atualizado em 01.05.2021
A primeira vez que me perguntaram sobre como eu me sentia voando e o que fazia para compensar os enormes impactos das minhas viagens de avião no meio ambiente foi em Londres, em 2018. Eu tinha recém-pousado de um voo de 12 horas e estava me preparando para pelo menos mais três voos de longa duração nos dois meses seguintes. Até então, minhas reflexões sobre a parte áerea das minhas aventuras eram mínimas. Claro, o que é mais difícil de solucionar a gente prefere esconder “embaixo do tapete”. Fiz os cálculos: eu iria contribuir com nada menos que 4.37 toneladas de CO2 para a atmosfera em menos de 2 meses. Como uma blogueira de turismo responsável pode fazer isso sem refletir sobre a questão?!
Na Europa, onde as fronteiras entre os países ficam mais próximas e o trem é uma opção de transporte viável, um movimento que justamente faz as pessoas refletirem sobre a necessidade de voar está ganhando grandes proporções. O Flight Shame (vergonha de voar), que surgiu na Suécia como flygskam (termo sueco para ‘vergonha de voar’), provoca as pessoas a se sentirem culpadas e agirem: afinal, voar é provavelmente a atividade mais intensiva em emissão de carbono que você pode fazer. A consciência sobre o assunto tem se espalhado por lá, principalmente depois que a ativista sueca Greta Thunberg decidiu ir de veleiro da Europa até Nova York para uma conferência climática.
As companhias aéreas são responsáveis por cerca de 2% das emissões de dióxido de carbono no mundo. Mas os aviões também emitem outras substâncias nocivas para a atmosfera, como óxido de nitrogênio e rastos de condensação, as longas e finas nuvens de vapor congelado que são visíveis do solo. As empresas já estão percebendo que precisam se mobilizar por soluções para seus impactos. A holandesa KLM, por exemplo, lançou o programa Voe com Responsabilidade no qual, além de incentivar outras companhias aéreas a investirem em programas de compensação de carbono, também encoraja os viajantes a optarem por outros transportes, como o trem, sempre que possível.
Os defensores do Flight Shame, no entanto, garantem que apenas compensar o carbono não é suficiente. É preciso viajar menos, encurtar voos, fazer opções, investir em novas tecnologias. No Manifesto pelo Futuro do Turismo, lançado em 2019, a operadora de turismo responsável Responsible Tourism, propõe medidas mais radicais, como por exemplo aumentar a taxa ambiental (Air Passenger Duty – APD) que os passageiros pagam nos voos no Reino Unido.
O movimento Flight Free UK vai mais além e sugere: “Uma das coisas mais eficazes que você pode fazer para reduzir sua pegada de carbono é voar menos. Ajude a evitar o colapso climático, comprometendo-se a não voar em 2020”. Ele acredita que assumindo a iniciativa de forma coletiva as pessoas se sentirão mais motivadas a não entrar em um avião. Não se imaginava, no entanto, que uma pandemia ia nos impedir de voar no mundo todo e ajudar a comprovar esta teoria. A Covid-19 fez com que as emissões de dióxido de carbono fóssil diminuíssem em cerca de 2,4 bilhões de toneladas em 2020 e uma parcela significativa desta redução vem da pausa no setor aéreo.
No Brasil, enquanto se discute ampliação de aeroportos e aumento da oferta de voos e, especialmente, em um país onde o trem não é uma alternativa e muitas pessoas começaram a ter a oportunidade de voar há pouco tempo, o movimento do Flight Shame ainda parece utópico. Mas que tal começarmos a pensar em voos com menos escalas, bagagens mais leves e outros transportes sempre que possível? Já é um ótimo começo! Podemos também começar a pressionar as companhias aéreas brasileiras a adotarem medidas mais significativas para reduzir seus impactos, com programas de compensação de carbono, investimentos em aeronaves mais modernas e eficientes e redução na geração de lixo.
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