Bagagem Leve

Torcida brasileira na Rússia e os turistas que não queremos s(t)er

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Foto: Rafaela Biazi
Escrito por Ana Duék

O recente comportamento vergonhoso e machista dos turistas brasileiros em três episódios diferentes durante a Copa da Rússia faz a gente pensar sobre valores, ética, respeito e o que é ser um turista consciente e responsável. Certamente esse tipo de comportamento, na nossa cultura atual, tornou-se inaceitável, até mesmo dentro de casa. Mas é interessante pensarmos nas “liberdades ilusórias” que estar em outro país ou lugar nos traz. Não é incomum vermos turistas com atitudes impróprias ou até desrespeitosas e nos perguntarmos: “será que eles fazem isso em casa?”. Se estamos fora do Brasil e esses viajantes são nossos conterrâneos, nossa vergonha é ainda maior.

Será que as viagens muitas vezes dão ao ser humano um senso de liberdade que ultrapassa o limite do respeito ao outro? Há quem pense que está viajando para relaxar e se divertir e que, portanto, todos os seus desejos devem ser atendidos, seja como for? É fato que muitos destinos já não se interessam mais em sediar megaeventos esportivos. Além dos fiascos econômicos, entende-se que o perfil do visitante da Copa do Mundo e da Olimpíada é menos qualificado econômico e culturalmente – afinal, muitas vezes, ele não está efetivamente interessado em conhecer o lugar.

Não podemos entender o que leva homens a sairem do Brasil e terem vontade de compartilhar desrespeito e machismo com as mulheres locais, quando temos tanta cultura interessante para dividir. Nem dá para saber se foram casos isolados ou se essa é a postura deles por aqui também. Mas o fato é que comportamento e valores estão intimamente ligados a educação e cultura e, em muitos casos, são difíceis de serem transformados.

Podemos pensar, no mínimo, é que nossos valores nem sempre são iguais aos dos outros. Principalmente se estamos em outra cultura. Conhecer, entender e respeitar quem estamos visitando é essencial para que, como turistas, façamos o papel de apoiar e preservar (e não destruir) aquele destino, aquela comunidade, aquela cultura. E, claro, nos divertirmos e aproveitarmos ao máximo nossa viagem.

O Itamaraty fez uma cartilha para orientar o comportamento dos torcedores durante a Copa do Mundo da Rússia. A intenção nada mais é do que facilitar uma interação respeitosa entre visitantes e anfitriões. Certamente não imaginava que episódios vergonhosos de machismo iriam surgir. Que eles sirvam não só de exemplo para lembrarmos que machismo ainda existe sim, muito, e precisamos falar sobre ele. Mas também como reflexão para pensarmos como somos capazes de desrespeitar aqueles que nos recebem de braços abertos. Que não seja com episódios tão lamentáveis, mas muitas vezes com lixos descartados inapropriadamente, fotografias desrespeitosas, destruição do patrimônio e desprezo à cultura local.

Com um pequeno esforço de educação, consciência, respeito e busca de informações poderemos ser, cada vez mais, turistas conscientes, melhores para nós mesmos e para as comunidades e destinos que visitamos. Mãos à obra!

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Sobre o Autor

Ana Duék

Jornalista de viagens com Mestrado em Gestão de Turismo e Hospitalidade pela Middlesex University (Londres). Desde 2015 defendendo um turismo mais consciente. Acredito que as viagens podem gerar mais impactos positivos para viajantes e para os destinos que nos recebem. Vamos descobrir como?

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