Como o turismo pode gerar recursos para financiar ações socioambientais nos destinos
Em 2008, quando as questões climáticas já estavam sendo discutidas mundialmente, mas ainda eram pouco correlacionadas ao turismo, o grupo por trás da ONG Mecenas da Vida, localizada em Ilhéus, na Bahia, teve uma ideia visionária: reverter os impactos climáticos das viagens, transformando-as em fonte de geração de renda e conscientização para a preservação, restauração e inclusão social nos destinos. Desde então, o Turismo CO₂ Legal Guardiões do Clima, desenvolvido na região da APA Itacaré/Serra Grande, no sul da Bahia, se tornou o primeiro programa no Brasil a abordar a questão da compensação de emissões na cadeia produtiva do turismo.
Diferentemente da grande maioria dos programas de compensação de emissões de gases de efeito estufa, que apenas plantam árvores, o Turismo CO₂ traz uma proposta inovadora, que cria um ciclo de impactos ambientais e sociais positivos, envolvendo moradores, viajantes e o setor de turismo do destino. O objetivo, segundo o engenheiro florestal Salvador Ribeiro, um dos idealizadores do programa, é “trazer o turismo para ser protagonista no enfrentamento das questões climáticas no Brasil e, ao mesmo tempo, criar condições para destinos mais preservados e para a inclusão de comunidades rurais e populações tradicionais na conservação ambiental”. Salvador foi meu entrevistado no quinto episódio do Podcast do Desafio de Inovações em Turismo Sustentável.
Depois de uma extensa caminhada e com a adesão de novos parceiros, o Turismo CO₂ Legal se prepara agora para lançar uma rede, que vai atuar em conjunto para replicar o programa para outros destinos do Brasil. Como um dos três vencedores do Desafio de Inovações em Turismo Sustentável, realizado pela CTG Brasil e Ashoka Brasil em 2020, o projeto passou recentemente por uma fase de reavaliação e mentorias e se fortaleceu para ganhar o país. “Nosso objetivo é ajudar a construir destinos turísticos Guardiões do Clima, que serão lugares onde todo mundo que está presente no território atua de forma sinérgica pela restauração, conservação, inclusão socioeconômica e soluções para as questões climáticas”, explica Salvador Ribeiro.
Como funciona o Turismo CO₂ Legal Guardiões do Clima e quem pode fazer parte?
Hotéis, restaurantes e estabelecimentos de turismo parceiros do programa compensam suas emissões de carbono através do pagamento de uma taxa pré-estabelecida e recebem o selo Turismo CO₂ Legal. Os valores são calculados pelos agentes do programa, que visitam os empreendimentos, esclarecendo sobre impactos ambientais e conscientizando sobre a importância da tomada de responsabilidade. Todo o dinheiro captado com as taxas é direcionado para pequenos produtores rurais e populações tradicionais locais, na forma de Pagamentos por Serviços Ambientais.
Ao aceitar fazer parte do programa e receber o pagamento mensal, as famílias assumem compromissos com a conservação e regeneração da floresta. Entre os compromissos estão: não desmatar áreas florestais, fazer a restauração de suas terras e plantios através do sistema agroflorestal, não caçar animais silvestres, manter filhos em idade escolar na escola e participar das capacitações para produção agroecológica e mutirões de trabalho.
“Desta forma, a compensação voluntária passa a sustentar diversas ações de conservação ambiental e insere as famílias na cadeia produtiva do turismo através da produção agroecológica e orgânica participativa. Podemos transformar o agricultor, que era um agente da degradação, em um guardião da natureza e do clima. Esta é uma forma de democratizar a conservação”, destaca Salvador.
Turistas também participam!
Viajantes também estão mais que convidados a fazer parte do programa, compensando as emissões das suas viagens. A taxa é calculada através de uma média ponderada do perfil dos visitantes no destino e também é direcionada para as comunidades locais. Os turistas podem fazer a compensação na pousada, onde receberão um cartão de vantagens que dá descontos de 5% na rede de parceiros, incluindo, restaurantes, lojas, locadoras, passeios, etc. “O valor da taxa é pequeno e facilmente recompensado com os descontos. Os viajantes vão perceber que, com uma pequena ação, podem ajudar a fazer a diferença”, diz o engenheiro florestal.
De acordo com Salvador, a participação dos viajantes responsáveis é essencial para que o programa se multiplique e envolva cada vez mais famílias, uma vez que o número de estabelecimentos é limitado.
A Rede Turismo CO2 Legal Guardiões do Clima
A Rede será lançada oficialmente no dia 27 de setembro de 2022 (Dia Mundial do Turismo). Ela vai reunir parceiros apoiadores, instituições e ONGs parceiras executoras, parceiros locais e parceiros independentes. Desta forma, qualquer indivíduo ou estabelecimento, em qualquer lugar do Brasil, pode participar do programa, mesmo que ele ainda não esteja disponível no seu destino. Com o apoio do poder público local e das instituições, o Turismo CO₂ Legal pretende se multiplicar pelo país.
“O brasileiro, comparado com outros países como os da Europa, ainda tem pouca consciência da responsabilidade socioambiental que precisa assumir com o destino que visita. A partir do momento em que o viajante está num destino com essas práticas, ele passa a refletir sobre suas próprias ações”, acredita Salvador.
Essa publicação faz parte do projeto Trilhando a Transformação: Desafio de Inovações em Turismo Sustentável, realizado pela CTG Brasil e Ashoka Brasil
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