Acordei inspirada. A noite não foi das melhores e o dia estava chuvoso. Mas, afinal de contas, eu estava em Salvador! Ninguém há de entender. Mal conhecia Salvador (exceto por alguns carnavais), mas me sinto profundamente conectada com essa cidade. Coloquei um modelito “semi-instagramável”, minha máscara e desci para o café da manhã.
Ah, o café da manhã… tinha passado os últimos 30 dias redescobrindo o prazer de tomar café da manhã, com frutas frescas, granola e olhando para natureza! Sem pressa… Mas já sabia que, agora, a natureza ficaria para depois. Na noite anterior o recepcionista do hotel já tinha me alertado: – “pode ser que a senhora tenha que esperar um pouco para entrar no salão de café da manhã, porque o hotel está lotado”.
– Ué? O que aconteceu com trabalhar com capacidade menor durante a pandemia?
Cheguei ao salão do café e não precisei esperar. Esse protocolo também já havia sido renovado. O profissional na porta confirmou o número do meu quarto e soltou 3 jatos de álcool que deveriam ir para a minha mão, mas aproveitaram para desinfetar minha roupa inteira. Entrei e me deparei com um buffet 😲! Passei os últimos 8 meses ouvindo sobre como hotéis e restaurantes tiveram que se adaptar à nova situação e tinha entendido que uma das principais mudanças era o fim dos buffets.
Mas lá estava ele: exposto, aglomerado e totalmente plastificado! E, claro, o que mais esperar? As frutas não eram frescas 😭
Para nos servirmos, eram oferecidas luvas de plástico. Os plásticos também envolviam talheres, guardanapos, geleias e sei lá mais o quê. Não me deram a mínima sensação de segurança. As pessoas continuavam aglomeradas esperando ansiosas para pegar o bolinho ou o pão, como se estivessem passando fome. Terminei meu café correndo, doida para respirar ar puro.
Caminhei pela orla da Barra aliviada onde, apesar do movimento, as pessoas estavam de máscaras. À noite voltei para o hotel e a angústia veio comigo. Tive outros problemas no quarto que, com certeza, não ajudaram. O ar condicionado estava quebrado e o único quarto disponível (em um hotel que parecia ter no mínimo 250 apartamentos) não tinha tomadas que funcionassem. Era dormir no calor ou não poder tirar fotos no dia seguinte. Adivinhem o que a blogueira escolheu???
Felizmente, as toalhas do quarto não vieram plastificadas. Já bastam as garrafinhas de água, que realmente seguem sendo um desafio quando viajamos…
Não percebi, mas uma sensação incômoda foi me tomando. Sensação de estar presa em um hotel insustentável e inseguro, sem poder fazer nada a não ser fugir! Acabei acreditando que tinha sido muito imprudente minha viagem a Salvador nesse momento. Fiquei culpada. Mas depois refletindo, me dei conta de como todo o sentimento foi invadido por aquele hotel. Nas ruas de Salvador não houve insegurança nenhuma. Com as pessoas que encontrei foi só acolhimento e nada de aglomerações 😊
Não tinha a mínima intenção de fazer esse relato. A ideia era esquecer essa experiência. Não fiz nenhum registro do famigerado hotel. Deixo vocês aqui com a foto de um bom momento, que durou apenas 10 minutos: a vista do quarto onde as tomadas não funcionavam.
Mas, me inspirei pelo brilhante texto publicado ontem pelo Gustavo Pinto no Hub da WTM Latin America, que questiona se a pandemia é realmente o maior desafio para o setor de turismo. Ela vai passar. Acreditemos que sim. Mas pelo visto continuaremos desafiando nosso planeta com o uso absurdo de plásticos, consumo excessivo de recursos naturais, destruição de nossos ecossistemas e desrespeito às vidas humanas em prol da economia que não pode parar.
Quando optamos por nos hospedar em hotéis ou pousadas responsáveis, é sobre tudo isso também. Infelizmente não fiz essa escolha em Salvador e vou adorar se tiverem lugares conscientes para me indicar na cidade! 🤗
Fui alvejada pelos jatos durante três dias, mas, no último, aprendi a me esquivar! Voltei para casa, fiz meus 14 dias de quarentena e, aparentemente, não tive nada. Continuo saudável. 🙏 Cuidem-se!
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