Vou começar pedindo desculpas pelo título. Embora pareça verdade, o número não se refere a um estudo real. Mas eu precisava te trazer aqui para chamar atenção para a verdadeira realidade: essas pesquisas de intenção do viajante em relação a sustentabilidade ficaram todas iguais e só estão contribuindo para aumentar o greenwashing no turismo!
Está realmente cansativo. Todos os anos, quatro ou cinco empresas anunciam suas inovadoras pesquisas: “turistas querem viajar de forma mais sustentável”! O que parecia ser uma ótima notícia, quando, há mais de oito anos, a Booking.com lançou seu primeiro Relatório de Viagens Sustentáveis, se tornou uma enxurrada de pesquisas superficiais e repetidas, que a imprensa reproduz sem nenhum questionamento ou reflexão. O que vale para a empresa que publica o estudo é colocar o nome na mídia junto com a palavrinha sustentabilidade, ainda que a empresa não faça mais nada de sustentável no seu dia a dia.
A última destas pesquisas, divulgada esta semana pela Virtuoso, afirma que 58% dos viajantes pagariam (?) mais caro para viajar de forma mais sustentável e 68% têm interesse em hotéis e restaurantes que priorizam a gastronomia sustentável. Por que “pagariam”? Que paguem então! Opções sustentáveis não faltam! De acordo Relatório Booking.com de Viagens Sustentáveis de 2023, 76% dos viajantes afirmavam querer viajar de forma mais sustentável nos próximos 12 meses e um estudo da Expedia de 2022 revelou que 90% dos consumidores procuram opções sustentáveis quando viajam. 👀
Na prática isso está acontecendo?
“A gente tinha uma esperança de que as pessoas ficassem muito mais despertas, mais conscientes, principalmente depois da pandemia, mas sinto que isso mudou pouco”, acredita a empreendedora Marianne Costa que, há sete anos está à frente da operadora de viagens responsáveis Vivejar Experiências. Para Marianne, quem já era consciente está mais alerta para outras coisas e algumas pessoas estão começando a prestar atenção no assunto em função das consequências das mudanças climáticas. “Mas o grande volume de viajantes, infelizmente, ainda não está preocupado com seus impactos”, afirma a empresária.
Quando lidamos com pesquisas de intenção, principalmente em relação a questões éticas, existe uma grande questão que chamamos de intervalo (gap) intenção-ação. Ele representa a defasagem entre o que as pessoas dizem que pretendem fazer, mas, na prática, não fazem. De acordo com o artigo “The Elusive Green Consumer”, publicado em 2019 na Harvard Business Review, embora 65% dos consumidores digam que querem comprar marcas com propósitos que defendem a sustentabilidade, apenas cerca de 26% realmente o fazem. Afinal, em tempos de mudanças climáticas, quem é que não se sente pressionado a dizer que pretende sim viajar de forma mais responsável e consciente?
Não acho que esses números e pesquisas sejam todos descartáveis. É importante entendermos que o público de viajantes responsáveis está crescendo e se conscientizando cada vez mais. Mas não podemos fechar os olhos e usá-los como verdade absoluta, porque ainda temos muito trabalho a fazer se queremos ver verdadeiras mudanças de atitude no comportamento dos viajantes. E, principalmente, se queremos ter todo o setor de turismo cada vez mais comprometido com a sustentabilidade.
A última pesquisa da Booking revelou outros dados mais interessantes sobre as dúvidas e falta de informação dos viajantes em relação ao assunto. Esses números sim deveriam chamar a nossa atenção. Para 49% dos entrevistados, viajar de forma mais sustentável custa mais caro; 44% não sabem como nem onde encontrar opções de viagens mais sustentáveis; 51% afirmam que não há opções de viagens sustentáveis suficientes e 39% não confiam em empresas que se dizem sustentáveis.
O que o setor de turismo está fazendo para trazer mais informação e confiança aos viajantes que realmente querem ser mais sustentáveis?
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