Por muito tempo eu hesitei e admito que minha viagem para Israel demorou até demais. Mas foi bom. Deu tempo de chegar àquela terra mágica de mente e coração abertos e acho que isso é essencial para sentir e entender a essência de Israel. Foram 15 dias intensos e, apesar do pequeno tamanho do país – apenas 22 km2, pouco mais do que o estado de Sergipe – ainda não foi tempo suficiente para viver e experimentar tudo. Preciso voltar! Mas já posso adiantar aqui para vocês o que esperar deste país marcado pela história, mistura cultural, alguns episódios tristes, mas que surpreende em tantos outros aspectos.
Estar em Israel deve ser, sem dúvidas, uma experiência completamente diferente para cada pessoa. Mas, independente de suas convicções, religião, posicionamento político ou atividades prediletas, posso dizer que há descobertas e experiências para todos por lá. Apesar do alfabeto diferente e de nem tudo estar escrito em inglês, se virar em Israel é fácil e há sempre alguém disposto a ajudar. Para nós, ocidentais, israelenses costumam ter uma lógica bem parecida – menos na hora de respeitar uma fila! – o que deixa a gente bastante confortável por lá.
Reuni aqui algumas dicas que acho que podem te ajudar bastante na hora de preparar sua primeira viagem para Israel!
Viagem para Israel: o que saber antes de embarcar
1. Brasileiros não precisam de visto!
Brasileiros não precisam de visto para entrar em Israel; apenas do passaporte com prazo mínimo de 6 meses para vencer. Israel não carimba nossos passaportes na imigração, em função do relacionamento complicado com os países árabes vizinhos. Essa é uma medida que visa a nossa proteção e facilitação da entrada em outros países. Ao invés do carimbo, recebemos um papelzinho azul com a permissão de estada, que deve ser mantido até o fim da viagem. Importante: guarde esse papel com cuidado pois ele é solicitado na maioria dos hotéis e em algumas compras ou atrações.
2. Sim, Israel é seguro!
Essa é, sem dúvidas, a pergunta mais feita pelos viajantes. Segurança é uma questão complicada em Israel apenas nas regiões de conflito e fronteira: faixa de Gaza, Cisjordânia e Colinas de Golã. Ainda assim, é bem possível visitar cidades como Belém, Ramallah, Jericó e Hebron, na Cisjordânia, com segurança. Em Tel Aviv, no norte de Israel e até mesmo em Jerusalém, você não sente risco em nenhum momento. Andar com o celular nas mãos e despreocupada quando me perdia pelas vielas vazias foi uma verdadeira sensação de liberdade. É comum ver os jovens do exército circulando para lá e para cá, mas ninguém em posição de combate. Em 15 dias, só vi um carro de polícia ao longe quando houve um incidente durante um feriado islâmico na Mesquita Al Aqsa. Foi uma situação incomum, já que a mesquita tem sido proibida para não-muçulmanos durante os feriados religiosos justamente para evitar conflitos. E, ainda assim, não havia nenhum turista no local.
As checagens de segurança nos lugares públicos são muito mais tranquilas do que em muitos atrativos pelo mundo. Entrar no Muro das Lamentações, por exemplo, é mil vezes mais simples do que no Budenstag, o parlamento alemão. Esteja preparado para passar sua bolsa no radar ou ser checado por um segurança na entrada de shoppings, lojas, rodoviárias e nos principais atrativos turísticos. Mas são checagens simples e rápidas. Meu único grande problema foi no aeroporto, na volta. Entrei em Israel facilmente, depois de passar na imigração com apenas duas perguntas. Mas, na hora de sair, levei uma hora com todos os itens da minha bolsa de mão sendo conferidos e tendo que responder a perguntas detalhadas sobre a minha viagem! Cheguei no portão de embarque em cima do laço.
3. Prepare-se para gastar dinheiro
Como o Shekel tem quase o mesmo valor do Real (1 Shekel = aproximadamente R$ 1,16), possivelmente você vai achar que os preços em Israel se equiparam ao Brasil. Pelo menos eu fui pensando assim! Mas prepare-se: as coisas lá são bem mais caras! É difícil fazer um lanche por menos de 50 shekels e a corrida de táxi já começa nos 12. O salário mínimo israelense é de 5.300 shekels e, consequentemente, o poder de compra deles também.
4. Jerusalém X Tel Aviv
Provavelmente você já sabe, mas não custa lembrar: embora a gente fale muito em Tel Aviv, a capital de Israel é Jerusalém. Tel Aviv é hoje o coração financeiro do país, uma cidade mais moderna, muito mais jovem, secular, LGBT e dog friendly, capaz de encantar. O clima de praia deixa tudo muito mais despojado e com cheiro de maresia também, rs. As pessoas andam de short e camiseta, que nem no Rio de Janeiro. Jerusalém é mais complexa e está dividida entre a parte nova e a cidade antiga e ainda entre Jerusalém ocidental e oriental – as duas fazem parte de Israel, mas Jerusalém oriental é reivindicada pela Autoridade Palestina. Na cidade antiga estão os principais atrativos turísticos de Jerusalém, mas caminhar pela parte nova também é uma delícia! As ruas estreitas, os restaurantes com mesinhas na calçada, as lojinhas abertas até mais tarde, os artistas de rua, fazem esta área lembrar alguma cidade europeia no verão.
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5. Israel é um país muito jovem
Mesmo com tanta história na região, é importante a gente lembrar que Israel, enquanto país e nação, ainda é muito jovem. Foi fundado em 1948, depois de a ONU aprovar, no ano anterior, uma resolução que previa a divisão do então território da Palestina em dois estados: um árabe e um judeu. Se você se esquecer disso, não há problema. Israel faz questão de nos lembrar o tempo todo a história de como o país surgiu, e como, antes dele, as cidades mais importantes também foram se criando. Se você aprova ou não como tudo aconteceu, aí é outra questão. Mas sempre vale ouvir os dois lados! 😉
Apesar de ainda jovem, Israel já é muito desenvolvido em muitos aspectos. É um dos principais centros de start-ups no mundo e considerado o 22º país em Índice de Desenvolvimento Humano. As incríveis tecnologias para irrigação no deserto e reaproveitamento de água se contrapõem ao excesso de lixo e plástico, às ruas muitas vezes sujas de Tel Aviv e ao sistema de transportes ainda limitado, que faz de Israel um país dos carros. Ainda existem muitas áreas não habitadas, principalmente no deserto. E, claro, ainda é possível conhecer muitas pessoas que representam a primeira geração da família a nascer por lá.
6. Israel não tem só judeus!!!
É comum associarmos Israel aos judeus e isso faz a gente criar diversas expectativas e pré-conceitos. Dos mais de 9 milhões de habitantes, 75% são sim judeus. E, entre eles, há desde os mais ortodoxos até os não-praticantes. Mas no país também vivem muitos muçulmanos (17,7%), além de cristãos (2%), drusos (1,6%) e pessoas de outras religiões ou sem religião nenhuma. Vale lembrar também que existem israelenses vindos das mais diversas partes do mundo, da Rússia à Etiópia, incluindo 25 mil brasileiros.
7. Porque o Israelense é chamado de sabra
Não estranhe se ouvir alguém falando que “fulano é sabra”. Sabra é o nome de uma fruta do cacto muito encontrada nas Colinas de Golã e por todo o país. Ela é espinhosa por fora e doce por dentro, assim como os israelenses. Em pouco tempo por lá é possível observar o lado seco e “espinhoso” das pessoas. Eles são objetivos, sérios e muitas vezes parecem até grosseiros. Mas, dando uma chance para conhecê-los melhor, encontramos realmente um povo acolhedor.
8. Entenda o Shabat
O Shabat é o dia de descanso dos judeus, mais ou menos como o domingo para os cristãos. Ele representa o sétimo dia de Gênesis, o dia em que Deus descansou. O Shabat tem início no pôr-do-sol da sexta-feira e vai até o pôr-do-sol do sábado. É o dia em que praticamente ninguém trabalha no país, lojas estão fechadas, poucos transportes funcionam e muita gente nem sai de casa. Quem segue mais rigorosamente a religião honra o dia do descanso sem dirigir, atender o celular e sem cozinhar. Não deixe de considerar o Shabat quando programar sua viagem. Locomover-se de uma cidade para a outra é mais difícil e alguns atrativos turísticos ficam fechados. Em Tel Aviv, a cidade mais secular do país, a vida segue quase próxima do normal!
9. Como se locomover em Israel
Como falei antes, o carro parece ser o transporte predileto do Israelense. Tanto que, mesmo em um país pouco habitado, já presenciamos muitos engarrafamentos. Não existe metrô em Israel e o Uber é proibido. Em compensação, as bicicletas estão por toda parte e há uma malha de trem razoável que te leva a algumas das principais cidades, como Jerusalém, Haifa, Cesareia e, claro, Tel Aviv, além de um trem que sai do aeroporto de Tel Aviv para o centro.
Se você não pretende alugar um carro e vai usar o transporte público, assim que chegar compre um Rav Kav. Ele é o cartão eletrônico que serve para quase todos os ônibus, trem e também para o light rail, o VLT de Jerusalém. Os ônibus são realmente a opção mais fácil e barata para você andar dentro de Tel Aviv e o Google Maps te ajuda com todos os trajetos, porque os transportes vêm todos escritos em hebraico! Também há duas ou três empresas de aluguel de bicicletas dessas que você pode deixar em qualquer lugar quando termina o trajeto, assim como patinetes. E ainda opção de um novo aplicativo de vans compartilhadas, o Bubble, que para em determinados pontos como se fosse um ônibus. Considere ainda que as distâncias são pequenas, então muita coisa pode ser feita à pé!
10. O país é cheio de praias!
Embora às vezes a gente esqueça e pense em Israel como um destino somente de turismo histórico, as praias são um dos pontos fortes do país, que tem 200 km de costa banhada somente pelo Mar Mediterrâneo. Isso sem contar nas praias salgadinhas do Mar Morto e nas águas cristalinas do Mar Vermelho, no sul de Israel. Não deixe de colocar sua roupa de banho na mala! Não tive a oportunidade de ir até o Mar Morto nem a Eilat, no Mar Vermelho, dessa vez. Mas posso dizer que as praias do Mediterrâneo são deliciosas!
Em Tel Aviv existem 14 praias! Algumas delas aceitam cães e outras não. Há ainda uma praia exclusiva para os religiosos e outra para a comunidade LGBT.
11. O que é comida kosher?
Muitos restaurantes em Israel são kosher (ou kasher). Mas o que isso quer dizer? Kosher não é um estilo de culinária, mas significa que aqueles alimentos ou pratos foram produzidos de acordo com as leis da Torá. Há uma série de requisitos para que um alimento seja considerado kosher e eles levam em conta preceitos de saúde, higinene e tradições. Num restaurante kosher você não vai encontrar, por exemplo, carnes misturadas com derivados do leite. Também estão proibidos animais com cascos não fendidos e que não ruminam, como o porco, ou frutos do mar como os camarões, lagostas e mexilhões. Mas vale saber que você pode ter desde um restaurante árabe kosher até um McDonald’s!
12. Qual a melhor época para ir a Israel?
Não existe melhor época. Você só precisa decidir o que quer aproveitar (ou do que quer fugir) na sua viagem para Israel e seguir em frente! Como acontece normalmente no hemisfério norte, o verão ocorre de junho a agosto e os dois últimos meses coincidem com o período de férias. Vale lembrar que estamos no deserto, então prepare-se para o calor, que pode facilmente alcançar os 40 graus. Eu encarei o mês mais quente do ano, agosto, e, para um carioca, foi suportável! As sombras têm sempre um ventinho fresco e esse ano, estranhamente, parece que o calor deu uma trégua. O bom do verão é que você pode aproveitar tranquilamente as praias, cachoeiras e passeios ao ar livre.
As chuvas são bem raras por lá e, normalmente, só começam a aparecer a partir de outubro. No inverno (de dezembro a fevereiro) a temperatura não chega a menos de 10 graus – a não ser que você resolva ir para o Monte Hermon curtir uma neve!
Sua maior preocupação deve ser com os feriados judaicos, pois nestas datas muitas coisas estão fechadas e os transportes públicos com menor circulação. Como o calendário judaico segue os ciclos da lua e do sol, as datas dos feriados variam. Então é importante conferir a cada ano quando eles caem. Aqui estão os principais:
– Fevereiro/Março: Purim
– Março/Abril: Pessach
– Setembro/Outubro: Rosh Hashanah (ano novo), Yom Kippur (Dia do Perdão), Sukkot, Simchat Torah
– Dezembro: Chanukah
13. Mulheres, preparem-se para o assédio
Sim. Chegamos na parte ruim. É quase impossível andar sozinha por Israel e não levar algum tipo de cantada ou uma aproximação interessada masculina. Se você vai viajar sozinha, pode ir tranquila e em segurança. Me senti muito mais à vontade lá do que na Índia, por exemplo. Mas saiba que, apesar de Israel ser um país muito mais aberto do que os países árabes vizinhos, a minha sensação foi a de que a influência religiosa machista ainda faz muitos homens verem as mulheres como objetos ou como algo muito diferente deles. A diferença de lá para o Brasil é que os homens são muito mais educados e criativos. Ao invés de gritar um “gostosa” ou outras palavras mais desagradáveis, eles te chamam para tomar um suco, tirar uma foto ou andar de moto…
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