Viajante Responsável

8 destinos que estão fechando as portas por causa do overtourism

overtourism
Foto: Laurentiu Morariu
Escrito por Ana Duék

Desde 2011, o Equador estabelece um limite de quatro noites e cinco dias para qualquer visitante nas Ilhas Galápagos. A visitação está limitada a algumas áreas e turistas precisam respeitar várias regras. Não é novidade por lá a proposta de um turismo consciente, que ajuda a preservar a natureza e a cultura local. Depois de as ilhas já terem figurado na Lista de Patrimônio Mundial em Perigo da Unesco, elas conseguiram reequilibrar seu ecossistema.

Em muitos outros destinos pelo mundo, porém, o excesso do número de visitantes, ou overtourism, continua sendo um grande pesadelo para moradores, meio ambiente, patrimônios arquitetônicos e culturais e até mesmo para turistas e operadores. Mas muita gente ainda se sente feliz em uma Veneza lotada de cruzeiristas ou em uma Ilhabela com praias cheias de veranistas. Para essas pessoas é difícil entender quando um destino decide impor taxas de permanência, como Jericoacoara, ou limitar o número de visitantes. Mais difícil ainda quando ele fecha suas portas.

Pois essas têm sido algumas das soluções que importantes destinos turísticos têm encontrado para balancear o overtourism e o alto volume de visitantes com o equilíbrio da qualidade de vida local. Confira oito deles:

1. Maya Bay, Tailândia

Famosa pelo filme A Praia, estrelado por Leonardo Di Caprio, Maya Bay é um dos destinos mais procurados por turistas na Tailândia. Durante o verão, a praia chegava a receber 5 mil visitantes por dia. Seu sucesso acabou sendo seu fracasso. O excesso de turistas e poluição acabou com a fauna marinha e chegou a destruir 80% dos corais. Em abril de 2018, as autoridades locais anunciaram que a praia seria fechada por tempo indeterminado para reverter décadas de danos ao ambiente. Em apenas 6 meses, os tubarões voltaram a circular no lugar. Por enquanto, os barcos turísticos só têm permissão para entrar a até 300 metros da baía e as autoridades ainda não sabem quando vão reabrir a praia. Em 2017, a Tailândia já tinha fechado as ilhas de Koh Khai Nok, Koh Khai Nui, e Koh Khai Nai para visitantes.

número de visitantes

Foto: Expedia

2. Ilha Komodo, Indonésia

A famosa ilha que abriga os dragões de Komodo deve fechar suas portas depois que autoridades descobriram pessoas roubando e vendendo os animais por  € 35.000. A visitação deve ser interrompida em janeiro de 2020 ainda sem data para reabertura. Durante o fechamento, os conservacionistas vão examinar o suprimento de alimento dos lagartos, trabalhar na preservação de espécies de plantas endêmicas e pesquisar o ambiente natural dos dragões. As autoridades esperam que o fechamento ajude a aumentar a população de dragões de Komodo, considerados a maior espécie de lagarto do mundo.

overtourism

Foto: Indonesia Travel

3. Ilha de Boracay, Filipinas

A pequena e paradisíaca ilha de Boracay, nas Filipinas, ficou fechada durante seis meses em 2018 e passou por uma limpeza. Pelo menos cerca de 300 hotéis locais ignoravam a legislação de saneamento e o governo não fazia nada para puní-los. Com as más práticas o nível de coliformes na água do mar cresceu absurdamente. A ilha reabriu para visitantes ainda no fim de 2018, mas limitando o número de turistas e com novas regras. Entre elas foi abolido o uso de plásticos descartáveis em toda a ilha e as festas na praia estão proibidas.

número de visitantes

Foto: Wikipedia

4. Parque Estadual do Ibitipoca, Brasil

Desde o início de abril de 2018, um acordo entre o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e o Instituto Estadual de Florestas (IEF) estabeleceu que o famoso Parque Estadual do Ibitiboca, em Minas Gerais, reduziria o número de visitantes, passando a receber 600 pessoas, e não mais 1.200, por dia. Segundo o Ministério Público, a visitação desordenada causava danos ao meio ambiente de difícil ou impossível reparação. Agora o IEF vai realizar algumas melhorias no parque a fim de preservar os ecossistemas. Ibitipoca é a unidade de conservação mais visitada de Minas Gerais. De acordo com o IEF, o parque recebeu 72.326 visitantes somente entre janeiro e julho de 2017.

Fila para entrada no Parque Estadual de Ibitipoca | Foto: Viajar Verde

5. Machu Picchu, Peru

A cidade perdida dos Incas tornou-se já há algum tempo o lugar mais visitado do Peru, com números que ultrapassam 1 milhão de turistas ao ano. Desde 2015, o governo vem tentando reorganizar a visitação e preservar o local com um plano de investimentos. A partir de janeiro de 2018 as medidas ficaram ainda mais efetivas com os ingressos sendo vendidos separadamente para os turnos da manhã ou da tarde (antes era possível comprar um ticket e passar o dia inteiro no local). Agora também só é permitido entrar com guias credenciados e são liberados grupos de 100 pessoas a cada 10 minutos. Por isso, é importante garantir seu ingresso com antecedência.

Confira como visitar Machu Picchu com as novas regras

número de visitantes

Foto: Viajar Verde

6. Taj Mahal, Índia

O mais famoso ponto turístico da Índia, o Taj Mahal, também anunciou um limite de 3 horas para cada visitante dentro do templo, que entrou em vigor em 1 de abril de 2018. A proposta é evitar o excesso de turistas, overtourism. O Taj Mahal chega a atrair 50 mil visitantes por dia e alguns deles às vezes passam o dia inteiro por lá. Ainda não há planos para limitação no número de visitantes, mas a alternativa não é descartada.

número de visitantes

Foto: Shutterstock

7. Cinque Terre, Itália

A pequena região de Cinque Terre, na Líguria, norte da Itália, é outra que decidiu tomar cuidado com o overtourism. Desde o verão de 2016 criou um sistema de passes que limita o número de visitantes. O aumento do número de cruzeiros foi um dos principais motivos para a iniciativa, que visou reduzir o número de turistas anual pela metade.

número de visitantes

Praia de Monterosso Al Mare, em Cinque Terre, lotada durante o verão | Foto: Shutterstock

8. Butão

O Butão, que sempre se orgulhou de ser considerado o país com maior índice de felicidade, também se orgulha de fazer um turismo de qualidade, e não de quantidade. Exceto indianos, maldivenses e bengaleses, pessoas de todas as outras nacionalidades precisam adquirir um visto para entrar no país e fazer suas reservas com um operador oficial do Butão. Também é preciso pagar um valor mínimo diário, estabelecido pelo Reino do Butão, por meio de transferência bancária para o Conselho de Turismo do país. Somente 155,121 turistas visitaram o Butão em 2015.

número de visitantes

Foto: Tourism Council of Bhutan

 

Gostou desse conteúdo? Então compartilhe!

Sobre o Autor

Ana Duék

Jornalista de viagens com Mestrado em Gestão de Turismo e Hospitalidade pela Middlesex University (Londres). Desde 2015 defendendo um turismo mais consciente. Acredito que as viagens podem gerar mais impactos positivos para viajantes e para os destinos que nos recebem. Vamos descobrir como?