O direito de ir e vir está na constituição, e viajar é uma forma extraordinária de exercer este direito. Porém, será que todas as pessoas realmente conseguem circular livremente pelo mundo? A resposta já damos aqui: não! E isso está muito ligado ao preparo que os destinos têm em receber pessoas com diferentes necessidades. Contudo, felizmente, existem alternativas para tornar uma viagem acessível e inclusiva para todos.

Reunimos as informações e dicas para o viajante que busca um turismo acessível para explorar o mundo.

O que é e qual é a importância da acessibilidade?

O ponto mais importante da acessibilidade está justamente na inclusão, que faz parte dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável quando falamos do aspecto social. Todas as pessoas têm o direito de ir e vir e deveriam poder usufruir desse benefício em seus momentos de lazer.

Muitas vezes, erroneamente, pensamos que este o turismo acessível e inclusivo diz respeito apenas a pessoas portadoras de uma deficiência. Mas você já pensou que pessoas na terceira idade, gestantes, que estão acompanhados de crianças pequenas, obesas ou até mesmo com mobilidade reduzida temporariamente, também precisam de acessibilidade?

As chances de que um dia você, ou alguém muito próximo, se beneficie de um turismo acessível são extremamente altas e, cabe aos destinos, com seus órgãos públicos e empreendimentos turísticos, se encarregarem de criar um ambiente inclusivo.

Possibilitar que mais destinos sejam de fácil acesso para qualquer pessoa é democratizar o contato com o lazer, cultura e novos conhecimentos – algo tão característico do mundo das viagens.

Ainda, outra importância da acessibilidade no turismo está no desenvolvimento da nossa economia. Apenas no Brasil, temos mais de 18,6 milhões de pessoas com deficiência e mais de 22 milhões de pessoas que já passaram dos 65 anos e podem apresentar limitações físicas. Somando esses números e comparando com a população de, em média, 203 milhões de brasileiros, vemos que ao menos 20% dos brasileiros podem se beneficiar do turismo acessível e contribuir financeiramente para o desenvolvimento do setor.

Mas afinal, o que é acessibilidade no turismo?

Uma viagem acessível é aquela que proporciona autonomia, conforto e segurança para todas as pessoas, levando em consideração a estrutura da cidade, das atrações, restaurantes e hospedagem. É possibilitar que a maioria da população possa acessar um local sem impeditivos ou constrangimentos.

O turismo de inclusão precisa levar em consideração diversos critérios, como: infraestrutura acessível, com instalações, ambienteis e mobiliários adaptados; acomodações inclusivas, onde o hóspede tenha conforto e liberdade; sinalização clara e universal; treinamento de equipe; acesso às atividades de lazer, etc.

Como planejar uma viagem acessível e inclusiva

Para garantir que a sua viagem acessível seja um sucesso, a pesquisa inicial é a sua melhor amiga. A viajante Suelen Almeida, pessoa com deficiência desde os 9 anos, cadeirante desde os 24 anos, hoje é consultora e criadora do projeto de turismo acessível Viaje com Acessibilidade (VcA). Suelen compartilhou conosco os principais pontos de um check-list para planejar uma viagem acessível, inclusiva e inesquecível.

1. Defina suas prioridades: você quer ficar no hotel e relaxar ou está em busca de passeios? Definir sua prioridade vai te direcionar sobre o que pesquisar e quais são os pontos importantes na sua viagem.

2. Pesquise previamente: se você quer evitar problemas, a pesquisa prévia é essencial. Descubra como é a locomoção até e no destino, se o hotel está realmente preparado para te receber e se há equipe preparada para te auxiliar.

3. Mapeie o transporte: principalmente para quem tem restrição de mobilidade, é muito importante escolher o destino já pensando neste ponto. O viajante precisa considerar o deslocamento, como chegar até a hospedagem e se o lugar facilita a locomoção para os pontos turísticos são itens importantes. Optar por táxis acessíveis facilita o deslocamento, pois são carros preparados para transportar uma pessoa na sua própria cadeira de rodas.

4. Escolha bem o hotel: quanto mais tempo você for ficar no hotel, por exemplo, em um resort, mais acessibilidade ele precisa ter. Um ponto que a Suelen considera muito importante é a independência, especialmente no banheiro. Ela conta que entrar em contato com o hotel para conferir as informações de acessibilidade que estão no site é importante para não ter nenhuma surpresa.
Para escolher o hotel acessível você pode consultar blogs de viajantes, como o Viaje com Acessibilidade (VcA), buscar as avaliações em sites como o Tripadvisor e usar os filtros de buscas de site de hospedagem como o Booking.com (filtro “Instalações para pessoas com deficiência”) ou no Airbnb (categoria “Espaços Adaptados”).

5. Comodidades: entender também se o hotel oferece comodidades para além da estrutura básica pode tornar a viagem ainda mais agradável. Itens que são importantes para cadeirantes, por exemplo, é uma cadeira para o tomar banho e a cadeira anfíbia para quem quer entrar no mar.

Suelen Almeida ainda deixa uma última e importante dica: “Não fique esperando o local ser 100% acessível. Se prepare na viagem, busque informações. Você tem que se permitir, se colocar em uma posição de abertura. Em algum momento você precisará de ajuda, tendo deficiência ou não”.

Comunicadores brasileiros que falam sobre acessibilidade no turismo

Existem viajantes com diversas características que estão desbravando o mundo de viagens com acessibilidade e eles são uma ótima fonte de informação e inspiração.

Viajantes surdos:

Sereiando na viagem: Bianca é uma viajante solo que adora destinos de natureza. Em sua página ela dá várias dicas de viagem e passeios com conteúdo totalmente em libras e português.

O mundo na minha mochila: Claudia Hayakawa é quem está por trás da página O Mundo na Minha Mochila, com conteúdo de viagens em libras e dicas especiais para pessoas com deficiência auditiva.

Viajantes com mobilidade diferenciada:

Sú Almeida: viajante, cadeirante e consultora em turismo de acessibilidade, Sú Almeida traz em sua página dicas para uma viagem acessível de sucesso! Ela ainda oferece e-books de viagem acessível e consultoria no planejamento de viagem.

Giuhros pelo mundo: o primeiro cadeirante cruzar sozinho em um triciclo do Oceano Atlântico ao Pacífico, Giuliano compartilha como é possível fazer viagens de aventura e selvagem com seu triciclo.

Jéssica Paula: 1ª paraplégica a escalar o Pão de Açúcar, Jéssica é jornalista e viajante, já visitou 37 países. Em suas redes ela compartilha os destinos que visita e informações contra o capacitismo.

Viajantes cegos:

4 patas pelo mundo: Mel é turismóloga e uma cega viajante. Com sua cão-guia Hilary, ela viaja para várias partes do Brasil e do mundo. Na sua página Mel traz dicas, informações e a sua percepção da vida como uma pessoa que deficiência visual.

Viajantes gordos:

Viaja Gorda: Polly Marques é uma viajante que fala sobre acessibilidade na perspectiva de  uma pessoa gorda. Além de compartilhar a beleza e curiosidade dos lugares que passa, dar dicas de viagem para pessoa gordas ou não, Polly ainda levanta diversos questionamentos sobre a gordofobia.

Viajar é Simples: Sylvia Barreto é uma jornalista que divide várias dicas interessantes sobre os destinos que visita. Seu lema é “Você não precisa ser magra para viajar, ser maravilhosa e bem-sucedida” e sua página mostra toda essa potência.

A acessibilidade no turismo, acima de tudo, é dar a possibilidade de que todas as pessoas possam viver em liberdade!

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