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Por que o Brasil precisa de mais programas de gestão de praias?

gestão de praias

A paixão do Brasil pelas praias e seu apelo turístico ainda não são suficientes para que as regiões costeiras tenham uma gestão planejada e sustentável, que ofereça segurança e conforto para visitantes e comunidades e garanta a preservação dos ecossistemas locais. Com um dos mais extensos litorais do planeta, o Brasil tem praias lindíssimas mas se preocupa muito pouco em cuidar delas. Não precisamos ir muito longe para ver que iniciativas de cuidado e gestão de praias e regiões costeiras podem ser a solução para muitos problemas de cidades litorâneas e ainda para a grande questão do lixo nos oceanos.

É o caso do programa internacional Bandeira Azul, que tem como objetivo conscientizar cidadãos e tomadores de decisão para a necessidade de se proteger o ambiente marinho e costeiro e incentivar a realização de ações pela sustentabilidade destes lugares. “Um bom programa de gestão de municípios turísticos costeiros é de vital importância para a manutenção da qualidade ambiental e dos serviços oferecidos aos visitantes”, lembra a coordenadora nacional do Bandeira Azul, Leana Bernardi.

Veja na nossa entrevista com a coordenadora porquê precisamos investir em mais programas de gestão de praias:

Viajar Verde – O que podemos entender por gestão responsável de uma praia ou região costeira?

Leana – Podemos entender por gestão responsável de uma praia aquela na qual a legislação é respeitada em todos os seus aspectos. Só assim teremos uma praia ambientalmente equilibrada com serviços e equipamentos adequados e seguros, permitindo o convívio harmonioso entre residentes e visitantes.

VV – Em um país como o Brasil, onde destinos de praia são talvez os mais procurados por turistas, qual a importância de serem desenvolvidos mais programas de gestão de praias, proteção do ambiente marinho e conscientização de moradores e visitantes?

Leana – O turismo no Brasil além de sazonal acontece com muito pouco planejamento. As cidades costeiras ficam lotadas nos meses do verão e carecem de planejamento adequado para atender estes visitantes. Os sistemas de saneamento não são planejados para atender esta demanda, o abastecimento de água e energia também muitas vezes é deficitário. A mobilidade dos municípios costeiros também carece de planejamento para atender esta demanda sazonal. Um bom programa de gestão de municípios turísticos costeiros é de vital importância para a manutenção da qualidade ambiental e dos serviços oferecidos aos visitantes. Vemos com muita frequência praias se tornarem famosas do dia para a noite. Seus recursos são explorados a exaustão até que outra praia se torne o destino do momento. Sem planejamento estas comunidades são tomadas de assalto e quando o fervor passa são deixadas atônitas esperando por uma ação do poder público. Infelizmente não é nossa cultura avaliar, planejar e executar.

VV – Em que região ou destino do Brasil essa necessidade é mais crítica hoje?

Leana – De forma diferente, porque cada região tem características geográficas e culturais diferentes, esta necessidade se vê de norte a sul, salvo raríssimas exceções que podem ser encontradas em todas as regiões.

VV – Que tipo de programas ou iniciativas têm real eficácia na conscientização e na preservação das regiões costeiras? Você pode citar um exemplo de sucesso no Brasil? E no mundo?

Leana – Existem hoje no Brasil duas iniciativas que propõem a gestão compartilhada da costa. O Projeto Orla e o Programa Bandeira Azul. O Projeto Orla é uma iniciativa do governo federal e o Programa Bandeira Azul é uma proposta internacional gerida por uma organização não governamental (Instituto Ambientes em Rede).

VV – O Brasil tem um dos litorais mais extensos do mundo. Qual o nosso papel (cidadãos e tomadores de decisão) na solução para a questão do lixo e do plástico nos mares?

Leana – O papel é de todos. Cada ente tem sua cota de responsabilidade nestes espaços. São os governos: federal, estaduais e municipais que devem garantir o cumprimento a legislação, livre acesso e segurança nestes espaços. E cabe a todos os usuários (comunidade e visitantes) o comportamento adequado e condizente com ambientes naturais. Em se tratando de marinas e embarcações de turismo cabe ainda aos empresários estarem regularizados e promover a gestão adequada dos espaços onde atuam.

VV – Quais são as responsabilidades dos operadores de embarcações turísticas e como eles também fazem parte da gestão sustentável do destino?

Leana – A responsabilidade dos operadores de embarcações de turismo está em garantir que suas empresas estejam regularizadas e cumpram as normas referentes as atividades que desenvolvem. É muito importante que durante estas atividades os clientes recebam informações sobre os ambientes e a cultura local. O conhecimento promove o cuidado.

VV – O que representa para uma praia, embarcação ou marina uma certificação como a Bandeira Azul?

Leana – A Bandeira Azul é uma premiação concedida a praias, marinas e embarcações de turismo que reconhece os esforços de seus gestores em promover ambientes e serviços de qualidade. Ser premiado com a Bandeira Azul traz muita visibilidade nacional e principalmente internacional.

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Sobre o Autor

Ana Duék

Jornalista de viagens com Mestrado em Gestão de Turismo e Hospitalidade pela Middlesex University (Londres). Desde 2015 defendendo um turismo mais consciente. Acredito que as viagens podem gerar mais impactos positivos para viajantes e para os destinos que nos recebem. Vamos descobrir como?