de carbono que uma pessoa produz em média em todo o ano”, diz o site da organização. Como empresários, profissionais do setor ou viajantes, precisamos, mais do que nunca, entender o tamanho da nossa pegada ecológica e tomar medidas para reduzir e compensar nossos impactos. Fazendo escolhas mais conscientes e responsáveis na hora de reservar um hotel, se alimentar, escolher uma agência de viagens, utilizar um transporte, estamos diminuindo nossa pegada de carbono. A compensação pode vir como um complemento.
O que é compensação de carbono?
Esquemas de compensação de carbono permitem que indivíduos e empresas invistam financeiramente em projetos ambientais em todo o mundo para compensar suas próprias pegadas de carbono. Você compra créditos de carbono que são diretamente transformados em investimentos nessas iniciativas. Os projetos podem atuar em diversas frentes, como o lançamento de tecnologias de energia limpa, a extração de carbono direto da atmosfera e, o mais comum, o plantio de árvores.
Um crédito de carbono corresponde a uma tonelada de CO2. Para calculá-lo, são considerados todos os gases de efeito estufa emitidos pela atividade, empresa ou pessoa em questão e depois transformados em carbono equivalente (COe). Ou seja, não é um cálculo tão simples!
Como calcular a pegada de carbono da viagem?
Antes de decidir por um programa de compensação, o primeiro passo é calcular o tamanho da pegada de carbono da viagem ou atividade. De acordo com Paloma Zapata, CEO da Sustainable Travel International, ainda é muito difícil calcular as emissões de toda a viagem, uma vez que os comportamentos variam muito para cada indivíduo, hospedagem escolhida, atividades, alimentação e etc. A maioria das calculadoras, atualmente, é capaz de considerar apenas os transportes.
Há diversas calculadoras de carbono disponíveis online e deixei também uma aqui no final deste texto para você utilizar. Mas, normalmente, o próprio site ou programa de compensação que você escolhe também te oferece a facilidade de fazer o cálculo na plataforma deles.
Se você pesquisar sua hospedagem pelo site Book Different, eles indicam com um “pézinho” o valor da pegada de carbono em cada hotel e ainda fazem o ranking da menor para a maior! O Book Different é parceiro da Booking.com e, portanto, lista os mesmos hotéis. Por lá você pode se inspirar para escolher um hotel mais responsável. Veja só: em uma busca para junho no Rio de Janeiro, o Novotel Rio Copacabana aparece entre os hotéis com menor pegada de carbono.
Compensação de carbono das viagens é a solução?
Iniciativas de compensação de carbono vem sendo questionadas por especialistas como ineficientes ou até como falácias. Os críticos acreditam que estamos nos apoiando na compensação para permitir que grandes indústrias continuem poluindo e não façam mudanças estruturais nem invistam em inovações. É preciso agir antes de destruir. “No momento em que você começa a dizer às pessoas que seu carbono foi compensado, elas param de se importar. Elas veem isso como um passe livre”, disse o professor de Marketing de Sustentabilidade, Xavier Font, da University of Surrey, em entrevista recente à National Geographic.
Trago a questão como um alerta, para não acharmos que tudo se resolve com a compensação. Mas ela continua sendo utilizada em muitas áreas, é apoiada pela ONU e é uma das soluções. Nos últimos anos, novos projetos, plataformas e aplicativos de compensação de carbono vêm se desenvolvendo, se tornando mais eficientes, e muitos deles têm se direcionado especialmente para o turismo.
Em 2020, o Tomorrow’s Air se tornou o primeiro coletivo de remoção de carbono do mundo para viagens, incubado pela Adventure Travel Trade Association (ATTA). A grande particularidade da iniciativa é que, ao invés de compensar emissões com plantio de árvores, ela remove ativamente o carbono captando da atmosfera e armazena no solo. No Brasil, o Turismo CO2 Legal já vem atuando há muitos anos no litoral da Bahia e trabalha de forma integrada, com a conscientização da população local, de empresários e de viajantes. Turistas e empreendimentos que compensam suas emissões investem diretamente no apoio a produtores familiares, que assumem um compromisso com a conservação do destino.
Vamos ao que interessa então! Como fazer para compensar emissões de carbono das viagens? Listei aqui algumas dicas de plataformas e programas diretamente voltados para o turismo.
6 programas e sites para compensar o carbono das viagens
Ao escolher o esquema ou programa de compensação de carbono que vamos utilizar é importante nos certificarmos da seriedade e impactos já gerados pela iniciativa, além de confirmar que os créditos vendidos são sempre controlados e ‘aposentados’, não gerando duplicidade. Além disso, Paloma Zapata, da STI, recomenda que se dê preferência a programas que vão além do plantio de árvores e propõem também o envolvimento e benefícios para a comunidade local e a educação e conscientização sobre mudanças climáticas. Muitas companhias aéreas internacionais já oferecem a oportunidade de compensar emissões na hora da compra da passagem. O site calcula o valor dos créditos e você paga junto com a passagem.
1. Tomorrow’s Air
Como contei acima, o Tomorrow’s Air é um coletivo que reúne viajantes e empresas de turismo em uma missão de aumentar a remoção de carbono da atmosfera. Por meio da educação criativa, o Tomorrow’s Air inspira o setor a apoiar a captura direta e armazenamento permanente de carbono. Viajantes e empresas podem fazer suas compensações assinando um dos planos oferecidos e então passam a fazer parte da comunidade. Eu acabei de assinar o plano viajante Supporter Level, que custa U$ 10 por mês (infelizmente é o que é possível no momento!). Com ele, estarei ajudando a remover 85 kg de carbono ao ano. Se todos vocês forem comigo, conseguimos fazer muito mais! Vamos? 😀
2. Sustainable Travel International
Essa é uma organização fundada em 2002 e dedicada a minimizar os impactos negativos do turismo e maximizar seus benefícios para as pessoas, culturas, natureza e vida selvagem em todo o mundo. Entre suas diversas ações está o trabalho de compensação de carbono. No site você pode calcular a pegada de carbono da viagem de avião a partir da distância percorrida e então comprar os créditos que serão direcionados para diferentes projetos que apoiam a conservação de florestas e biodiversidade, o desenvolvimento de energia limpa e o apoio a comunidades locais.
3. Turismo CO2 Legal
Esse é o primeiro programa brasileiro 100% voltado para a compensação de carbono no turismo. Reconhecido pela UNESCO, em 2011, o Turismo CO2 Legal é uma iniciativa socioambiental que vem sendo executada desde 2009, no litoral sul da Bahia, e foi concebida para trazer soluções, simples e práticas, para enfrentar problemas complexos que ameaçam a sustentabilidade local e do planeta. O programa funciona com um ciclo onde os empresários e viajantes compram os créditos de carbono e os recursos são direcionados a agricultores familiares que vivem em situação de vulnerabilidade social. Os agricultores, por sua vez, assumem um forte compromisso e se transformam em protagonistas da conservação ambiental, evitando e fiscalizando desmatamentos, trabalhando com técnicas agroecológicas e conscientizando o resto da população. Assim o destino fica preservado para que mais turistas voltem!
4. Ecopass App
O Ecopass é um aplicativo novo no Brasil e se propõe a ser uma ferramenta prática e confiável para o cálculo e compensação das emissões de gases de efeito estufa do consumo de energia elétrica, deslocamentos terrestres e viagens aéreas. O programa atua com o plantio de árvores de espécies nativas de biomas brasileiros ameaçados, como a Mata Atlântica e a Caatinga, em unidades de conservação georreferenciadas, via parceria com ONGs ambientais que trabalham com comunidades tradicionais. Ao fazer a compensação das emissões de gases de feito estufa das viagens, o usuário também passa a fazer parte da Rede Ecopass e ganha benefícios, como descontos e gratuidades em estabelecimentos parceiros. O Ecopass App é membro do Muda! Coletivo Brasileiro pelo Turismo Responsável e parceiro do CEPAN – Centro de Pesquisas Ambientais do Nordeste.
5. Ecollective
“Nossa missão é reduzir a pegada de carbono da indústria de viagens”, diz o site do Ecollective. Opa! Essa não é uma plataforma voltada para a compensação e sim para a redução das emissões de carbono nas empresas. Eles fazem um trabalho direcionado e aprofundado de consultoria com cada empresa, calculam a pegada de carbono e depois trazem soluções práticas para reduzi-la. Para empresas que querem se tornar carbono neutras, esse é o caminho.
6. My Climate
Essa plataforma está baseada na Suíça, mas compensa emissões de CO₂ por meio de mais de 125 projetos de proteção do clima em 37 países diferentes. Tanto indivíduos, quanto grandes, médias e pequenas empresas, administrações públicas, ONGs e organizadores de eventos são convidados a participar. Os projetos trabalham com a substituição de recursos de energia fóssil por energias renováveis e implementação de medidas locais de florestamento com pequenos agricultores e tecnologias de eficiência energética. A iniciativa já é reconhecida e premiada e também propõe o engajamento e educação de estudantes na Suíça e no mundo.
Calcule aqui as emissões de carbono do seu voo:
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