Não importa se você é iniciante ou veterano, esse roteiro de cicloturismo ecológico no Rio Grande do Sul trará uma experiência realmente única. Aqui, além de pedalar, você tem a oportunidade de conhecer a primeira Via Ecológica da América Latina, uma área de turismo rural que une sustentabilidade com tradição.
Conheça a Serra dos Tapes, no Rio Grande do Sul
A Serra dos Tapes é uma região montanhosa bem ao sul do Brasil, compreendendo Pelotas, Morro Redondo, São Lourenço do Sul e Canguçu. Na região está presente uma pequena parcela da Mata Atlântica e uma grande parcela dos pampas, formação geográfica que, no Brasil, encontramos apenas no Rio Grande do Sul.
Essa região é muito lembrada pela imagem dos gaúchos montados em seus cavalos, cuidando dos pastos. Mas, o que poucas pessoas sabem, é que este é o bioma menos protegido do Brasil, muito afetado pela intensiva agricultura e uso de agrotóxicos.
Como resposta à degradação nessa região, vem surgindo um intenso trabalho de regeneração e agroecologia, buscando empoderar a agricultura familiar, cuidando da sua saúde através da eliminação dos agrotóxicos em seus cultivos e incentivando o seu desenvolvimento.
Primeira Via Ecológica da América Latina
A Via Ecológica é um nome adotado por Leandro Karam, biólogo e ciclista que morava em Florianópolis e via as cidades como um ambiente muito agressivo para o ciclismo. Ele então procurou zonas rurais para promover pedaladas e, com seu olhar voltado para a sustentabilidade, acabava sempre fazendo as paradas em fazendas agroecológicas.
Leandro, em parceria com Meri Diana Strauss Foesch, engenheira florestal e doutora em agronomia, que está realizando um trabalho de agroecologia no RS, e Amanda Argou Cardozo, grande influenciadora da comunidade local, desenvolveram a Rota de Cicloturismo Via Ecológica Serra dos Tapes.
Hoje, a via é mais que um tradicional percurso turístico. É uma forma de levar o ciclista viajante a viver experiências únicas, aprendendo sobre ecologia com quem coloca as mãos na terra e incentivando a produção dos pequenos agricultores.
Como fazer o roteiro de cicloturismo ecológico no Rio Grande do Sul
Para fazer o roteiro de cicloturismo ecológico no Rio Grande do Sul você pode contar com a tradicional rota agroecológica da Via Ecológica Serra dos Tapes que tem a duração de 3 dias e 2 noites.
Quem pode fazer essa rota de cicloturismo?
Essa é uma rota que totaliza 125 km em uma área rural, com estradas secundárias e trilhas. Ela é indicada para todos os níveis de ciclistas, dos iniciantes até os mais experientes, lembrando que o objetivo é pedalar, mas também viver a experiência do turismo rural. Se você nunca tiver pedalado, não se preocupe. É possível fazer a rota, mas é importante se certificar que sua saúde física está em dia.
O roteiro conta com um carro de apoio para carregar as malas, mantimentos e, caso necessário, a bike e o ciclista. Meri Diana contou que, na primeira edição, duas amigas compartilharam a bicicleta, cada uma pedalando um trecho.
Como é o roteiro na Serra dos Tapes?
O roteiro de 3 dias e 2 noites conta com a pedalada e paradas estratégicas em produtores e empreendedores rurais, inclusive para pernoitar. Você vivenciará experiências como, visitar agrofloresta, ouvir a história de produtores tradicionais, andar de trator, experimentar alimentos orgânicos, visitar um túnel de pedra feito por escravos (este trecho tem uma pegada mais educativa e sociocultural).
Uma das paradas mais esperadas é visitar a liderança do grupo de trabalho de mulheres da agroecologia do estado, Dona Jurema, que transformou um paiol em secagem de café agroecológico. Ela dá uma aula da sua história e da agroecologia na região.
Sobre a Via Ecológica Serra dos Tapes
A Via Ecológica Serra dos Tapes é formada por ciclistas profissionais, que são também estudiosos da área de sustentabilidade e guias de turismo. Por isso, durante a sua viagem, você terá um acompanhamento completo tanto no ciclismo, como nas experiências.
Benefícios do cicloturismo consciente
O que me encantou nesse projeto e me fez dividir esse roteiro com vocês, é saber a seriedade das pessoas envolvidas e como essa rota pode ser um ponto de transformação pessoal para o viajante.
Praticar um turismo consciente, slow, feito com responsabilidade, ajuda o viajante a expandir sua consciência ambiental e social. Experiências assim são únicas e trazem impactos positivos que vão muito além da viagem.
Amanda, que hoje faz parte da equipe, começou a pedalar recentemente, compartilhou alguns dos impactos positivos que essa experiência trouxe para a sua vida.
- Minimalismo: carregar o mínimo do mínimo. Depois de estar um certo tempo na bicicleta, toda sua vida está na bike, aquilo passa a ser a sua casa, seu lugar. O desprendimento acaba sendo levado para a vida.
- Apreço ao simples: você percebe como a vida pode ser simples. Amanda surpreendeu com sua capacidade para várias coisas. Ela conta, por exemplo, que até aprendeu a descascar uma laranja com a boca, porque não tinha uma faca.
- Cooperação: você cria um vínculo de confiança com os parceiros de bike porque ali os ciclistas só têm uns aos outros. Você descobre rapidamente o valor das pessoas.
Sustentabilidade na prática
Meri Diana consegue compartilhar conhecimentos diversos sobre a natureza. Só quem já pedalou com ela consegue entender o nível de conhecimento que essa mulher tem. Eu, por exemplo, em uma oportunidade de ciclismo, descobri com a Meri Diana frutas nativas que estão bem na beira da estrada, mas passam despercebidas para quem está de carro ou não conhece as espécies. Profissionais assim podem levar o turismo, a sustentabilidade e a experiência de viagem para outro nível e espalhar lindas sementes por aí.
Por exemplo, duas profissionais, uma da nutrição e outra da medicina, ficaram extremamente tocadas com a vivência agroecológica. Essas duas mulheres, a partir desse encontro, desenvolveram um projeto de extensão na universidade diretamente ligada ao roteiro. Elas querem que os alunos sintam na pele que um outro mundo é possível, que comida sem veneno é possível, que vivenciem a agricultura familiar, com cabeça no sol, pé e mão na terra e aprendam sobre relações humanas.
Não sei você, mas ouvindo essas histórias me despertou logo a vontade de fazer esse roteiro de cicloturismo ecológico no Rio Grande do Sul. Vamos nessa?
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