por Wallace Soares*
Estamos no ano de 2023 e, infelizmente, ainda nos deparamos com alguns tabus enraizados historicamente em nossa sociedade que define que viajar é um privilégio direcionado a pessoas com alto poder aquisitivo, quando na verdade é uma necessidade de todos, independente da classe social. Fortalecer o Turismo Inclusivo Socioeconômico, através da quebra desses tabus, é a melhor forma de promover a inclusão no setor de Turismo e de demonstrar os benefícios associados às viagens para o equilíbrio da saúde física e mental das pessoas, pois, como escreveu o poeta Mario Quintana “Viajar é mudar a roupa da alma”.
Por experiência própria, eu acredito muito no poder transformador das atividades turísticas para o bem-estar físico e emocional dos viajantes. As viagens retiram as pessoas da zona de conforto, promovem interação física entre os indivíduos e com a natureza, e, acima de tudo, promovem o autoconhecimento, que é essencial para o equilíbrio da saúde física e mental.
Durante as minhas viagens pelo continente americano eu tive a oportunidade de comprovar, efetivamente, o impacto positivo das viagens ao ouvir as histórias de outros viajantes que encontrei pelo caminho. Cerca de 95% dos viajantes haviam tomado a decisão de viajar por terem sofrido algum tipo de ruptura, física ou emocional, em suas vidas. Cerca de 75% das pessoas estavam viajando por terem terminado, abruptamente, um relacionamento que as levou a entrarem em um quadro de depressão, como foi o meu caso no ano de 2014, e que deu origem ao Projeto Desbravando as Américas.
Desde a minha primeira viagem, o que mais me chamou a atenção foi a maneira como os viajantes se conectam, de forma espontânea, uns com os outros, criando uma grande rede de apoio mútuo. Mesmo viajando sozinho, eu nunca me senti só e isso me ajudou bastante no processo de cura, impactando a minha maneira de ver as pessoas e o mundo através de novos ângulos. E isso não aconteceu apenas comigo, pois mantenho contato com grande parte dos viajantes que cruzei pelas estradas das Américas e todos relataram que, ao retornarem para as suas respectivas rotinas, não se sentiam mais as mesmas pessoas de antes das viagens, pois haviam encontrado a paz interior e a força necessária para seguirem em frente com as suas vidas de forma equilibrada, encerrando ciclos que não conseguiriam ao permanecerem em suas “bolhas cotidianas”.
Esses são alguns dos exemplos sobre os impactos positivos das viagens para a saúde física e mental, pois, como diz o velho ditado: “Mente sã, corpo são”.
Acredito que para atender, com equidade, às necessidades dos cidadãos do amanhã o setor de Turismo precisará passar por grandes transformações, tornando-se mais inclusivo e menos excludente. Nos dias atuais, ainda nos deparamos com inúmeros problemas, como, por exemplo, a falta de representatividade negra e LGBTQIA+, como protagonistas, em programas de viagens transmitidos nos canais de televisão e isso se tornará um grande problema para o setor de Turismo ao longo dos próximos anos.
Com os avanços tecnológicos, as novas gerações de viajantes tendem a se conectar mais com os destinos e atividades turísticas que os representam e que agregam valor real às suas vidas. Outra mudança essencial, será a capacitação, contínua e horizontal, de todos os players que atuam no setor de Turismo para identificarem as mudanças de perfis dos viajantes de forma ágil e com qualidade. Os viajantes do amanhã serão cada vez mais exigentes e estarão em busca experiências cada vez mais personalizadas e que proporcionem bem-estar para as suas vidas. Facilitar o acesso será essencial para o Futuro do setor de Turismo.
Diariamente, eu luto para romper os paradigmas do turismo relacionados à exclusão socioeconômica, através da minha história de vida e dos viajantes que conheci durante as viagens do Projeto Desbravando as Américas, além, é claro de demonstrar os reais benefícios das viagens para o equilíbrio da Saúde Mental. Desde o ano de 2017, tenho abordado esses temas nos meus livros, palestras, workshops e entrevistas. Porém, antes da pandemia da Covid-19 pouco se falava sobre os problemas relacionados à saúde mental. Falar sobre Depressão e Crise de Ansiedade era algo considerado um grande tabu.
Hoje, esse cenário é diferente, pois vivenciamos um longo período de confinamento que nos mostrou o quão importante é falarmos abertamente sobre as doenças relacionadas à saúde mental para a integridade das nossas vidas. Essas doenças mentais podem acontecer com qualquer pessoa, independente da classe social, raça ou gênero, porém as formas como as pessoas convivem com elas são diferentes. Por este motivo, eu luto por uma maior inclusão socioeconômica no setor de Turismo, pois conheço na pele os verdadeiros benefícios das viagens para o equilíbrio da saúde física e mental dos indivíduos da nossa sociedade, pois viajar precisa ser visto como um direito de todes!
“Viajar é viver a vida de forma leve, livre dos pesos que criamos para nós mesmos” – Wallace Soares
*Wallace Soares é nascido Rio de Janeiro e reside com a família na Comunidade do Turano, na Tijuca. É turismólogo, formado pela Universidade Estácio de Sá, com 12 anos de experiência no setor hoteleiro, e é pós-graduado em “Diversidade e Inclusão Social” pela USP. Fundador do Projeto Desbravando as Américas, é autor dos livros: “Desbravando as Américas 1 – as Aventuras de um Mochileiro do Rio de Janeiro a Montevideo” e “Desbravando as Américas 2 – as Aventuras de um Mochileiro de Montevideo ao Ushuaia”. Atualmente, trabalha como analista de Conteúdo e Inovação Empresarial na Casa Firjan e é membro associado do Horizon Copenhagen Institute.
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