No Brasil, existem mais de 36 mil agências e operadoras de turismo, segundo dados de 2017, da pesquisa do Sebrae “Panorama das Agências de Viagens e Operadores Turísticos no Brasil”. Com o propósito de intermediar as relações de turistas e prestadores de serviço do turismo, essas agências precisam acompanhar as demandas do mercado e elaborar estratégias para cumprir as metas do turismo sustentável.
Viajantes mais conscientes e comunidades mais preocupadas com os impactos negativos do turismo, acabam exigindo que as agências de viagem e operadoras também se responsabilizem pelo desenvolvimento turístico e pautem suas ações nas demandas sociais, ambientais e econômicas.
Responsabilidade de quem?
Já explicamos por aqui que o turismo responsável não é um segmento e não está atrelado apenas às viagens de natureza. É o compromisso em gerar impactos positivos — em todas as etapas, para todas as pessoas envolvidas nas viagens e para o destino como um todo — e minimizar os impactos negativos provocados pela atividade turística.
Atuar de forma responsável no turismo é um dever de todas as partes envolvidas. No caso das agências de viagens e operadoras, que desempenham um importante papel no desenvolvimento do turismo, essa atuação é fundamental pois, além de operar pacotes turísticos, elas também têm a função de criar, organizar, promover e comercializar experiências.
As agências de turismo possuem uma grande participação no cenário nacional. Segundo a pesquisa do Sebrae de 2017, a maior parte das agências e operadoras brasileiras (99,5%) são pequenos negócios, responsáveis por empregar cerca de 70% do total de trabalhadores no turismo.
De norte a sul do país, não importa o nicho, toda e qualquer agência de viagens pode (e deve!) pautar suas ações para criar lugares melhores para moradores e viajantes, incluindo a comunidade local nos benefícios do turismo, respeitando e valorizando sua cultura e protegendo o meio ambiente.
Como ser uma agência de turismo responsável?
Não existe uma fórmula mágica para se tornar uma agência de turismo responsável ou sustentável, mas é importante pensar nas demandas globais da sustentabilidade e nos problemas específicos das comunidades e dos destinos com os quais trabalhamos. Na hora de estruturar os roteiros, estabelecer parcerias e promover experiências, algumas dicas são:
– Ouvir as comunidades e provedores locais e envolvê-los no planejamento, no desenvolvimento e na execução das experiências. Realizar conversas periódicas e levantar estratégias para mensuração das transformações provocadas pelo turismo no destino.
– Participar de cursos e eventos que promovem o turismo responsável, como o curso promovido pelo Instituto Vivejar e as palestras sobre o tema da feira de viagens e turismo WTM Latin America.
– Medir e apresentar dados do seu impacto e ser transparente com viajantes, parceiros e fornecedores. Para onde a renda é destinada? Como as parcerias foram estabelecidas? Quem participa das tomadas de decisão?
– Associativismo, parcerias e co-criação são iniciativas essenciais para o desenvolvimento de um turismo mais responsável. Um bom exemplo é o Coletivo MUDA!, uma associação de empresas brasileiras pelo turismo responsável que, dentre outros objetivos, promove essas iniciativas e cria parcerias estratégicas com as entidades do trade turístico.
– Fazer parte do movimento para acabar com a crueldade animal no turismo não oferecendo, promovendo ou comercializando atividades que usam animais silvestres como entretenimento ou atração turística. A ONG Proteção Animal Mundial produziu alguns relatórios mostrando os danos e o sofrimento desse tipo de prática na qualidade de vida de animais, como elefantes, golfinhos e bichos-preguiça.
– Orientar os viajantes a terem condutas mais responsáveis durante suas viagens, minimizando seu impacto negativo no destino. Produzir conteúdos que ajudam a conscientizar, antes e durante as viagens, é um ótimo caminho!
– Participar de premiações, como o Prêmio de Turismo Responsável da WTM, além de procurar certificações nacionais e internacionais, como a Green Globe, EarthCheck e o Sistema B Brasil.
– Ter abertura para receber críticas construtivas e sugestões. A sustentabilidade é uma jornada, portanto, é imprescindível para a pessoa que empreende estar aberta para aprimorar sua atuação e potencializar as transformações positivas. É um caminho que nos convida a (re)pensar e questionar nossas certezas e construir coletivamente.
– Se inspirar e ter como referência outros empreendimentos que atuam com o turismo responsável (veja abaixo algumas indicações!)
Para se inspirar: agências de turismo responsável no Brasil
- Vivejar: a Vivejar é uma operadora focada em experiências turísticas transformadoras e responsáveis. Com roteiros no Vale do Jequitinhonha, na Chapada Diamantina, Amazônia e Rio Grande do Norte, entre outros destinos, a Vivejar atua com experiências sensoriais que valorizam a arte, a cultura, a história e, principalmente, as pessoas do lugar.
- Ambiental Turismo: a Ambiental é especialista em viagens em ambientes naturais, desenvolvendo, há mais de 35 anos, roteiros turísticos no Brasil, Chile, Peru e em países de outros 5 continentes, sempre preocupada com os cuidados com o destino visitado.
- Ekoways: com o propósito de fomentar o turismo regenerativo, a Ekoways é um negócio de impacto socioambiental que incentiva o bem-viver coletivo e a conservação da natureza através da educação ambiental e de roteiros de turismo de natureza e turismo comunitário.
- Braziliando: a Braziliando é um negócio de impacto social que vem atuando junto a comunidades tradicionais, como ribeirinhas e indígenas da Amazônia, realizando experiências sustentáveis de TBC, no formato presencial e online, com a missão de gerar transformações positivas.
- Estação Gabiraba: a Estação Gabiraba é uma operadora de ecoturismo de base comunitária na Amazônia que, desde 2007, atua em conjunto com comunidades locais com a missão de gerar renda e valorizar as tradições e o ambiente em que elas vivem.
Dicas de quem já trilha o caminho do turismo responsável
Conversamos com Marianne Costa — turismóloga, empreendedora social, fundadora da Vivejar e co-fundadora do Coletivo MUDA!. Marianne já atuou profissionalmente no desenvolvimento de experiências turísticas, na operação e qualificação em comunidades e, há 15 anos, presta consultorias para destinos turísticos e comunidades.
Ela compartilhou que um dos principais desafios para se tornar uma agência responsável está na seleção dos fornecedores: “Quando falamos de uma agência, estamos falando, principalmente, de intermediação de serviços. Os fornecedores são fundamentais nesse processo pois eles alimentam a nossa prateleira”.
Marianne acredita que o primeiro passo é cada agência criar seus indicadores e critérios ambientais, sociais e econômicos para que esses fornecedores sejam promovidos e comercializados.
A importância dos fornecedores na jornada do turismo responsável também foi apontada por Polyana de Oliveira, diretora e fundadora da Viare Travel e presidente da ONG Projeto Bagagem. Polyana defende que a escuta é muito importante nesse processo. Viajantes, comunidades e a própria equipe devem ser ouvidos para que se tenha processos mais colaborativos. “Aprender com os fornecedores locais, respeitar seu ritmo, preços, me ajuda a passar informações mais detalhadas para os meus clientes e fazer uma venda mais assertiva”.
Polyana também exalta a importância das redes e coletivos do turismo responsável, como o MUDA! e a rede Turisol, que se fazem espaços de trocas e aprendizados. E o resultado desse esforço? Polyana afirma que ver a satisfação dos viajantes e, principalmente, dos fornecedores é a maior recompensa. “Nosso cuidado no trabalho junto aos nossos fornecedores, atenção aos detalhes e customização de experiências é muito reconhecido pelos nossos clientes […] Acho que qualquer um consegue montar uma viagem que “mostra pontos turísticos”, mas só uma agência que seja de fato responsável, consegue conectar o passageiro a um destino e suas pessoas”.
Não existe uma receita pronta, mas o caminho para o turismo responsável passa pela construção coletiva, solidária e cuidadosa das pessoas que fazem parte de tudo isso.
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