Viajante Responsável

Porque favela também é lugar de fazer turismo?

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Foto: Viajar Verde
Escrito por Ana Duék

O assassinato de uma turista espanhola por um policial, na última semana, na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, fez ressurgir uma série de debates, mitos e tabus sobre o turismo em favelas. Observar os comentários de brasileiros em redes sociais e matérias na internet é ver que ainda falta compreensão sobre porque essa atividade existe e, principalmente, sobre o que é uma favela.

Assim como tantos outros lugares da cidade, as favelas são hoje importantes atrativos turísticos do Rio de Janeiro porque reúnem uma rica essência cultural e a autenticidade da vida de mais de 2 milhões de pessoas. Não é à toa que elas atraem tanto os viajantes internacionais. Em uma pesquisa que fiz em 2011 para meu mestrado, ficou clara a diferente percepção que brasileiros e extrangeiros têm das favelas: 60% dos brasileiros consultados veem as comunidades como um atributo negativo do Rio, enquanto apenas 37% dos estrangeiros as enxergam como um problema.

Conversamos com alguns profissionais para entender porque a favela não é sinônimo de violência, mas de coletivo social e cultural, e o que ela tem de tão interessante para se conhecer. Lembrando que visitar uma favela de maneira responsável, conhecendo as pessoas que vivem lá e contribuindo para seu desenvolvimento econômico, é não só muito mais incrível e enriquecedor para o turista, como também uma oportunidade de incentivar que essas pessoas sejam incluídas no mercado de trabalho, ao invés de serem marginalizadas.

Confira:

Adam Newman, diretor da Favela Experience:

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🌎”A favela é um lugar único, patrimônio brasileiro, base de entendimento da história e das influências principais no desenvolvimento da identidade cultural do país. Na favela encontra-se tudo que você pode imaginar… inspiração, alegria, inovação, coletividade, dificuldade, tristeza… enfim, é um reflexo real da verdadeira vida brasileira, desenvolvida através de espontaneidade e sobrevivência. A favela é um lugar mal entendido, institucionalmente excluído da sociedade ‘comum’. O turismo responsavelmente feito, é uma ponte esencial entre “o morro e o asfalto”, que permite um intercâmbio mutualmente benéfico que promove empatia, quebra preconceitos e facilita a colaboração entre povos desconhecidos”

Marianne Costa, fundadora da Vivejar:

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👪”Favela nada mais é do que COMUNIDADE. Um grupo de pessoas que por questões históricas, sociais e culturais, muitas vezes por falta de escolha e oportunidade, se reuniram buscando a sobrevivência de forma conjunta. Só aí já teríamos muita experiência para trocar. Mas a diversidade de pessoas, de histórias, de vocações, de saberes e fazeres faz de cada FAVELA uma manifestação sociocultural ÚNICA, tornando cada um destes espaços atrativos turísticos diferenciados, cravados no meio de centros urbanos de fácil acesso, não só para o turista, mas também para todos os problemas sociais como violência, ausência de serviços básicos, etc.

Favela é lugar de se fazer turismo comunitário; que envolve a comunidade como protagonista e não como espectadora; que traz o turista responsável, que deseja interagir, conhecer, vivenciar. Porque é lá que se conhece gente que está sobreVIVENDO de forma inovadora, criativa, alegre e cheia de lições de vida para aqueles que estão dispostos a reconhecer o seu lugar de privilégio, sair dele e se abrir para uma experiência de aprendizado, humildade e transformação”

Erik Martins, coordenador na Rocinha by Rocinha:

favela💟”Favela também faz parte da cidade, também tem história, é rica culturalmente. A favela é fruto de muita luta, muita resistência. É um lugar dinâmico, pulsante, onde a vida acontece de verdade. É na favela que você compreende o porquê do brasileiro ser tão inventivo, tão criativo, e inclusive receptivo. É onde você compreende os problemas do Brasil e onde ele deve melhorar. E, acima de tudo, é um lugar que, dependendo da maneira que lhe é apresentado, pode te surpreender com o tamanho de seu valor. Desde as pessoas até o lugar em si. Dependendo da favela, dependendo de como é mostrado”

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Sobre o Autor

Ana Duék

Jornalista de viagens com Mestrado em Gestão de Turismo e Hospitalidade pela Middlesex University (Londres). Desde 2015 defendendo um turismo mais consciente. Acredito que as viagens podem gerar mais impactos positivos para viajantes e para os destinos que nos recebem. Vamos descobrir como?

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