Viajante Responsável

Viagens em tempos de mudanças climáticas: o que precisamos saber

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Escrito por Renata Ferreira

Calor excessivo que representa perigo para a vida humana, águas mudando de temperatura e alterando a vida marinha, enchentes desproporcionais, temperaturas aumentando e geleiras derretendo, perda de biodiversidade. A sociedade, em geral, já sofre com os impactos ambientais, mas como isso afeta também os viajantes e destinos? Você já pensou sobre como serão as viagens em tempos de mudanças climáticas?

Em 2023 vimos uma série de impactos ambientais terem suas consequências ainda mais drásticas pela combinação com o fenômeno El Niño, que eleva a temperatura da superfície da água do Oceano Pacífico, modificando o sistema de temperaturas na porção equatorial. No Brasil, por exemplo, este ano, tivemos episódios totalmente ligados ao impacto que os desastres naturais têm também na vida do viajante:

  • Seca nos rios na região da Amazônia que, além de causar a morte de espécies aquáticas, impossibilitou a visita em alguns locais.
  • Manaus e região coberta, durante meses, pela fumaça de queimadas, tornando o destino, inevitavelmente, um local não convidativo para o turista.
  • Super cheia nas Cataratas do Iguaçu, causando o fechamento das passarelas de avistamento.
  • Ressaca em praias cariocas que causaram danos a comércios e perigo aos banhistas, provocando até a morte de um jovem.
  • Incêndios no Pantanal alcançaram pousadas e mudaram os planos de muitos viajantes.

Diante de tantos acontecimentos, é inevitável que os viajantes não sofram mudanças em suas viagens devido aos impactos ambientais que vivemos na emergência climática e cuidados especiais serão necessários nos próximos passeios.

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Seca na comunidade do Tumbira, Amazonas | Foto: Tadeu Rocha/FAS

O que muda nas viagens com o impacto ambiental

Ainda há poucos estudos relacionando a mudança climática com o comportamento do viajante, porém, alguns dados já apontam previsões de como será o futuro do turismo e indicam mudanças pontuais feitas pelos viajantes para contornar um evento extremo no seu destino de férias. No verão europeu, por exemplo, uma pesquisa da European Travel Comission revela que, gradualmente, viajantes começaram a buscar alternativas de férias em países mais frios, que não costumam ser os destinos preferidos nesta época, como Bulgária ou Irlanda.

As adaptações de viagens devido aos impactos ambientais deverão ser levadas em conta na definição do próximo roteiro do turista. Essas são algumas das mudanças mais marcantes que já estão acontecendo agora.

Incêndios no Pantanal em 2023

Incêndios no Pantanal em 2023 | Foto: Gustavo Figueiroa/SOSPantanal

Cuidado extra com o sol e o calor

A primavera e o verão brasileiros de 2023 estão sendo marcados pelos recordes de temperatura. Apenas em São Paulo, de 2022 para 2023, foi registrado um aumento de 102,5% de atendimentos ambulatoriais e internações devido à exposição ao calor. Enquanto isso, na Europa, um estudo revela que cerca de 61 mil pessoas podem ter morrido devido às altas temperaturas.

As férias de verão são um momento em que ficamos mais vulneráveis e expostos ao calor. Os viajantes ficam um maior período ao ar livre, praticam atividades físicas, alguns gostam de se bronzear e muitos não se protegem ou se hidratam adequadamente. Isto, somado com a lotação de alguns destinos, pode fazer com que a viagem de verão se torne um risco.

Mudanças de paisagens nos destinos naturais

Desmatamento, degelo e perda de biodiversidade. Esses são os impactos que os destinos naturais enfrentam atualmente e que mudam a relação do viajante com a paisagem. Os mergulhadores, por exemplo, têm se deparado com mais plástico no mar e menos biodiversidade, com corais que estão passando por branqueamento devido ao aquecimento da água.

Os destinos conhecidos pela neve, paredes de gelo e frio também estão mudando. No início de 2023, em determinadas regiões nos Alpes europeus, houve o enfrentamento de problemas como o degelo ou a falta de neve, fazendo com que, na temporada turística mais importante, os locais não pudessem receber viajantes. Enquanto nas montanhas geladas da América Latina, no Chile, o famoso Glaciar Exploradores foi fechado definitivamente devido às mudanças geográficas causadas pelo desgelo.

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Glaciar Exploradores na Patagonia Chilena foi fechado para o turismo por tempo indeterminado | Foto: Chile Travel

Outro exemplo emblemático e recente foi a estiagem que atingiu 62 cidades no Amazonas, que secou os rios, impossibilitando a chegada dos turistas. Apesar dessa região contar com épocas de rio seco, nesta temporada a falta de água foi extrema, registrando os menores níveis de água na região em 13 anos.

A expectativa é que o viajante comece a se adequar a essas mudanças de paisagem, substituindo o destino escolhido ou entendendo que a realidade da biodiversidade da região já não é mais a mesma.

Imprevisibilidade nas viagens

A imprevisibilidade devido aos desastres climáticos também deverá ser levada em conta nos próximos anos. A Grécia, que precisou retirar 30 mil moradores e turistas da ilha após uma série de queimadas, foi um exemplo de como os países e os viajantes precisam estar preparados para eventos climáticos.

As Cataratas do Iguaçu também tiveram seu prejuízo este ano, quando foi preciso fechar a passarela que dá acesso à Garganta do Diabo devido à alta vazão de água, a segunda maior já registrada, desde que se deu início ao monitoramento no local.

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Cheia nas Cataratas do Iguaçu | Foto: Urbia Cataratas

Os destinos, especialmente os de natureza, sempre estiveram suscetíveis às condições climáticas. Porém, o que muda agora é a intensidade desses acontecimentos. Segundo o Relatório do IPCC sobre Mudanças Climáticas de 2023,   é que os desastres climáticos fiquem mais frequentes conforme sobe a temperatura do planeta.

Viagens em tempos de mudanças climáticas: o que fazer antes de viajar

Quer viajar em tempos de mudança climática? Estes são alguns cuidados que você precisa ter:

  • Pesquise a projeção do clima antes de escolher o destino, caso você queira evitar ir para lugares com temperaturas extremas.
  • O calor pode ser fatal para algumas pessoas. Portanto, se você é sensível às altas temperaturas, evite viajar para lugares quentes durante o verão.
  • O cuidado com a hidratação e a proteção solar deve ser ainda maior com a mudança climática. Deixe programado no seu roteiro momentos intencionais de parada para buscar uma sombra e tomar água. Sentiu fraqueza ou dor de cabeça? Também é um sinal para parar.
  • No verão, evite aglomerações onde você não tenha uma saída fácil, caso comece a passar mal.
  • Fique sempre atenta aos alertas de clima da região e respeite-os. É melhor se prevenir do que se deparar com um grande desastre ambiental.
  • Os seguros de viagem não costumam oferecer cobertura para desastres naturais, porém, você pode optar por aqueles que permitem cancelamento de viagem ou remarcação de passagem de retorno.

Todas essas medidas e mudanças fazem parte de uma contenção de danos que precisamos adotar dentro e fora das nossas viagens. Porém, além de termos novos cuidados, parar de perpetuar as mesmas práticas predatórias na nossa rotina e nos destinos que visitamos é essencial. Diminuir nossa pegada de carbono, não deixarmos lixo por onde passamos, apoiar destinos e hospedagens que são sustentáveis, tudo isso, faz parte das condutas que podemos ter se queremos continuar fazendo viagens incríveis e com segurança.

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Sobre o Autor

Renata Ferreira

Graduada em psicologia e pós-graduada em Negócios da Moda, direcionou suas formações para a sustentabilidade. Após conhecer algumas iniciativas no Brasil e na ânsia de descobrir novas, colocou o pé na estrada. Através de viagens e experiências sustentáveis, facilita o caminho da transformação pessoal necessária para uma vida mais integrada.

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