Em tempos onde as definições de luxo estão sendo atualizadas e a sustentabilidade se tornou prioridade, um pequeno refúgio de charme escondido em Alto Paraíso é a hospedagem ideal para viajantes responsáveis que querem explorar a Chapada dos Veadeiros, em Goiás, com conforto, consciência, autocuidado e exclusividade. A Vila Cerrado, que me acolheu em março de 2023, é como um pequeno oásis no meio da cidade e, em cada detalhe, traz uma sensação de carinho e cuidado.
Esta foi mesmo a intenção do casal Melina Menghini e André Cardinali, que depositou ali seu sonho e decidiu criar uma hospedagem que alia o aconchego de um lar e a paixão pela natureza – mais precisamente pelo cerrado. O bioma ameaçado é a inspiração para tudo o que acontece na Vila: das bio construções baseadas nos saberes locais ao jardim com espécies nativas. Desde o princípio, Melina e André fizeram questão de que aquele fosse um espaço que incentivasse o turismo sustentável e a regeneração. Aliás, não poderia haver melhor forma de abrir as portas para a minha primeira vez no cerrado. A Vila Cerrado, na Chapada dos Veadeiros, me ajudou a começar a entender e me apaixonar pelo bioma.
Logo na chegada, somos recebidas com um ritual de boas vindas com escalda pés e um elixir de cristais para começarmos a alinhar nossos chakras. Tudo o que eu precisava para começar minha desintoxicação da rotina na cidade! A Vila Cerrado também se propõe a ser um espaço de bem-estar e autocuidado, potencializando as energias positivas já tão presentes na mística Chapada dos Veadeiros. Além de um espaço para yoga e meditação, o Templo Ser, a hospedagem oferece terapias e massagens no seu spa. Ao longo dos dias, somos mimados ainda com chás orgânicos, docinhos da região e até uma semente de árvore nativa para plantarmos e ajudarmos a compensar um pouquinho das nossas emissões de carbono da viagem.
São apenas três casas boutique e dois chalés, que propõem uma estadia afetiva e consciente, sem abrir mão do conforto: todos sustentáveis, feitos com materiais naturais e decorados com peças de artesãos locais e brasileiros. Vale à pena passar um tempinho observando cada detalhe. Além de uma cozinha equipada, as casas têm um deck com vista para o jardim e uma – imperdível – banheira de imersão ao ar livre, esculpida em pedra natural. É a melhor pedida após um dia inteiro de trilhas e cachoeiras! As construções em pau a pique celebram os saberes e técnicas do povo Kalunga, nativo da região, e garantem o mínimo impacto no ambiente. Cada hospedagem ganhou o nome de uma árvore ou fruto local (Copaíba, Jatobá, Buriti, Baru e Pequi) e foi decorada de forma exclusiva. Tudo ainda está novinho em folha, já que a Vila Cerrado é uma hospedagem jovem, que abriu as portas em 2022.
Na horta, podemos colher alimentos e temperos para prepararmos na cozinha da casa ou chalé. Entendendo que reciclagem e compostagem ainda geram muitas dúvidas, a Vila Cerrado faz questão de deixar orientações simpáticas para incentivar que seus hóspedes ajudem no cuidado com o lixo. A pousada também apresenta aos visitantes suas práticas de sustentabilidade, incluindo biodigestor, sistema fotovoltaico, apoio a ONGs locais, valorização da cultura dos povos originários, espaço de reciclagem, plástico zero e cuidado com o outro, fazendo um convite para que a gente ajude a cuidar do cerrado e do planeta enquanto relaxamos e nos reconectamos de forma responsável com a natureza.
A Vila Cerrado está localizada em uma área super arborizada, no bairro Estância Paraíso, a 500m da avenida principal de Alto Paraíso, e bicicletas estão à disposição dos hóspedes em qualquer momento.
Turismo regenerando o Cerrado
Com o objetivo de ajudar a proteger e regenerar o cerrado – o segundo maior bioma do Brasil e um dos mais ameaçados (segundo dados do Inpe, o desmatamento no cerrado nos cinco primeiros meses de 2023 aumentou 35% em relação ao ano anterior) – a Vila Cerrado desenhou uma aventura super exclusiva em parceria com a associação de coletores de sementes nativas Cerrado de Pé e a agência Explore Veadeiros. O roteiro ganhou o nome de Salve Cerrado e ajuda a conscientizar os visitantes sobre a importância do bioma que ele está visitando, além de funcionar como uma alternativa de renda para a associação.
Como hóspede da Vila Cerrado, tive a oportunidade deliciosa de vivenciar essa experiência logo no meu primeiro dia na Chapada dos Veadeiros. Foi essencial para me trazer um outro olhar sobre o destino. Quem nos guia é o visionário Claudomiro de Almeida Cortes, fundador da Cerrado de Pé, que reúne mais de 100 famílias de toda a Chapada. Durante o passeio, Claudomiro conta como foi questionado quando, há muitos anos, decidiu começar a coletar sementes da região. Hoje, elas são imprescindíveis e ajudam a regenerar milhares de hectares do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros e das áreas vizinhas, além de serem fonte de renda para as famílias locais.
O passeio dura toda a manhã e começa com uma imersão no campo. Vamos primeiro conhecer algumas das plantas, capins, arbustos e sementes do cerrado. Na minha primeira vez no bioma, tudo era novidade: chuveirinho, capim brinco-de-princesa, capim estrela, canela de ema, sempre vivas. Claudomiro mostra como cada semente é colhida de forma diferente e depois temos a chance de ajudar a colher também.
A segunda parte do roteiro acontece no galpão da Cerrado de Pé. Lá, aprendemos um pouco mais sobre como as sementes são armazenadas e a importância do trabalho da associação, que hoje envolve 100 famílias do assentamento Silvio Rodrigues, Vila de São Jorge, Colinas do Sul, Alto Paraíso de Goiás, Teresina de Goiás, Cavalcante, São João d’Aliança, além de comunidades do Território Quilombola Kalunga. Conforme a demanda pelas sementes vem crescendo, novas famílias estão se juntando à associação.
O cerrado é a savana mais biodiversa do mundo e considerado o berço das águas do Brasil, sendo fonte de recursos hídricos para 25 milhões de pessoas em todo o país (WWF). Ele sofre diariamente com incêndios criminosos, desmatamento e perda de biodiversidade – de acordo com o Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado, o bioma perdeu 83.998 hectares somente em 2022.
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