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Associação Roteiros de Charme promove a sustentabilidade na hotelaria há mais de 30 anos

Associação Roteiros de Charme
Hotel Rosa dos Ventos, um dos primeiros membros da Associação Roteiros de Charme | Foto: Hotel Rosa dos Ventos
Escrito por Ana Duék

Há mais de 30 anos, quando o conceito de Turismo Sustentável estava ganhando seus primeiros contornos e praticamente ninguém pensava nos possíveis impactos do setor de viagens nos destinos e no planeta, um grupo de hoteleiros pioneiros decidiu se unir por uma causa nobre e, talvez, ousada: criar um coletivo de hotéis brasileiros que valorizassem e se preocupassem não apenas com a qualidade e profissionalismo de seus serviços, mas também com seus impactos ambientais, a responsabilidade social e o cuidado com as culturas locais. Assim nasceu a Associação Roteiros de Charme, que hoje reúne mais de 60 hotéis nos diversos estados do país.

A grande inspiração para o nascimento da Roteiros de Charme foi a Conferência Mundial das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, a ECO 92, realizada no Rio de Janeiro. Foi durante esta mesma conferência que a Organização Mundial do Turismo definiu, pela primeira vez, o conceito de Turismo Sustentável. A Associação foi fundada no mesmo ano, em 1992, e passou então a adotar princípios internacionais, mas sempre com olhar para o local, para incentivar que seus hotéis membros avançassem em suas práticas de sustentabilidade. Em 1999, a Roteiros de Charme adotou seu Código de Ética e de Conduta Ambiental, construído em parceria direta com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).

Todos os anos, diversos hotéis brasileiros se candidatam para entrar para a Associação que, mais do que um coletivo com princípios comuns, se tornou um selo de referência em qualidade. Para fazer parte, os hotéis, lodges, pousadas e fazendas devem estar estabelecidos em uma localização privilegiada pela beleza natural ou pela importância histórica e, claro, oferecer serviço diferenciado e adotar práticas de sustentabilidade.

Conversamos com Helenio Waddington, presidente e co-fundador da Roteiros de Charme para saber mais sobre como funciona a Associação e entender o que evoluiu na hotelaria independente de luxo no Brasil nos últimos anos.

Associação Roteiros de Charme

Helenio Waddington, presidente da Associação Roteiros de Charme

Ana Duék: Como surgiu a ideia de reunir hotéis de charme em uma associação, incentivando que eles invistam em boas práticas de sustentabilidade?

Helenio Waddington: Meu hotel, o Rosa dos Ventos, fica em uma área preservada, em Teresópolis (RJ), rica em biodiversidade. Desde 1972 desenvolvemos um trabalho de preservação naquela região, que se mostrou muito eficiente. Essa ação foi um dos principais fatores para que nosso empreendimento não fosse tão impactado pela chuva e os deslizamentos que acometem a região serrana em escala que só aumenta com a mudança do clima. Com essa inspiração me uni a empresários independentes, com o mesmo respeito à natureza e às tradições da hospitalidade, e fundamos a Associação de Hotéis Roteiros de Charme. O projeto com os empresários Ricardo Pereira, Jonn Parsons, Ivan Marinho e o arquiteto Octávio Raja Gabaglia parecia utópico, mas já se vão mais de 30 anos e temos mais de 60 empreendimentos associados, e todos com os mesmos anseios de praticar uma atividade turística, dotada de charme e qualidade aliada ao respeito social, cultural e ambiental pelos nossos destinos turísticos. A realização da ECO-92, aqui no Rio, nos inspirou a colocar a associação para funcionar, com o objetivo de unir hotéis que realmente transmitem o melhor do charme brasileiro, incentivar a descoberta das joias naturais e culturais do Brasil, juntar forças para melhorar a qualidade do serviço e profissionalizar populações locais, possibilitar o acesso a condições especiais para hotéis remotos e proteger as riquezas do presente para o bem-estar das futuras gerações.

Ana: Em mais de 30 anos desde que a Roteiros de Charme destacou a importância da sustentabilidade, o que você acredita que mudou (evoluiu ou retrocedeu) na hotelaria brasileira? 

Associação Roteiros de CharmeHelenio: Só vejo evolução. Ao longo desses últimos anos, a necessidade de ações sustentáveis tornou-se uma realidade para todo o mundo e deixou de ser apenas tema de órgãos da ONU ou acadêmicos. O hóspede cobra. A pandemia deixou um grande legado que é a percepção de que a natureza é o luxo. Percebemos um grande movimento de conscientização ambiental que é crescente a cada geração. Junto a isso, hoje existe uma gama de serviços e tecnologias disponíveis para auxiliar o empreendedor que quer implantar ações sustentáveis em suas operações.

Ana: No seu hotel você também já vem praticando os pilares do ESG há muito tempo. Quais são os desafios e as oportunidades para hoteleiros que buscam hoje o caminho da sustentabilidade? 

Helenio: Hoje o mercado já oferece uma gama de serviços facilitadores para quem está interessado em implementar práticas sustentáveis, mas eu costumo dizer que precisamos pensar globalmente e agir localmente. No Rosa dos Ventos educamos nosso colaborador para ter o olhar de que as pequenas mudanças fazem grande diferença: preservar e reflorestar as áreas onde estão inseridos, fazer o uso consciente de recursos naturais como a água, gerir responsavelmente os resíduos, evitar o desperdício de alimentos, manter hortas próprias e/ou priorizar produtores e fornecedores locais são ações simples, oportunidades de levar o seu negócio para o caminho da sustentabilidade. Infelizmente, ainda existe resistência por parte de alguns investidores que acreditam que estas ações representam custos e não investimentos, além de esbarrarmos em burocracias e falta de serviços públicos para dar suporte a este trabalho, como é o caso da gestão do lixo. Mas eu posso garantir que as pequenas mudanças estão ao alcance de todos.

Ana: Qual você entende que é o papel da Roteiros de Charme atualmente na promoção de um turismo mais responsável no Brasil?

Helenio: A Associação de Hotéis Roteiros de Charme vem desempenhando papel pioneiro na adoção e divulgação das práticas de sustentabilidade na atividade hoteleira. Nosso compromisso é reunir hotéis engajados em políticas de sustentabilidade e preservação, o que inclui, por exemplo, para citar uma questão da maior urgência, fazer a gestão responsável do uso de plásticos no hotel. Além de nosso código de ética e conduta ambiental, datado de 1999, desde o início de 2020, aderimos ao programa Global Tourism Plastic Initiative, das Nações Unidas, para reduzir o uso de plástico no turismo e enfatizar junto aos nossos hotéis as práticas de gerenciamento sustentável do plástico, para que se tornem prioridade entre as outras práticas de sustentabilidade já difundidas por nós. Este ano, realizamos a campanha educativa Viajante Consciente Prioriza Hotéis Sustentáveis, que propõe sensibilizar o viajante para que ele priorize destinos e meios de hospedagem que estão comprometidos com o bem-estar de sua comunidade e a preservação do ambiente natural, cultural, histórico onde estão inseridos. Temos muitos exemplos recentes entre nossos associados que inspiram mudanças no mercado do turismo, como a Pousada Camurim Grande, em Maragogi, Alagoas, que realizou campanhas de retirada de plástico das águas do mar; a Pousada Quinta dos Pinhais, de Santo Antônio dos Pinhais, em São Paulo, que agregou um biólogo à equipe para garantir um manejo correto da flora e da fauna; os muitos hotéis associados que já estão deixando de consumir energia de combustível fóssil para se abastecer por meio de painéis solares fotovoltaicos. Salientando o crescente engajamento de um hotel com parceiros e comunidade em seus destinos, vale citar os resultados obtidos mais recentemente pela Pousada Toca da Coruja, na Praia de Pipa, RN, e seu envolvimento junto ao movimento Preserve Pipa. Ainda no nordeste, a Vila Kalango, em Jericoacoara, destaca-se pelo engajamento com as questões sociais e ambientais junto à comunidade local, que se mobiliza para buscar a justa participação nos benefícios trazidos pelo desenvolvimento do turismo naquele destino. No sul do país, a Morada dos Canyons, na Serra do Faxinal, SC, vem implantando práticas exemplares dentro da abordagem ESG em matéria de hotelaria e hospitalidade.

Pousada Toca da Coruja

Pousada Toca da Coruja, membro da Associação Roteiros de Charme | Foto: Pousada Toca da Coruja

Ana: Como os hotéis têm a oportunidade de aprender, trocar e se promover ao fazer parte da Roteiros de Charme? O que significa ser um hotel com selo Roteiros de Charme? 

Helenio: Nosso código de Ética e de Conduta Ambiental foi construído em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), em 1999. Fomos pioneiros neste movimento que hoje é reconhecido no mercado em função da urgência da pauta climática. Os Hotéis, Pousadas, Fazendas Históricas, Refúgios Ecológicos associados refletem as personalidades dos seus donos. São de bom gosto e têm uma elegância alinhada com as características locais. Mas ser Roteiros de Charme vai muito além disso: é se comprometer com uma hotelaria de luxo e excelência em termos de qualidade, responsabilidade social e sustentabilidade. Nossa associação contribui ativamente para a saúde dos nossos destinos turísticos; forma parcerias com empresas do setor privado baseadas na aliança de imagem de qualidade, na responsabilidade corporativa e social. Nossos diretores visitam constantemente os empreendimentos – às vezes até de forma incógnita, mas sem perder o espírito associativo e a transparência. Também são realizadas avaliações por meio de cartas-resposta ou e-mail para acompanhar os níveis de satisfação dos usuários, os serviços e o estado da infraestrutura dos hotéis. A consolidação da marca Roteiros de Charme só foi possível graças à colaboração de todos os envolvidos no projeto desde o início: dos fundadores aos associados. Esses hoteleiros visionários que contribuíram – e contribuem – para a manutenção dos valores que sustentam a associação.

Ana: O tema do Dia Mundial do Turismo deste ano foi “Turismo e Investimentos Verdes”. Você acredita que, além da responsabilidade e compromisso necessários com o planeta, “hotéis verdes” também têm mais oportunidades e valor hoje entre viajantes, o setor de turismo e até investidores?

Helenio: Sem dúvida hoje existe um maior engajamento da população para as causas sustentáveis e isso se aplica fortemente ao segmento do turismo. Hoje observamos um movimento crescente por parte dos hóspedes que buscam priorizar destinos e empreendimentos hoteleiros com este perfil. Da parte dos hotéis também, especialmente no pós-pandemia, cresceu a consciência de que este deixou de ser um diferencial e passou a ser uma exigência. É uma mudança do comportamento do mercado que saudamos com muita alegria pois vem ratificar os valores que vimos acreditando e apostando em todos esses anos. Os dados comprovam: recentemente o Instituto Fecomércio de Pesquisas e Análises (IFec RJ) fez um levantamento sobre o hábito de viajar e constatou que 71,9% dos entrevistados levam em consideração os impactos sociais, ambientais e econômicos antes de realizarem suas reservas. Outro resultado bastante alinhado à prática da nossa associação que se apresenta como um grande diferencial competitivo é que a grande maioria dos entrevistados, 73,4%,costuma procurar lugares com mais contato com a natureza.

 

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Sobre o Autor

Ana Duék

Jornalista de viagens com Mestrado em Gestão de Turismo e Hospitalidade pela Middlesex University (Londres). Desde 2015 defendendo um turismo mais consciente. Acredito que as viagens podem gerar mais impactos positivos para viajantes e para os destinos que nos recebem. Vamos descobrir como?