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Turismo Sustentável – para onde vamos? Entrevista com Randy Durband, CEO do GSTC

Randy Durband
Randy Durband, CEO do Global Sustainable Tourism Council
Escrito por Ana Duék

De 4 a 7 de dezembro, o Conselho Global de Turismo Sustentável – GSTC realiza a edição anual da sua Conferência, que esse ano acontece nos Açores, em Portugal. Com debates atuais e inovadores, a Global Sustainable Tourism Conference vai reunir profissionais especialistas do mundo todo para propor soluções e caminhos para “navegarmos em direção ao Turismo Sustentável”, tema do evento deste ano. O programa está dividido em 3 módulos – ‘Gestão inteligente e sustentável de destinos ‘, ‘Oportunidades de mercado e desafios para produtos sustentáveis’, ‘O turismo está respondendo às mudanças climáticas?’- e vai abordar assustos como poluição plástica, certificação, slow travel e marketing de sustentabilidade.

Aproveitamos o momento para entrevistar o CEO do GSTC, Randy Durband, que também é um dos palestrantes da Conferência. Nessa entrevista, ele fala sobre como as discussões sobre sustentabilidade no turismo já avançaram, mas ainda há muito a ser feito. Randy Durband acredita que as empresas precisam comunicar mais e melhor suas práticas de sustentabilidade para educar os viajantes e a sociedade e que os governos precisam assumir sua responsabilidade no turismo sustentável, contando com a parceria do setor privado.

Viajar Verde – Que transformações importantes você viu nas discussões e iniciativas voltadas para o Turismo Sustentável na última década no mundo?
Randy Durband

Randy Durband, CEO do GSTC

Randy Durband – Nós temos visto um número crescente de negócios se envolvendo. Há dez anos eram poucos. Mas agora nós temos cada vez mais pessoas conscientes de que há questões que precisam ser endereçadas e superadas. Mas esse movimento tem sido lento. As empresas estão atentas às questões dos plásticos e as mudanças climáticas também estão conquistando a atenção das pessoas, mas ninguém está olhando adiante e holisticamente para a sustentabilidade. Então há um progresso, mas ainda há muito a ser feito.

Os governos também estão começando a participar. Mas a grande maioria das iniciativas envolve planejamentos de longo prazo e normalmente as pessoas que trabalham nos escritórios de turismo dos governos têm somente dois ou quatro anos para executar os planos, o que não é suficiente. Finalmente, outra tendência que temos visto na última década é que, quando falávamos sobre sustentabilidade nas viagens há dez anos, nossas conversas geralmente nos levavam ao turismo de natureza. Hoje nós estamos falando mais sobre como tornar todas as formas de turismo mais sustentáveis. Inclusive o que chamamos de turismo de massa, aviação, hotéis, transportes, e todos os componentes de um produto de turismo. Agora há mais consciência de que todos eles precisam operar de forma mais sustentável.

Viajar Verde – Como podemos envolver mais os viajantes e o turismo de massa em viagens mais sustentáveis?

Randy Durband – Acredito que os viajantes precisam ser informados de que a sustentabilidade não precisa significar mais gastos. Essa é uma percepção em todos os setores, não somente no turismo, de que serviços e produtos mais sustentáveis e responsáveis preciam ser mais caros. No turismo, normalmente as opções sustentáveis não custam mais e, inclusive em alguns lugares, custam menos. As pessoas têm essa ideia equivocada de que para serem mais responsáveis vão ter que reduzir a qualidade e pagar mais caro. Nós precisamos informar o público que isso não é verdade.

E também ainda precisamos conscientizar as pessoas sobre algumas questões. Vamos dizer que você venha de um lugar onde a chuva é abundante e está viajando para o deserto. Você tem que ser informado de que nesse lugar precisamos realmente economizar água e é importante darmos sugestões de como fazer isso. Então, por um lado temos que trabalhar para mudar a mentalidade das pessoas em relação à sustentabilidade como um todo, e, por outro, ainda precisamos educá-las sobre questões bem específicas.

Viajar Verde – Em um mundo cheio de selos e sistemas de certificação, como explicar a importância e a confiabilidade da certificação de turismo sustentável para os viajantes? Que informações eles devem procurar e no que devem confiar?

Randy Durband – Não é fácil ensinar a sociedade sobre os benefícios das normas e certificações. Nós sabemos, através de pesquisas, que, mesmo os hotéis que operam de maneira sustentável, hesitam em falar sobre políticas e práticas de sustentabilidade. O primeiro passo é fazer com que as empresas falem mais sobre o que estão fazendo e porque isso é importante. Depois precisamos aumentar o nível das discussões sobre o que está  sendo feito e porquê. Então poderemos falar sobre certificação como um meio de se ter validações externas e neutras. A sociedade ainda não entende muito o objetivo da certificação, mas quando as pessoas veem um selo, mesmo em um nível subconsciente, elas sabem que quer dizer algo. Então nós precisamos mostrar, divulgar essas certificações.

O que nós fazemos no GSTC é trabalhar para harmonizar os tantos selos e certificações que já existem. Nós não buscamos competir com os programas de certificação, mas sim coordená-los, dar mais exposição e criar uma coerência global entre eles. Assim, quando um viajante sabe dos esforços do GSTC para elevar o padrão de um selo, entende que aquele selo é confiável. Mas são tantos programas e abordagens diferentes, que precisamos agir coletivamente na comunidade de viajantes para deixar nossas mensagens mais claras e simples. Quando as pessoas entendem o que é a certificação, elas normalmente acreditam que é muito válida, como no caso, por exemplo, dos adesivos de economia de energia nos nossos eletrodomésticos.

Viajar Verde Considerando sua experiência com o GSTC, quais países ou regiões estão desenvolvendo iniciativas pioneiras em certificação e gestão do Turismo Sustentável?

Randy Durband – Como uma região, a Europa lidera o mundo na consciência sobre sustentabilidade e na utilização de normas de certificação. Mas mesmo lá isso é muito irregular. Os países escandinavos fazem mais. Em termos de país, temos trabalhado com a Indonésia já há cinco anos no desenvolvimento de um plano nacional para seus destinos. Eles têm feito algo bem inovador em termos de padronizar abordagens e treinar profissionais locais na gestão da sustentabilidade.

Na América Latina, o México já tem há dez anos um programa bem interessante chamado Distintintivo S, baseado nos Critérios do GSTC. É muito revolucionário porque eles fizeram isso bem no início do GSTC. E eles têm acordos em nível nacional com duas autoridades certificadoras: a Rainforest Alliance e a Earthcheck. O México é um ótimo exemplo de governo trabalhando com certificadoras. Muitos governos querem criar um programa de certificação próprio. Nós sempre desaconselhamos isso, porque é muito complexo desenvolver e manter um programa de certificação. O que o México fez foi muito inteligente, deixando a certificação para os experts no assunto. Eu gosto muito deste modelo, onde o governo estimula e promove a ideia, mas faz uma parceria com as organizações para que elas executem.

Outro exemplo que gosto muito na América Latina é a Costa Rica. Eles têm o programa CST (Certification for Sustainable Tourism), que já está em andamento há muitos anos. O CST é muito rigoroso, bem planejado e eles encontraram uma maneira criativa de recompensar as empresas conforme elas avançam nos 5 estágios em que se divide o programa. A cada nível que elas alcançam ganham 20% de desconto para participar dos estandes da Costa Rica nos eventos de turismo internacionais, podendo alcançar os 100%.

Viajar Verde – Por que Portugal e os Açores estão sediando a Conferência GSTC deste ano e como a sustentabilidade está se tornando parte das políticas de turismo do país?

Eles estão fazendo coisas incríveis. Acredito que motiva o fato de os viajantes europeus estarem mais conscientes sobre as questões de sustentabilidade do que no resto do mundo. Nos Açores eles recebem viajantes de toda a Europa e sabem que o cliente está pedindo cada vez mais. Eles estão buscando certificação como destino sustentável e querem destacar isso ao levar nossa Conferência para lá. Também os hotéis estão buscando certificação. Eles estão levando a sério e reconhecem que usar o sistema do GSTC como estrutura não é conversa fiada, mas efetivo. Ficamos felizes de ter pessoas assim sediando nossa Conferência.

Viajar Verde – Quais são os debates e tendências atuais essenciais que serão abordados na Conferência 2019 e que são importantes para “navegarmos na direção certa para o Turismo Sustentável” (tema do evento deste ano)?

Randy Durband – O GSTC tem 12 anos e passou muito tempo desenvolvendo um programa de acreditação, que está acima da certificação. Nós não trabalhamos diretamente com hotéis, por exemplo, mas sim com autoridades certificadoras. Agora que temos esse programa consolidado, estamos começando a trabalhar em um plano internacional para facilitar o acesso ao mercado. E queremos muito promover e educar as pessoas no assunto.

Há três anos a Royal Caribbean começou a usar nosso programa para verificar se os operadores turísticos nos portos onde paravam eram certificados em sustentabilidade. Essa foi uma maneira muito efetiva de uma enorme companhia, que atua em diferentes lugares, confirmar para seus clientes, reguladores e acionistas que são sérios quanto à questão da sustentabilidade. Então, vamos falar sobre o desenvolvimento da cadeia de fornecedores, de negócios que compram serviços de outras empresas, e usam a certificação para identificar de forma fácil quem devem contratar.

Também vamos falar sobre como passar por uma certificação fornece a disciplina para a melhorias e abre as portas para esse mercado crescente. Essas empresas serão cada vez mais recompensadas e reconhecidas no mercado, uma vez que os viajantes estão mais conscientes na hora da decisão da compra. Se você, como um negócio, tiver que fazer a pesquisa sobre qual fornecedor é mais sustentável, terá muito trabalho. A certificação faz o trabalho para você.

A WWF também tem feito pesquisas excelentes sobre plásticos e turismo e vai apresentar seus resultados. Sempre temos também discussões sobre gestão de destinos e acho que esse é um momento crucial para os governos aderirem. Nós acreditamos muito que os setores público e privado precisam interagir e criar parcerias. Gostamos de pensar que nós ajudamos a sugerir melhores formas de criar vínculos entre ambos.

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Sobre o Autor

Ana Duék

Jornalista de viagens com Mestrado em Gestão de Turismo e Hospitalidade pela Middlesex University (Londres). Desde 2015 defendendo um turismo mais consciente. Acredito que as viagens podem gerar mais impactos positivos para viajantes e para os destinos que nos recebem. Vamos descobrir como?