Viajante Natural

Malásia vai ganhar parque marinho de 1.6 milhão de hectares

por Johnny Langenheim

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Em junho, a Malásia vai estabelecer oficialmente a maior Área de Proteção Marinha (Marine Protected Area – MPA) do país. O parque Tun Mustapha vai ocupar colossais 1.6 milhão de hectares de paisagem marinha, na ponta norte da província de Sabah, no Bornéu. Essa região contém a segunda maior concentração de recifes de coral da Malásia. Também é lar de milhares de pessoas que dependem de seus recursos – de muitas formas é um microcosmo de toda a bioregião do Triângulo de Corais, onde a proteção ambiental precisa ser balanceada com as necessidades das crescentes populações costeiras.

O Ministro do Turismo, Cultura e Meio Ambiente da Malásia, Datuk Seri Masidi, anunciou a criação do parque, declarando também que o Tun Mustapha e duas outras áreas de proteção marinha na Malásia, Tun Sakaran e Tunku Abdul Rahman, vão se tornar santuários de tubarões. De acordo com Masidi, os tubarões são aspectos cruciais do turismo de natureza em Sabah. “As espécies de tubarão são vitais para os negócios de mergulho e geram cerca de 380 milhões de Ringgit Malayos (US$ 9.4 milhões por ano. Vamos perder a população de tubarões em 10 anos, se os envolvidos continuarem servindo sopa de barbatanas”, reivindicou.

Gerir uma área tão grande vai requerer muito trabalho em equipe e decisores políticos, comunidades locais, ONGs, negócios e cientistas estão todos se reunindo para garantir que a nova MPA funcione. Como o Tun Mustapha será um parque multi-uso com sistema de zoneamento, foram anos de dedicação dos envolvidos para desenvolver um plano de ação que equilibrasse interesses locais e comerciais com sustentabilidade ecológica.

Foto: James Morgan

Em setembro de 2012, uma equipe de pesquisa reunindo 30 cientistas marinhos e voluntários saiu em uma expedição de 19 dias para coletar informações dos diversos ecossistemas marinhos que fazem parte do novo parque. Ao todo, eles trabalharam mais de 800 horas embaixo d’água. Resultados preliminares da expedição descobriram que 57% dos corais analisados estavam em exelentes condições.

Mais de 500 espécies de peixes de recife foram registradas, assim como numerosas espécies de corais, incluindo quatro tipos raros que antes imaginava-se que só ocorriam em Semprona, leste de Sabah, e em Berau, na Indonésia. Mas não foi apenas a confirmação da riqueza do ambiente marinho que foi importante. Também houve evidência abundante de impactos humanos negativos, incluindo pesca com bombas (15 bombas foram ouvidas durante a viagem), sobrepesca e poluição. Espécies icônicas como tubarões e tartarugas estavam notavelmente ausentes; quando megafauna* como esta está em falta, há indícios de que o ecossistema está sobre pressão.

Essa informação conduziu à necessidade urgente de uma abordagem de gestão sustentável no Tun Mustapha Park, para preservar a biodiversidade existente e permitir a recuperação de populações de peixes depletadas e de corais danificados. As áreas com menores danos poderão se recuperar com três a cinco anos, de acordo com a WWF Malásia. Áreas com danos mais significativos vão precisar de mais tempo – cinco a dez anos a mais.

A informação detalhada sobre as espécies também vai impactar no zoneamento – decidindo que áreas serão fechadas e quais serão de uso limitado. Trabalhando em conjunto com decisores políticos, comunidades locais e negócios, a ciência está ajudando a garantir a melhor abordagem para a gestão do parque. A área tem grande, mas ainda inexplorado potencial para desenvolvimento do turismo de natureza. Além do potencial para o turismo de mergulho, a região é repleta de lindas praias de areias brancas, bonitas ilhas e incríveis paisagens costeiras. Há ainda um número de áreas de nidificação de tartarugas, que oferecem oportunidades de volunturismo por meio de associações locais.

O desafio agora é fazer tudo funcionar.

*Megafauna – se refere a todos os animais de grandes proporções, mais especificamente, descreve os animais terrestres pouco maiores do que um ser humano que, em geral, não são domesticados. São incluídos neste grupo as espécies aquáticas gigantes, especialmente baleias; os maiores animais silvestres terrestres existentes, especialmente os elefantes, girafas, hipopótamos, rinocerontes e grandes bovinos; e também os dinossauros e outros répteis gigantes já extintos (informações de O Eco)

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Sobre o Autor

Ana Duék

Jornalista de viagens com Mestrado em Gestão de Turismo e Hospitalidade pela Middlesex University (Londres). Desde 2015 defendendo um turismo mais consciente. Acredito que as viagens podem gerar mais impactos positivos para viajantes e para os destinos que nos recebem. Vamos descobrir como?