Viajante Responsável Destino Brasil

Óleo no Nordeste: a mancha no turismo brasileiro

oleo no Nordeste
Foto: Victoria Gomes Leão
Escrito por Victoria Leão

Em uma breve busca no Google usando os termos “óleo”, “turismo” e “nordeste”, encontramos diversas matérias que tratam sobre o assunto nos principais portais de notícias. Algumas dizem que ainda é cedo para mensurar o tamanho do impacto no turismo, visto que o óleo no Nordeste começou a chegar no litoral no final do mês de agosto, considerado baixa temporada. Outras relatam que, caso as viagens sejam inviabilizadas, as agências de turismo já estão preparadas para oferecer pacotes para outros países que atendam a motivação sol e praia. Ainda há quem, felizmente, lembre dos(as) trabalhadores envolvidos direta e indiretamente na cadeia turística.

oleo no Nordeste

Foto: Victoria Gomes Leão

Passado o furor inicial de um fato fresquinho e cheirando a benzeno, a mídia local pouco tem falado sobre praias que ainda recebem óleo e, diferente do início, já não dá mais voz a cientistas, usuários, comerciantes, pescadores e marisqueiras sobre este problema ambiental. Além de não ser mais tão novidade assim, o calorão da primavera nos faz lembrar que o verão está batendo na porta e, com ele, a alta temporada do turismo. É tempo de por panos quentes nos fatos.

Existe um esforço sobre-humano de voluntários(as) atuando na limpeza das áreas afetadas. A motivação para ficar horas exposto ao sol e pôr em risco a própria saúde perpassa pela necessidade de sobrevivência e/ou pela relação afetiva com as praias. Porém, ainda que ocorra um esforço – diga-se de passagem feito predominantemente pela sociedade civil – para remoção das manchas, o conhecimento ainda inicial sobre o tema nos mostra que, por mais que a areia e a zona de arrebentação estejam visualmente limpas, o óleo no Nordeste pode estar depositado nas camadas de sedimentos e nos corais, além de estar dissolvido na água, formando uma película superficial, e no organismo de animais marinhos.

Foto: Victoria Gomes Leão

Há um ditado que diz “O que os olhos não veem o coração não sente”, e parece que essa é a forma de lidar com o assunto que órgãos ambientais em todas as esferas públicas optaram. O Trade turístico chama de sensacionalismo as recomendações para evitar o banho de mar e consumo de pescados. Ainda há quem durante uma caminhada na areia pise em pelotas e ache que não vai causar nenhum mal.

Nos bastidores do glamour do turismo estão os trabalhadores de barracas de praia, meios de hospedagem, restaurantes e ambulantes que, somados aos mais de 140 mil pescadores e marisqueiras, engrossam a fila dos diretamente afetados e quase sem alternativa. O propósito deste texto não é o de criar um movimento anti-viagens para o Nordeste e sim que seja possível ponderar os fatos, exercer a empatia com as pessoas citadas anteriormente e estar em alerta sobre a real situação.

O turista responsável diante dessa situação possui a compreensão de que, por mais que não possa entrar no mar, pode ajudar a recolher o óleo, usar sua voz para que pessoas do seu local de origem tomem conhecimento da situação, ajudar a arrecadar doações para compra de EPIs e cestas básicas, fazer da sua visita uma forma de apoiar as comunidades impactadas e mostrar que, ainda que haja um abandono dos órgãos oficiais, a cooperação entre seres humanos é o que irá mudar os rumos desse planeta.

 
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Sobre o Autor

Victoria Leão

Victoria Leão é nascida no Rio de Janeiro, porém fixou residência e o coração em Salvador, Bahia. É Bacharel em Turismo e Hotelaria e atualmente cursa Especialização em Planejamento Urbano e Gestão de Cidades. A crença de que é possível fazer um turismo limpo sempre impulsionou a busca pelo conhecimento das questões socioambientais e culturais.

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