Viajante Natural Destino Brasil

Serra do Amolar: o Pantanal remoto do Mato Grosso do Sul

Serra do Amolar Pantanal
Recompensa no final da Trilha Morrinhos | Foto: Viajar Verde
Escrito por Ana Duék

(atualizado em janeiro / 2022)

O Pantanal sempre me pareceu um destino muito difícil de se alcançar. Por isso, habitava meus sonhos de maneira tímida. Penso que a sensação de distância se dá justamente pela nossa ausência de Pantanal: aprendemos muito pouco sobre o bioma e só lembramos dele quando é tomado pelo fogo… Por que sonhamos tanto em fazer um safári nos países da África e esquecemos que aqui mesmo no Brasil está um dos destinos mais ricos do planeta para a observação de vida silvestre?

Minha aproximação com o Pantanal foi recente, ao começar a ler e aprender sobre a complexidade deste lugar único. E, principalmente, ao entender (ainda que de longe) que o desenvolvimento de um turismo cada vez mais sustentável na região é a solução para a preservação do destino. Em 2020, incêndios destruíram cerca de 4 milhões de hectares, que correspondem a mais de 26% do bioma – um recorde nos últimos anos. Um estudo publicado pela Scientific Reports em dezembro de 2021 revelou que 17 milhões de animais vertebrados morreram nestes incêndios.

Entender o nosso papel, como indivíduos e viajantes, na proteção e regeneração do local foi uma das motivações da minha viagem e inspiração também para a Amolar Experience, o braço de turismo do Instituto Homem Pantaneiro, desenvolver esta incrível experiência. De fato, nada como conhecer de perto para se sensibilizar e ajudar a preservar. Esta talvez seja uma das minhas viagens mais difíceis de “botar no papel” diante das muitas emoções que vivi. Mas espero que eu consiga, no mínimo, te inspirar a explorar também o “reino das águas”!

Neste texto você vai ler:

1. O que sabemos sobre o Pantanal?
2. Corumbá: um anfiteatro para o Pantanal
3. Um encontro com a escola Jatobazinho
4. Destino Serra do Amolar
5. Serra do Amolar – um roteiro de trocas com a natureza
6. As trilhas da Serra do Amolar
7. Safári fluvial e observação de animais no Pantanal
8. O Pantanal muito além dos animais
9. Visitando uma comunidade ribeirinha
10. O fogo na Serra do Amolar e a Brigada Alto Pantanal
11. Como ser um viajante responsável no Pantanal
12. O que não pode faltar na mochila para o Pantanal?

Corumbá Pantanal

Navegando pelo Rio Paraguai, em Corumbá, MS | Foto: Ana Duék

1. O que sabemos sobre o Pantanal?

Antes de seguirmos rio acima, precisamos entender que o Pantanal ocupa uma região gigantesca, de 220.000 km², estendendo-se pelo Brasil, Bolívia e Paraguai. Apesar de ser o menor bioma do Brasil, é considerado a maior planície continental alagada do planeta. Ou seja, seriam necessárias muitas semanas para desvendá-lo por completo. A minha viagem, de 6 dias, se concentrou especialmente na região da Serra do Amolar, no Mato Grosso do Sul, uma área remota e mágica – e você já vai entender por quê!

O roteiro foi desenvolvido a partir de uma parceria especial entre o Instituto Homem Pantaneiro (IHP), o Amolar Experience e a Pure Brasil com o objetivo de apresentar de forma consciente e responsável a Serra do Amolar aos viajantes e criar uma nova fonte de geração de renda para a conservação do destino. A viagem que fizemos contou também com o apoio da Fundação de Turismo do Mato Grosso do Sul e o Sebrae-MS.

Serra do Amolar

A Serra do Amolar, ao fundo, é uma paisagem incomum no Pantanal | Foto: Ana Duék

Para mergulharmos nessa aventura, vale à pena conhecermos algumas curiosidades sobre o Pantanal:

1️⃣ O Pantanal brasileiro se divide entre os estados do MS e MT, sendo que mais de 65% do bioma está no Mato Grosso do Sul;

2️⃣ É considerado o bioma brasileiro com maior concentração de animais por metro quadrado. São mais de 650 espécies de aves, 230 de peixes, 80 de mamíferos e 50 de répteis;

3️⃣ O Pantanal está dividido em 10 ou 11 microrregiões, de acordo com solo, vegetação e clima. Cada uma delas tem características diferentes e destaques especiais;

4️⃣ A época das vazantes, quando os rios baixam (de julho a setembro) é ideal para o avistamento de animais, especialmente nos roteiros e safáris de barco. Na época das cheias, no entanto, tudo fica mais verde e é possível avistar animais que se distanciam da água para se refugiar nas trilhas e nas copas das árvores.

5️⃣ A população pantaneira em Corumbá (MS) é muito diversa e formada por indígenas Guatós, quilombolas, bolivianos, paraguaios e brasileiros de diversas origens.

Corumbá Pantanal tuiuiú

Tuiuiú: a ave símbolo do Pantanal | Foto: Ana Duék

2. Corumbá: um anfiteatro para o Pantanal

A área urbana de Corumbá é a primeira parada do nosso roteiro e uma surpresa mais que agradável, já que pouco pensamos nela como um destino turístico. Mas as descobertas foram tantas, que o município vai merecer outro post depois, somente sobre ele. 😍

Para chegar ao município de Corumbá são 5h de carro a partir do aeroporto de Campo Grande (Corumbá também tem um aeroporto, que recebe voos da Azul. Vale sempre conferir a disponibilidade). Pode parecer que estamos mudando de estado, mas continuamos no Mato Grosso do Sul, prestes a alcançar a fronteira com a Bolívia. Corumbá é o 11º maior município do Brasil em extensão e isso explica porque, no dia seguinte, precisaremos de mais 5 horas de barco a motor para alcançar a Serra do Amolar (que ainda está dentro de Corumbá!).

Corumbá Mato Grosso do Sul

A cidade de Corumbá fica na beira do Rio Paraguai | Foto: Ana Duék

A cidade, fundada em 1778, está debruçada sobre o Rio Paraguai, que através do Rio Paraná alcança a Bacia do Rio da Prata e o Oceano Atlântico. A localização estratégica, trouxe para Corumbá exploradores, artistas europeus, disputas entre as coroas Portuguesa e Espanhola, batalhas da Guerra do Paraguai, imigração de bolivianos e tantas outras histórias que, claro, começaram muito antes com o povo Guató, os Xaraés e outras etnias indígenas.

Reunido em torno do Porto Geral de Corumbá, o Casario do Porto abriga diversas construções tombadas pelo Patrimônio Histórico Nacional. É ali que estão sediados o IHP – Instituto Homem Pantaneiro, o Muhpan – Museu de História do Pantanal e o Instituto Moinho Cultural, um projeto social que incentiva o envolvimento de crianças e adolescentes da região de fronteira com a dança, música, artes e literatura.

Serra do Amolar

Recepção com performance, música pantaneira e viola de cocho | Foto: Ana Duék

No IHP fomos recebidos pelo coronel Ângelo Rabelo, presidente do instituto e, há décadas, grande defensor da conservação da região, que logo nos avisou: “o Pantanal é um lugar onde a natureza definiu regras para o homem e não o homem para a natureza“. Essa relação entre homem e natureza, tão presente nas obras de Manoel de Barros, o poeta pantaneiro, é motivo de muitas reflexões durante uma imersão no Pantanal. Ali começamos a perceber um dos propósitos da nossa viagem: entender, aceitar e sentir a natureza nos motiva a preservá-la.

Instituto Homem Pantaneiro

O Coronel Rabelo está à frente do Instituto Homem Pantaneiro e há décadas luta pela conservação do Pantanal | Foto: Ana Duék

3. Um encontro com a Escola Jatobazinho

No dia seguinte, partimos Rio Paraguai acima. Serão longas horas no barco, bastante vento no rosto, mas também a oportunidade única de fazer nossos primeiros avistamentos. Uma capivara ali, um jacaré acolá, um tuiuiú a sobrevoar. Apenas para dar o gostinho do que ainda está por vir!

Capivara Serra do Amolar

Foto: Ana Duék

Já alcançando o meio do caminho, fazemos uma parada inesperada na Escola Jatobazinho, à beira do Rio Paraguai. A escola é uma parceria público-privada do Instituto Acaia com apoio da Prefeitura de Corumbá, que recebe mais de 60 crianças de toda a região. É uma daquelas iniciativas que você encontra em um lugar remoto, onde menos espera, e tem certeza de que transforma vidas.

Escola Jatobazinho

Escola Jatobazinho | Foto: Ana Duék

Escola Jatobazinho

A sala de aula estava aguardando as crianças depois de meses sem aulas | Foto: Ana Duék

O barco-escola busca as crianças na segunda-feira pela manhã e deixa de volta em casa na sexta. Algumas chegam a morar a 2 horas de distância e dependem dos pais ou familiares para trazê-las mais perto, onde o barco-escola alcança. Na Jatobazinho elas passam a semana, estudam, se alimentam, aprendem sobre a cultura e saberes locais, brincam e se responsabilizam na hora de organizar as próprias coisas. Quando estivemos por lá, máscaras com o nome de cada aluno aguardavam nos alojamentos a volta deles no dia seguinte. Depois de um ano sem aulas e dos últimos meses recebendo os educadores pontualmente em suas comunidades, finalmente era hora de retomar as aulas presenciais, com a garantia de que todas as crianças estavam vacinadas.

Escola Jatobazinho

Barco-escola passando ainda sem as crianças | Foto: Ana Duék

4. Sobre a Serra do Amolar

Seguimos em frente. Não é fácil alcançar a Serra do Amolar, mas cada quilômetro vale à pena. Para chegar lá, apenas barco ou avião. A Serra do Amolar fica no noroeste do Mato Grosso do Sul, já na fronteira com Cáceres, no Mato Grosso, e com a Bolívia. Ainda pouco explorada pelos turistas, a região reúne um corredor verde de áreas protegidas, cercadas por montanhas – uma paisagem incomum nas planícies do Pantanal. Juntas, essas reservas e fazendas, além de parte do Parque Nacional Matogrossense, abrangem uma área de 201.000 hectares legalmente protegidos, que oferecem o ambiente ideal para a vida silvestre prosperar. Entre elas o animal mais procurado do Pantanal e ainda sob risco de extinção: a onça pintada.

Serra do Amolar

Serra do Amolar | Foto: Ana Duék

Conforme subimos o rio Paraguai, em um barco motorizado, vamos cruzando com pescadores, comunidades isoladas, cruzeiros fluviais e barcos que transportam moradores locais, levando mais de 20 horas para alcançar o porto de Corumbá – assim como na Amazônia, as redes são a solução para quem precisa pernoitar no barco. A paisagem, com o rio largo, cercado por aguapés e vegetação típica, só se transforma quando começamos a avistar as esculpidas montanhas da Serra do Amolar. Paralelamente, a presença humana vai reduzindo até quase desaparecer.

Serra do Amolar Pantanal

Foto: Ana Duék

5. Serra do Amolar – um roteiro de trocas com a natureza

Serra do Amolar

Foto: Ana Duék

A Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Acurizal é o destino final do nosso roteiro e nossa base pelos próximos 5 dias. As suítes que estão acostumadas a receber pesquisadores foram adaptadas para também receberem turistas. A partir dali, teremos a oportunidade de fazer trilhas, caminhadas, passeios de bicicleta e caiaque, tomar banho em piscinas naturais, visitar comunidades ribeirinhas e observar a vida silvestre – por terra ou em safáris fluviais.

RPPN Acurizal

A RPPN Acurizal foi nossa hospedagem durante 5 dias | Foto: Ana Duék

A Acurizal é uma das quatro reservas ativas sob gestão do IHP na Serra do Amolar. Além delas, o Instituto acabou de assumir, em agosto de 2021, a gestão compartilhada do Parque Nacional do Pantanal Matogrossense. Na RPPN Acurizal o IHP mantém uma equipe e são eles mesmos que nos recebem, com muito acolhimento e comida de casa de vó, explicando um pouquinho do que vamos encontrar por ali. Para coordenar todo o programa de turismo do IHP, que ganhou o nome de Amolar Experience, e nos acompanhar na nossa jornada, está Luiz Ricardo Julião, um Corumbaense orgulhoso de sua região e sempre de sorriso aberto.

RPPN Acurizal

São poucos quartos na RPPN Acurizal, com a estrutura de uma pousada | Foto: Ana Duék

6. As trilhas da Serra do Amolar

Serra do Amolar

Seguindo a Trilha do Sol | Foto: Ana Duék

Nos dias que se seguiram, fizemos três trilhas fáceis e planas dentro da reserva Acurizal: a Trilha do Sol (800 m), ideal para contemplar o pôr do sol sobre a Baía Acurizal; a Trilha Zogue-zogue (1 km), em busca do macaco que leva o mesmo nome; e a Trilha Sul (6 km), que nos presenteia, ao final, com uma tranquila piscina natural, onde apenas peixinhos dividem a água conosco. Não esqueça a roupa de banho!

Nossa volta foi feita metade de carro, metade de bicicleta, mas é possível fazer a trilha toda de bike. A maior emoção da Trilha Sul, porém, é a expectativa do encontro com um bando de queixadas, que às vezes passeiam por ali. São animais que não costumam atacar diretamente, mas, ao correr para proteger os filhotes, parte do grupo pode literalmente nos atropelar, o que, afortunadamente, não aconteceu! 😅

RPPN Eliezer Batista Serra do Amolar

Trilha Morrinhos | Foto: Viajar Verde

A trilha mais difícil foi feita no quarto dia de viagem, na RPPN Engenheiro Eliezer Batista, que também é administrada pelo IHP. São 8 km, a maior parte deles de subida íngreme, para alcançar o topo da Trilha Morrinhos. Não chegamos ao ápice, mas estivemos quase lá. Todo o esforço e suor valeram à pena para ter a oportunidade única de contemplar o Pantanal lá do alto. Este foi, sem dúvidas, um dos momentos mágicos da viagem.

Mais de 100 km de trilhas já foram mapeados na região da Serra do Amolar, no Pantanal. Tem trilha para todos os gostos e ritmos. Da caminhada de 800m para ver o pôr do sol, à Travessia do Amolar, com seus 48 km e subidas íngremes, que dura aproximadamente quatro dias.

O encanto das trilhas locais não está apenas no destino final, mas no trajeto, e em todas as descobertas que vamos fazendo junto à natureza. Nada disso teria sido possível sem a condução do guia Adriano Ximenes, que fez toda a diferença para que o roteiro se tornasse ainda mais especial. Com ele, tentamos entender como diferenciar patas de onça parda e pintada (não me pergunte, porque ainda não sei fazê-lo!), aprendemos um tanto sobre o comportamento de diversas espécies animais, descobrimos diferentes formas de proteção que as árvores desenvolvem em seus troncos, observamos a menor cobra do mundo e ouvimos muitas histórias locais.

Serra do Amolar Trilha Morrinhos

Topo da Trilha Morrinhos, na Serra do Amolar, Pantanal | Foto: Viajar Verde

Serra do Amolar

Adriano Ximenes, nosso guia especialista na Serra do Amolar | Foto: Ana Duék

O mais interessante foi saber que as trilhas por onde caminhamos como turistas e aventureiros, são usadas pelos brigadistas e bombeiros na hora de controlar os incêndios na região. Muitas delas são resultados de aceiros abertos estrategicamente para atrasar ou cortar o fogo. A partir daí, nos conscientizamos plenamente sobre como o ecoturismo e o apoio à conservação podem literalmente “caminhar juntos”.

trilhas da Serra do Amolar

Muitas trilhas são aceiros abertos pelos brigadistas para conter o fogo | Foto: Ana Duék

7. Safári fluvial e observação de animais no Pantanal

Minha viagem aconteceu em época de seca e rios bem baixos. Este é o melhor momento para avistar animais a partir de barcos, já que eles se aproximam mais das margens para alcançar a água. De fato, foi navegando pelos rios e corixos que pudemos observar capivaras com filhotes, muitos jacarés, ariranhas simpáticas e com seu cheiro peculiar, foca, macaco bugio e a maior variedade de aves: revoadas de colhereiros, garças, aracuãs, socós, gaviões, além de um coletivo surpreendente de tuiuiús.

tuiuiú

Foto: Ana Duék

Os safáris fluviais acontecem nos trajetos entre um atrativo e outro, já que eles ficam distantes. E a natureza é imprevisível. Portanto, esteja sempre preparado: de câmera e binóculos nas mãos e olhos bem atentos. Foi em um dia de passeio para flutuação no rio que resolvi deixar minha câmera no quarto. Já estava exausta de carregá-la. E, como Murphy é sempre meu amigo, foi exatamente neste dia que uma onça linda apareceu: tranquila, deitada na beira d’água, até notar nossa presença. Foi tudo muito rápido e emocionante! Ali estava minha primeira onça! Levantou-se e foi embora com a mesma serenidade. Não deu tempo de fotografar. 😥

colhereiros Pantanal

Foto: Ana Duék

8. Serra do Amolar muito além dos animais

O mesmo barco nos leva para explorar curiosas pinturas rupestres, que remontam às origens dos povos do Pantanal. Isso teria acontecido há 3 mil anos. Toda a região da Serra do Amolar abriga sítios arqueológicos com pinturas, muitas vezes difíceis de distinguir. Um peixe? Uma figura humana? Os arqueólogos ainda não têm todas as respostas.

É fim de tarde. Nosso piloto acelera para chegarmos em tempo para o pôr do sol. Aliás, preciso abrir parênteses para reconhecer que, durante aqueles dias, observei alguns dos mais lindos pores do sol da minha vida. O Arpoador que se cuide!

Por do Sol Serra do Amolar

O pôr do sol mágico na Reserva Acurizal | Foto: Ana Duék

Chegamos ao centro da Baía Gaíva e não há nada nem ninguém ao nosso redor. Apenas o silêncio. O sol está se pondo na direção da Bolívia, cuja fronteira está exatamente no meio da baía. A partir daí, foi tudo muito rápido. Ele se pôs como quem está com pressa para ir para casa. Aproveitamos para fazer um brinde com vinho para celebrar aquele momento único!

Baía Gaíva

Pôr do sol na Baía Gaíva | Foto: Ana Duék

Outro momento surpreendente foi poder flutuar por um trecho de águas cristalinas próximo ao Rio Paraguai Mirim. O fenômeno é resultado do assoreamento do rio Taquari, um triste desastre de grandes proporções que ainda gera impactos sociais e ambientais na região. Enquanto o “rompimento” do rio levou a perdas de milhares de hectares de terras de fazendas, a água foi sendo “filtrada” por entre essas terras até chegar no Paraguai Mirim com o aspecto cristalino. De snorkel é possível até observar os peixes.

banho de rio Pantanal

Mergulho no rio sem jacaré | Foto: Viajar Verde

9. Visitando a comunidade ribeirinha de Barra de São Lourenço

Uma das minhas grandes paixões em viagens tem sido visitar comunidades tradicionais ou originárias. É uma oportunidade de tentar entender aquele destino através de olhares nã0 comerciais e voltados para o turista. Ou seja, ali temos a essência real do lugar. Nada foi montado para atender aos desejos e deleites dos viajantes.

Mas não imaginei que teria este encontro no Pantanal. A Serra do Amolar tem a característica de ter comunidades e moradores mais dispersos. Poucas famílias se concentram em cada local. É assim que funciona a comunidade da Barra de São Lourenço, onde vivem cerca de 18 famílias. Grande parte delas já levou suas casas mais para o interior, onde conseguem se proteger nos momentos de cheia, mas dona Eliane diz que não sai da beira do rio de jeito nenhum. Ao lado da casa dela ficam outras poucas casas, todas de primos e familiares, além de uma pequena escola local.

Serra do Amolar

Dona Eliane ensina como trançar a palha de aguapé | Foto: Ana Duék

Chegamos no fim da tarde e fomos recebidos com café e bolo fresquinho 💓 Eliane, que na verdade tem o nome de Leonilda Aires de Souza, é presidente da Associação de Mulheres Artesãs da Barra de São Lourenço. Ao lado dela estão Zeferina e Josilene, mais conhecida como Jo. As três artesãs conversaram com nosso grupo, apresentaram o incrível trabalho que fazem com palha de aguapé e falaram sobre a conexão que têm com aquele lugar. Eliane, que já morou na cidade mas voltou, explica: “eu me sinto parte disso aqui. Somos os guardiões de tudo que habita ao nosso redor”. As artesãs na verdade trabalham como isqueiras, ou catadoras de iscas. O artesanato está se tornando uma alternativa de renda aos poucos, com o crescimento do turismo sustentável na região.

Barra de São Lourenço Corumbá

As artistas e suas peças na comunidade da Barra de São Lourenço | Foto: Ana Duék

10. O fogo na Serra do Amolar e a Brigada Alto Pantanal

Pequenos focos de incêndio são corriqueiros na época da seca no Pantanal. Com enorme poder de regeneração, o bioma e suas espécies normalmente vão se reequilibrando, conforme voltam as chuvas, em uma harmonia balanceada. Mas há momentos em que o fogo alcança proporções catastróficas. Foi o caso de 2020, quando a Serra do Amolar se tornou a região pantaneira mais afetada pelos incêndios. E assim está sendo novamente este ano (2021)…

Quando estive lá, no início de agosto de 2021, não vi nenhum foco de incêndio na área. Tudo parecia tranquilo e a vida silvestre já estava em regeneração, com muitas áreas verdes e animais “voltando para casa”. Tivemos a oportunidade então de aprender bastante sobre o essencial trabalho dos brigadistas locais no controle e prevenção do fogo e também de ouvir algumas histórias heróicas destes profissionais, como o resgate da famosa onça Joujou, encontrada com as patas queimadas. Depois de cuidado, Joujou foi reintroduzido na Serra do Amolar e hoje é a única onça com colar de monitoramento na área, sendo avistada de vez em quando em perfeita saúde.

Brigada Alto Pantanal

Brigadistas e ex-brigadistas da Brigada Alto Pantanal | Foto: Viajar Verde

Os incêndios entram naturalmente na narrativa da nossa viagem e são oportunidades únicas para tirarmos tantas dúvidas, especialmente porque estamos cercados de brigadistas. Adriano, nosso guia, foi um dos combatentes do fogo em 2020 e Manoel, nosso barqueiro, também. Eles fizeram parte da Brigada Alto Pantanal, uma brigada permanente criada em 2020 pelo IHP para monitorar e combater o fogo na Serra do Amolar. Manoel ainda é um dos quatro brigadistas oficialmente contratados. Adriano e outras pessoas podem se juntar em momentos de maior necessidade. Além do essencial trabalho de monitoramento, o que diferencia a Brigada Alto Pantanal é que ela é formada por moradores da região. Pessoas que conhecem cada trilha, cada área alagada, as comunidades e até mesmo a direção do vento. Quando os bombeiros e brigadistas da Prevfogo se juntam a eles, podem contar com informações bem mais precisas.

Vale lembrar sempre que fazer turismo no Pantanal é uma forma de apoiar a todos que se envolvem na preservação. E, estando lá, você entende porque não podemos ter um futuro sem Pantanal.

Serra do Amolar

Foto: Ana Duék

11. Como ser um viajante responsável no Pantanal:

Em cada região do Pantanal você vai encontrar algumas regras e necessidades específicas, mas algumas delas valem para qualquer área:

  • Antes de mais nada, pesquise, leia, informe-se, saiba para onde está indo e o que precisa levar. Nada dá mais trabalho do que um turista desavisado!
  • Respeite as regras de observação de vida silvestre e não perturbe os animais! Lá eles são observados em seu habitat e comportamento naturais. Mantenha distância e evite barulhos que possam incomodá-los.
  • Todo cuidado é pouco nas trilhas. Não só pelos animais, mas também pela sua segurança. Esteja sempre acompanhado de um guia qualificado e certificado.
  • Acho que nem preciso dizer, mas não custa: cigarro e fogueira nas trilhas, nem pensar!
  • Lembre-se que o Pantanal não é só terra de bicho, mas também casa de muita gente. Procure saber mais sobre as pessoas e respeite o destino como se fosse a sua própria casa.
  • Muitas áreas do Pantanal são remotas, como a própria Serra do Amolar, portanto, a destinação adequada do lixo é complicada e cara. Evite o máximo de lixo que puder. Leve sua garrafinha retornável e seu kit lixo-zero.
  • Evitar produtos químicos e tóxicos também é o ideal. Antes de entrar no rio ou piscinas naturais, não use protetor solar, ou use um natural e biodegradável.
  • Faça questão de visitar uma comunidade local em sua viagem e veja como pode apoiá-la.
o que levar para o Pantanal

O que levar para o Pantanal? | Foto: Viajar Verde

12. O que não pode faltar na mochila (ou mala) para a Serra do Amolar:

  • Repelente!
  • Chapéu ou boné e protetor solar
  • Mochila de ataque
  • Casaco corta-vento para o barco (OBS: o vento de manhã cedo e no fim da tarde no barco é muito gelado! Recomendo levar também fleece ou casaco mais grosso e, no inverno, gorro ou gola para proteger as orelhas
  • Roupas claras ou coloridas de trilha (os mosquitos amam roupas escuras e picam até por cima da calça!)
  • Tênis ou bota de trilha
  • Roupa de banho (uma toalha esportiva também é uma boa)
  • Garrafinha de água (o Amolar Experience empresta uma durante a nossa estadia, mas vale confirmar antes)
  • Óculos claros (para proteger os olhos dos bichos e vento no fim da tarde/noite)
  • Lanterna (para a nossa programação, a lanterna do celular foi suficiente)

 

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Adventure Club – WhatsApp: (11) 5573-4142
TerraMundi – WhatsApp: (11) 3060-5824
Kampala Viagens – WhatsApp: (11) 2091-1647

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Sobre o Autor

Ana Duék

Jornalista de viagens com Mestrado em Gestão de Turismo e Hospitalidade pela Middlesex University (Londres). Desde 2015 defendendo um turismo mais consciente. Acredito que as viagens podem gerar mais impactos positivos para viajantes e para os destinos que nos recebem. Vamos descobrir como?

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