Bagagem Leve

Um turismo mais solidário

Foto: Divulgação
Artesanato de barro é um dos encantos do roteiro no Vale do Jequtinhonha

Entrevista com Mariana Madureira, fundadora da Raízes Desenvolvimento Sustentável

O turismo de base comunitária é a grande aposta da turismóloga Mariana Madureira para melhorar a distribuição de renda, preservar culturas e conectar pessoas. Sócia e co-fundadora da Raízes Desenvolvimento Sustentável, ao lado de Marianne Costa, e gestora do Projeto Bagagem, Mariana trabalha diariamente em equipe para incentivar o turismo solidário e levar oportunidades e experiências a comunidades e viajantes. “Acreditamos que é possível desenvolver destinos e visitantes mais conscientes e que deixem um legado positivo”, confia a turismóloga, que divide conosco um pouco dos novos projetos e do atual cenário do turismo comunitário no Brasil:

Foto: Divulgação

As sócias da Raízes Desenvolvimento Sustentável Mariana Madureira e Marianne Costa

1) O que é exatamente o turismo solidário?
Turismo solidário é o turismo que contribui para o desenvolvimento social e preservação cultural da comunidade receptora. O turismo solidário contribui para geração e distribuição de renda local e valoriza o modo de viver dos anfitriões.

2) Como o turismo comunitário e solidário pode ajudar na valorização da cultura e em questões tão importantes no Brasil como a redução da pobreza e a geração de emprego e renda? 
O turismo é uma atividade econômica com imenso potencial de geração e distribuição de renda. Ele tem sido praticado em massa em empreendimentos que geram muito dinheiro para poucas pessoas e muito impacto socioambiental para poucos lugares. O turismo solidário e comunitário prevê uma desconcentração dessa demanda (acontece em pequenos grupos e com menor frequência) e uma distribuição dos recursos, já que um dos princípios do turismo de base comunitária é que a maior parte dos bens e equipamentos turísticos devem pertencer à comunidade, seja através de pequenos negócios familiares ou empreendimentos coletivos e cooperativos.

3) Como está o desenvolvimento do turismo de base comunitária hoje no Brasil? O que falta para ele se consolidar como alternativa, tanto para comunidades, quanto para viajantes? 
O turismo de base comunitária tem sido cada vez mais praticado e estruturado no Brasil. Já foram mapeadas pela UFRRJ mais de 200 comunidades que recebem ou receberam visitantes. A maioria delas ainda não se organizou de forma adequada.

4) Em agosto deste ano vocês reuniram diversos atores do turismo de base comunitária no II Encontro Turisol. Quais foram os grandes aprendizados e conquistas do evento? A proposta é repetí-lo?
O grande mérito do evento foi rearticular a Rede. As várias pontas (comunidade, ONGs, academia, governos, operadoras) vinham atuando de forma independente e com quase nenhum diálogo. Havia cinco anos que a rede não se encontrava. Muitos contatos importantes foram feitos e várias parcerias deverão surgir desse momento. A ideia é que haja outros sim.

4) Como nasceu a Raízes Desenvolvimento Sustentável e como vocês acreditam que podem ajudar a transformaras viagens no país?
Nasceu em 2006 da vontade de fazer com que o turismo fosse parte da solução e não uma contribuição para o atual problema de desigualdade social e uso insustentável dos recursos. Acreditamos que é possível desenvolver destinos e visitantes mais conscientes e que deixem um legado positivo.

5) Vocês participaram do desenvolvimento do roteiro “Do Barro à Arte”, no Vale do Jequitinhonha. O que ele apresenta? Qualquer pessoa pode visitar?
Ele está pronto. Foi criado através de uma campanha de crowdfunding em que os colaboradores participaram do roteiro piloto. Trata-se de uma viagem na qual os visitantes têm a oportunidade de dormir nas casas das artesãs, comer nos seus quintais e criar peças de cerâmica de forma tradicional, seguindo todo o processo desde a retirado do barro até a queima no fogão a lenha. Qualquer pessoa interessada nessa experiência pode participar. Em média fazemos duas saídas por ano ou grupos fechados de 10 pessoas.

6) Quais são os próximos projetos da Raízes?
A Raízes está desenvolvendo um projeto de geração de renda através do turismo e da gastronomia na comunidade de Morro d’Água Quente em Catas Altas – MG, buscando parceiros para implementação de um projeto de turismo sustentável e qualidade de vida na Guarda do Embaú, em Santa Catarina, desenvolvendo um curso de turismo rural para Rota das Aldeias em Cabo Verde, na África, fazendo a gestão estratégica de duas ONGs relevantes para o desenvolvimento do turismo solidário e comunitário (Projeto Bagagem) e do Ecoturismo e Turismo de Aventura (ABETA). Temos nos envolvido muito na parte de inspiração, oferecendo palestras e cursos. Seguimos realizando e buscando novos desafios!!

7) Qual você acredita que é o futuro para o turismo responsável no Brasil? Estamos prontos para praticá-lo?
Há como desafio para um crescimento sustentável desse setor que tanto as comunidades quanto os turistas se preparem para que a atividade gere ganhos culturais para ambas as partes minimizando impactos socioambientais possíveis. É um trabalho de qualificação das comunidades e sensibilização dos turistas. Estamos no caminho.

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Sobre o Autor

Ana Duék

Jornalista de viagens com Mestrado em Gestão de Turismo e Hospitalidade pela Middlesex University (Londres). Desde 2015 defendendo um turismo mais consciente. Acredito que as viagens podem gerar mais impactos positivos para viajantes e para os destinos que nos recebem. Vamos descobrir como?

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