O Rio São Francisco, que dá vida à população ribeirinha de cinco estados brasileiros (Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoas), também é inspiração para projetos voltados à sustentabilidade. Entre eles está o Projeto de Dinamização e Sustentabilidade do Turismo do Baixo São Francisco, realizado conjuntamente pelo Instituto Ambiental Brasil Sustentável (IABS), Governo do Estado de Alagoas, Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (AECID).
O projeto desenvolvido entre os anos de 2013 e 2015 teve como objetivo melhorar a qualidade de vida da população em uma das regiões de menor renda dos estados de Alagoas e Sergipe, fomentando a diversificação e fortalecendo seu quadro econômico por meio do desenvolvimento do turismo sustentável. Durante esse período, diversos estudos sobre a região foram realizados para compreender a atividade turística e suas interfaces a fim de preparar os núcleos receptores para receber a atividade. Representantes do poder público, empresários e a população local envolvida com o turismo participaram ativamente de todas as etapas.
O projeto rendeu bons frutos, a exemplo da formação da Rede Empresarial Caminhos do São Francisco que integra toda cadeia produtiva do turismo. A Rede torna os empresários protagonistas do destino para que eles decidam sobre os rumos da atividade na região. Esta ação é de extrema importância para que a sustentabilidade de fato exista, pois muitos destinos com potencial para desenvolvimento turístico acabam cometendo o erro de não dar voz aos agentes locais e acabam reforçando a desigualdade social.
A gente do Velho Chico
Dona Francisca, artesanato do sertão
Euclides da Cunha em seu livro “Os Sertões” já dizia que “o sertanejo é antes de tudo um forte”. Além da maneira peculiar de conviver com a escassez, da foz aos cânions o que encontramos são pessoas com muita criatividade e disposição. Diversos nomes e ações podem ser citados pelo engajamento e o amor com que tocam o seu negócio. É o caso de Dona Francisca, responsável pela Associação Pontos e Contos, em Penedo/AL. O artesanato das mulheres associadas retrata as belezas locais e a simplicidade do cotidiano da cidade, que está localizada às margens do Rio São Francisco e teve seu Centro Histórico tombado pelo IPHAN como Patrimônio Histórico Nacional. As mulheres envolvidas no projeto tiveram suas vidas positivamente modificadas pela ação e se sentem mais valorizadas ao virem suas peças circulando pelo mundo.
Ainda na região da foz, o empresário Robério Góes de Piaçabuçu é responsável por encantar os visitantes com suas atividades de aventura (passeios de super buggy ou barco, skibunda e parasail) nas Dunas Douradas de Piaçabuçu. Robério é dono da Farol da Foz, empresa que realiza passeios voltados para o ecoturismo e turismo de aventura e desempenha papel importante na conscientização ambiental ao mostrar os impactos negativos que o Velho Chico vem sofrendo ao longo dos anos devido à ação humana. O momento mais tocante é quando um de seus guias mostra ao grupo fotos do “antes e depois” do rio, como eram as quedas d’água que secaram e sobre como era sua força de “empurrar” o mar, que hoje sofre com o fenômeno ao contrário e tem suas águas doces salinizadas.
Seu José Francisco em defesa da preservação
Outro personagem inesquecível é Seu José Francisco. A visita ao proprietário da Pousada Mirante do Talhado, em Delmiro Gouveia, é quase obrigatória para quem deseja conhecer o modo de vida sertanejo e aprender sobre a convivência com a terra. Seu Zé Francisco, hoje com 77 anos, surpreende os visitantes ao demonstrar tamanha disposição para conduzir grupos nas trilhas da caatinga e acima de tudo para lutar a favor da preservação do ecossistema em que vive, acreditando que o turismo pode ser uma importante ferramenta no processo de conscientização ambiental.
José Augusto e a natureza
Por fim, Seu José Augusto, um sertanejo de fibra da margem sergipana que vive na Eco Fazenda Mundo Novo, uma confortável pousada localizada nos cânions de Canindé de São Francisco que guarda diversas pinturas rupestres e trilhas feitas pelos cangaceiros de Lampião e Maria Bonita. Seu Zé Augusto conduz os visitantes com muita simplicidade e sabedoria, faz questão de explicar planta por planta a sua função na natureza e as propriedades medicinais.
O Projeto de Dinamização e Sustentabilidade do Turismo do Baixo São Francisco fez com que essas e tantas outras pessoas ganhassem destaque e acima de tudo se sentissem reconhecidas, sendo uma importante ferramenta de fixação do homem na terra. O amor e orgulho com quem falam e pautam suas ações, faz Os Caminhos do São Francisco um verdadeiro tesouro. Se outros projetos desse nível tivessem mais apoio, sem dúvidas, o turismo no Brasil seria diferente.
