por Mariana Madureira
Você já ouviu falar em produção associada ao turismo? São as atividades e os produtos que geram renda para determinada região ou localidade atendendo, além dos locais, o público visitante, como eventos culturais, a gastronomia e a venda de artesanatos. Esse é um dos benefícios que pode ser trazido por meio do turismo comunitário, inclusive nas comunidades quilombolas brasileiras.
Essa prática de turismo, também chamada de etnoturismo ou mesmo etnoturismo de base comunitária, visa o desenvolvimento sustentável da região. Se preocupa, por exemplo, em manter o estilo de vida local, respeitar a arte cultura e tradições. Os turistas ficam ali imersos, presenciando o cotidiano daquelas pessoas, seus valores e práticas se integram àquele cenário, fazendo parte dele por alguns dias. É uma experiência rica que exige do visitante maturidade, respeito e abertura para um encontro mais profundo com o outro.
Origens quilombolas
São muitos os reflexos da escravidão que ainda estão vivos no Brasil, infelizmente. Nem precisamos falar do racismo, que muitos insistem em dizer que não existe. Quem nos dera essa fosse a realidade. A verdade é que resquícios do sistema escravagista existem ainda no mundo inteiro. E no Brasil ele vigorou até 1988. São apenas 130 anos de “liberdade” dos descendentes dos 3,5 milhões de homens e mulheres prisioneiros que vieram do continente africano.
O Território Remanescente de Comunidade Quilombola é uma conquista recente e para muitas comunidades, uma luta ainda em curso. A Fundação Palmares já reconheceu 3.040 comunidades quilombolas e grande parte delas já recebeu também o cadastro do Incra garantindo seu direito à terra. Para atestar essa ancestralidade, a Fundação Palmares usa critérios de auto atribuição, como também adotado pela Convenção da OIT sobre Povos Indígenas e Tribais.
A luta pelo direito à permanência é uma parte do todo. A gestão sustentável do território é um desafio perene. O turismo desenvolvido de forma sustentável e com o protagonismo da comunidade, pode ajudar.
E por que o turismo comunitário é bom?
O turismo comunitário pode contribuir com o fortalecimento do capital social, na medida em que demanda autogestão e compartilhamento entre as pessoas interessadas em se envolver na atividade.
Além disso, além dos recursos advindos das hospedagens em pousadas coletivas ou receptivos familiares, há a renda da produção associada ao turismo, sobre a qual abrimos esse artigo comentando. Estima-se que 8,5 milhões de brasileiros vivam hoje da produção artesanal, de acordo com um estudo de 2002 do Banco do Nordeste, sendo responsável por 2,8% do PIB nacional. Segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (ABRASEL) e a Associação Brasileira de Empresas de Eventos (ABEOC), os setores correspondem a 2,7% e 4,32%, respectivamente.
Assim, o turismo comunitário é bom justamente por incentivar essas comunidades quilombolas a se manterem sendo o que são, e gerando recursos para adquirir os bens que não produzem e arcarem com outros custos, inclusive de manejo sustentável das terras. O turismo comunitário movimenta a economia local e, consequentemente, de todo o país, atrai turistas nacionais e estrangeiros e tudo isso pode ser feito de maneira sustentável e ordenada, sem os grandes danos causados pelo turismo de massa – a começar pela experiência do próprio viajante.
No Brasil temos algumas comunidades quilombolas que se destacam por já estarem recebendo turistas de forma autônoma e com total protagonismo. Vamos falar sobre elas por aqui muito em breve.
artigo publicado originalmente no blog da Raízes Desenvolvimento Sustentável