Vida, movimento, contraste foi minha primeira impressão ao caminhar pela recém reestruturada Praça Mauá. Lugar renovado que em minhas lembranças era movimento, história (esquecida), contraste. Caminhar por ali é um convite a reencontrar a história, apreciar o conjunto arquitetônico e seus equipamentos culturais e sim: questionar a despoluição da Baía de Guanabara. Dentre os contrastes ali existentes este é o que mais me impacta. Desconforto que leva à reflexão. Somos todos responsáveis, população e poder público, em todas as suas esferas. Falta-nos educação, consciência e pró-atividade
para resolução das questões ambientais.
O Centro da cidade do Rio de Janeiro encontra muitos desafios nesta tentativa de reestruturação. Mudar nem sempre é fácil. Numa sociedade como a nossa “carro-centrista”, o planejamento urbano tem aos poucos devolvido as cidades às pessoas. Ruas projetadas para pessoas, priorizando os espaços de lazer, convívio e apreciação. Pedestrizar é tendência mundial. E no Rio caiu bem. Acesso e mobilidade sempre caem bem.
A restrição do uso de carros em alguns locais e o incentivo à utilização de outros meios de transporte, como: bicicleta, carros compartilhados, transportes de baixo impacto ambiental (o VLT, por exemplo) e a própria pedestrização têm impactos positivos na qualidade de vida no contexto urbano. Não é à toa que muitas capitais europeias tem aderido a este tipo de planejamento.
Há uma expectativa pela implantação do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), que promete um novo conceito de transporte de acordo com os padrões de sustentabilidade e acessibilidade. Movido a energia elétrica, com emissão reduzida de poluentes (pois não utiliza combustível fóssil), não gera poluição visual e sonora e ainda será adaptado para atender usuários com necessidades especiais. Surge como nova opção de veículo ecologicamente correto.
Não que o Rio de Janeiro vá se transformar numa Helsinque* da noite pro dia, porém acho válida essa transformação, favorecendo a mobilidade e devolvendo o Centro da cidade aos moradores e visitantes. Por exemplo, poder caminhar pela Orla do Conde**, observar a arquitetura, como a do antigo Armazém do Sal, sede do Comando do 1º Distrito Naval, que data do século XVIII, avistar os navios de guerra da Marinha atracados na Ilha das Cobras; poder vislumbrar o Museu do Amanhã, o Museu de Arte do Rio (MAR), o
Edifício Joseph Gire (conhecido como Edifício A Noite, tombado pelo IPHAN), é um experiência única. E esta conversa entre o clássico e o novo, entre passado e futuro sempre me atrai.
Reconstrução, movimento e contraste. Esta é a nova Praça Mauá ressurgindo em meio às obras de revitalização da Zona Portuária da cidade do Rio de Janeiro. Caminhe.
Notas:
*Helsinque, capital da Finlândia, tem um projeto de mobilidade urbana que pretende tornar o transporte público mais eficiente até 2025, reduzindo de suas ruas a presença de carros. Com o uso de tecnologia e aplicativos na internet pretende facilitar o acesso e a interligação entre os modais oferecidos.
**Orla do Conde: O caminho foi concedido pela Marinha do Brasil, como servidão de passagem para a circulação da população. O local, com 600 metros de extensão, à beira da Baía de Guanabara, facilitará o trânsito entre a Praça XV e a Praça Mauá. Nota da Marinha do Brasil à imprensa Orla
do Conde está disponível em: https://www1.mar.mil.br/com1dn/imprensa
***Através do site Porto Maravilha é possível acessar informações sobre o andamento das obras no entorno da Praça Mauá, sobre os equipamentos culturais, como a Igreja de São Francisco da Prainha (construída em 1696), visitas guiadas e calendário cultural.